“Se eu tivesse uma casa minha mesmo já teria saído daqui”, declarou Analice Dias, uma das moradoras do bairro Seis de Agosto que aguardavam o caminhão da Defesa Civil para fazer o transporte dos poucos pertences que conseguiu carregar quando as águas do Rio Acre começaram a invadir seu lar. A primeira grande cheia do ano desalojou 8 famílias dos bairros Airton Sena, Seis de Agosto, Baixada da Habitasa e Triângulo Novo. Quando se preparavam para voltar para casa, na última sexta, o rio voltou a subir. Até às 18h de ontem, mais de 160 famílias já haviam sido levadas ao Parque de Exposições Mal. Castelo Branco.
A capacidade de atendimento é flexível com as adaptações dos espaços de negócios existentes, podendo alcançar 400 famílias acolhidas na chegada pelas equipes da Secretaria de Ação Social. São realizados cadastro social e familiar, inventário dos bens móveis transportados para o parque e encaminhamentos para a unidade de saúde fixa instalada no local. Abrigadas no parque, as famílias recebem ainda alimentação gratuita, água potável, limpeza dos boxes realizada pela Semsur e acompanhamento individual. “Algumas dessas pessoas chegam aqui com algum conflito familiar, problemas de saúde, mas temos que dar toda a assistência”, explica a secretária de Ação Social, Estefânia Pontes.
O relatório da Coordenadoria de Defesa Civil do Estado indicava que o nível do Rio Acre sobe desde Assis Brasil. Em Brasiléia, a situação é de alerta com o rio acima dos 10 m e em Xapuri, o rio ultrapassa a cota de transbordamento chegando a 14,16 metros. Em Rio Branco até às 18h de ontem o rio estava em 15,24m. A equipe que coordena o plano de contingência da prefeitura estima que mais famílias deverão ser encaminhadas ao Parque de Exposições até esta terça.
População atingida reclama da demora de equipes para o transporte de móveis
Um grupo de moradores do bairro Seis de Agosto fechou a quarta ponte no início da manhã de ontem, em protesto contra a demora das equipes da Defesa Civil. Muitas delas aguardavam os caminhões para fazer o transporte de móveis e outros utensí-lios desde a noite de domingo.
O plano de contingência previa a retirada imediata dos moradores dos bairros normalmente atingidos, mas o coordenador da Defesa Civil municipal cel. Gilvan Vasconcelos reconheceu o número reduzido de homens para a ação. “Domingo estávamos com 10 equipes. Hoje, estamos com 6 e fazendo contato com o pessoal do Deracre para conseguir reforços”, disse.
Para Maria Lucilene Vieira, moradora do Beco da Invernada, no bairro Baixada da Habitasa, a ajuda ‘demorou, mas chegou’. Ela lamenta ter perdido a cama e outros móveis que não conseguiu levar para o parque. Conformada, contou que esta é a segunda vez que precisa sair de casa durante a cheia do rio e que desde sexta se preparava para pedir ajuda à Defesa Civil. “Vi a água chegando, mas preferi esperar. Ficou um monte de coisas minhas lá. O que posso fazer?”
Proprietários de barcos particulares e de caminhões de frete cobraram entre R$ 15 e 50 para transportar móveis e moradores atingidos. “Eu não tenho dinheiro. Se tivesse já teria saído daqui por contra própria. Não agüento mais esperar. Já faltei no trabalho”, diz Analice Dias que não tinha a menor idéia de quando seria transferida para o parque. Quanto à manifestação dos moradores do bairro Seis de Agosto, o coordenador de Defesa Civil pediu que a população tivesse pa-ciência que todos serão atendidos na medida do possível. (G.P.)
Jovem desaparece em banho no rio
O Rio Acre atraiu centenas de pessoas durante o fim de semana. Elas aproveitaram o volume das águas para passeios de lancha, Jet ski, lavar carros e até tomar banho. Crianças e jovens arriscam-se pulando das pontes sobre o rio localizadas na região central da cidade. Durante uma destas brincadeiras, o jovem Yuri Felipe Souza desapareceu nas águas do rio, às 15h de domingo. Uma equipe do Corpo de Bombeiros foi chamada e começou as buscas às 10h de ontem. Um dos bombeiros chegou a mergulhar no local onde o garoto foi visto pela última vez. Até a tarde de ontem, o corpo do rapaz ainda não havia sido localizado.
A tia de Yuri, Maria Otília de Souza, disse que um dos garotos que estava com o sobrinho contou que ele desapareceu nas águas do rio depois de reclamar que estava sentindo câimbra nas pernas. Morador do Bosque, o jovem foi passar o domingo na casa da tia que mora na Base. “A mãe dele se conformou com a perda e está vivendo da fé que o corpo seja encontrado”. Próximo à ponte Juscelino Kubistchek o batelão Rio Caeté está ancorado desde domingo com a missão de retirar os balseiros (galhos, troncos e até árvores inteiras que são arrancados das margens). Um barco auxiliar ajuda na retirada do material que acaba por obstruir o fluxo do rio. Grandes embarcações não conseguem passar sob a ponte metálica. (G.P.)
Friale prevê que o rio continuará subindo até quarta
Com base em estudos meteorológicos e no volume de chuvas acima do previsto que caiu sobre as cabeceiras no final de semana, o pesquisador Davi Friale prevê que o Rio Acre deve continuar apresentando altas até quarta-feira, 13. Segundo ele, o volume recebido pelas nascentes ainda não foi totalmente desaguada no trecho do rio que corta a Capital, portanto, nos próximos dias é pouco provável que o rio venha a perder o seu volume.
Caso a cabeceira pare de receber tantas chuvas como a dos últimos dias, ele estima que o rio finalmente deva começar a sofrer algumas vazantes significativas a partir de sexta. (T.M.)