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Cheia do Rio Acre já deixa mais de mil desabrigados

O Rio Acre se comportou de forma inesperada neste ‘inverno amazônico’ – quando chegou a níveis considerados baixos para o período – e não pára de surpreender ribeirinhos, seringueiros e a população das cidades que cresceram às suas margens. Onze bairros de Rio Branco, 13 comunidades rurais da região, em torno de 300 famílias transferidas para o Parque de Exposições Mal. Castelo Branco e outras centenas alojadas em casas de parentes e amigos estão sendo afetadas diretamente pela cheia do rio.

E tudo isso acontecendo em pelno mês de abril, quando, segundo dados da Defesa Civil, não há registros históricos nos últimos 40 anos de ‘alagações’. Até a tarde de ontem, a régua do rio já havia ultrapassad 15,50m de profundidade, obrigando o prefeito de Rio Branco, Raimundo Angelim, a decretar Situação de Emergência em áreas urbanas e rurais.

Uma pequena cidade surge às pressas com centenas de novos moradores e uma equipe imensa de profissionais para atender as primeiras necessidades de quem ficou sem a referência do lar, de uma hora para outra. Crianças, jovens, adultos e idosos tentam se encaixar em meio ao inesperado e à convivência forçada com pes-soas de outras comunidades que compartilham a mesma situação.

A Secretaria de Ação Social do município coordena as ações de acolhimento, divisão de tarefas, organização do espaço, encaminhamento ao atendimento de saúde, contagem de abrigados, preparo e distribuição de alimentos, água potável e atividades lúdicas com o apoio de dezenas de parcerias institucionais.

Até o meio-dia de ontem, havia no local quase 1 mil pessoas e a previsão da coordenadoria de Defesa Civil Municipal era de que até a noite este número crescesse à proporção que o rio subisse. “O rio está subindo 5 cm a cada 3 horas. A expectativa é que o número de famílias que precisem vir para o parque aumente bastante também”, disse Gilvan Vasconcelos, coordenador de Defesa Civil. Dezessete equipes totalizando 200 pessoas faziam o trabalho de retirada das famílias dos bairros atingidos e um número grande de pessoas pagavam o frete por conta própria para sair mais rápido das regiões alagadas. Do bairro Taquari até o parque, os freteiros cobram em média R$ 50,00.

O governador Tião Viana, que esteve no abrigo público na manhã de ontem, convocou os proprietários de barcos e caminhonetes para ajudar no transporte e na remoção das famílias. Diante da situação, ele afirmou que o Governo do Estado se compromete a pagar pelo serviço. Quem precisar de ajuda para sair de áreas alagadas e transportar os pertences deve ligar para o número 190 e aguardar a chegada das equipes da Defesa Civil.

Solidariedade
A sociedade se organiza para ajudar as vítimas da enchente do Rio Acre. Um grupo de profissionais de áreas diversas que utilizam o twitter promoveu arrecadação de alimentos que serão doados às famílias abrigadas no parque. A assessoria do Governo do Estado informou que a arquiteta Marlúcia Cândida, esposa do governador Tião Viana, convidou alunos do curso de Serviço Social da Uninorte e da Faao para atuarem como voluntários. Uma campanha envolvendo postos de combustível e líderes religiosos deverá ser desencadeada para arrecadar alimentos. O Rotary Club doou fraldas e prepara outras ações solidárias.


Moradores do 6 de Agosto querem sair logo do lugar
“Dizem que o pessoal do 6 de Agosto é chato, mas é que nós moramos na vala. A gente tá pedindo socorro. Quando é que vai (sic) sair nossas casas?”, pergunta a dona-de-casa, mãe solteira de três filhos Cliciane Silva Lima ao governador Tião Viana durante a visita dele ao parque. Ela diz que seria uma das beneficiadas com uma moradia do Conjunto Ilson Ribeiro, local invadido por centenas de pessoas e alvo de desapropriação com uso de aparato policial há cerca de 15 dias. Tião Viana informou à dona-de-casa e aos demais moradores do bairro que o cercaram em seguida que no dia 10 de maio serão entregues as primeiras 445 das 2 mil casas que o governo pretende entregar em 2011 como continuidade ao programa iniciado com o governador Binho Marques que prevê a construção de 10 mil casas populares.

“Esta é uma realidade do Brasil e da América Latina. No Acre temos 36 mil pessoas cadastradas que moram em áreas de risco, que têm prioridade para receber uma casa. Vamos continuar com este trabalho”, diz Tião Viana afirmando que paralelo a isto é preciso mudar estes locais de risco de alagamentos em áreas de “franca desocupação e transformá-las em áreas de preservação am-biental”. Ao ser questionado sobre a demora na entrega das unidades habitacionais, Tião Viana explica que o governo não pode destinar casas inacabadas à população e que as obras estão passando por intensa fiscalização para que as empresas cumpram o prazo. “Diz aí pra eles agilizar isso que a gente tá cansado de sofrer”, diz Cliciane Lima.

Centro de Zoonoses já recebe número de animais acima do ano de 2010 inteiro
A estimativa da coordenação do Centro de Controle de Zoonoses de Rio Branco era receber número de animais igual ao registrado durante cheia do Rio Acre em 2010 quando 32 cães foram alojados no canil preparado dentro do parque e no CCZ, mas até ontem 48 animais estavam cadastrados sob os cuidados do centro. Os irmãos Diego e Diogo Lemos, que moram no bairro Triângulo Novo, aguardavam na fila para cadastrar a cadela Bela.

Ao receber o animal, o CCZ faz uma foto dele junto ao dono para facilitar o reconhecimento no ato da entrega e aplica vermífugo antes de selecionar por idade e porte. Os filhotes e de pequeno e médio porte ficam no parque e os adultos de grande porte são encaminhados para o canil do Centro que está sendo adaptado para receber um número maior de hóspedes. “Estamos nos readequando. Todos os que chegarem aqui terão abrigo”, garante a coordenadora do CCZ Micheline Dantas.

Prefeito Raimundo Angelim transfere seu Gabinete para  o Parque de Exposições
O Gabinete do Prefeito Raimundo Angelim agora está instalado no Parque de Exposições da Expoacre, abrigo de mais de 1.000 pessoas desalojadas pela cheia do Rio Acre. A transferência se deu na manhã de ontem, 12, logo depois que o prefeito decretou situação  de emergência nas zonas urbana e rural  de Rio Branco. A medida visa facilitar o acompanhamento das operações de apoio às famílias que tiveram suas casas tomadas pela água.

Por volta do meio-dia, Angelim reuniu assessores diretamente envolvidos com o atendimento às famílias, como o coordenador municipal de Defesa Civil, coronel Gilvan Vasconcelos; a secretária de Cidadania e Assistência Social, Estefânia Pontes; o diretor-presidente da Empresa Municipal de Urbanismo (Emurb) Jackson Marinheiro; o secretário de Serviços Urbanos, Cezário Braga; Oly Duarte, assessor de Imprensa; a secretária de Obras, Cláudia Cunha e Dora Araújo, assessora de Gabinete. A reunião definiu novas ações do Plano de Contingenciamento Contra Enchentes. Em seguida, Angelim despachou normalmente.

Em seu artigo 4º, o decreto autoriza a  convocação de voluntários para reforçar as ações de resposta à situação emergencial e a realização de campanhas de arrecadação de recursos, junto à comunidade, com o objetivo de facilitar as ações de assistência à população afetada pela enchente. O prazo de vigência do decreto é de 30 dias mas poderá ser prorrogado até  180 dias. (Ascom PMRB)

Vereadores visitam bairros afetados pela inundação
JORGE NATAL

Depois de suspenderam a sessão, os vereadores foram ontem às regiões mais afetadas pela cheia do Rio Acre, notadamente os bairros Seis de Agosto e Triângulo Novo. A solidariedade aconteceu depois do decreto da situação de emergência em 22 áreas das zonas urbana e rural de Rio Branco. O nível do Rio Acre atingiu a marca de 15,60m, superando a cota de transbordamento em mais de 1,50m.

Alguns parlamentares não pouparam críticas ao plano de contingências da prefeitura e Governo do Estado. Marcelo Jucá (PSB) disse que o poder público deveria ter se preparado para evitar o que ele chama de ‘constrangimento’, referindo-se a móveis e utensílios domésticos deixados às margens das ruas. “Essas pessoas têm dignidade. Isso poderia ter sido evitado”, alfinetou.

Contrário à avaliação de Jucá, o presidente da Casa, Juracy Nogueira (PR), considera que a alagação veio ‘muito rápido’, o que teria dificultado uma intervenção preventiva da Defesa Civil. Quanto à visita do Poder Legislativo ao local, Nogueira é enfático: “o lugar do vereador é ao lado da população”. Até o fechamento desta edição, não havia registros de uma única visita de deputados estaduais aos atingidos.
Sensibilizados com a situação, os vereadores Alysson Bestene (PP), Elias Campos (PRP) e Ricardo Araújo (PT) se dispuseram a apresentar projetos. Raimundo Nonato de Souza, morador da Rua do Passeio, no bairro Triangulo Novo, relevou aos parlamentares que o seu sonho era sair do local. “Aqui a situação é essa. Quase todo mundo é vítima da falta de uma moradia adequada”, desabafou o morador.

Ricardo Araújo defende remoção definitiva de moradores
O vereador Ricardo Araújo, que é engenheiro civil, defendeu a remoção definitiva dos moradores instalados em re-giões alagadiças. Apontando para as casas inundadas no bairro Seis de Agosto, nas proximidades da 4ª ponte, ele sugeriu que ali fosse construído um parque. “Não vejo ninguém tentar ocupar terrenos nos parques Tucumã e Capitão Ciríaco”, comparou.

Mesmo levando em consideração a cultura do acreano de se instalar às margens de rio e igarapés, Araújo acredita que os moradores, devidamente cadastrados e assistidos pelos programas de moradias, não retornariam aos locais. “Se formos computar o que foi gasto de 2006 até hoje, constataremos que foi cerca de R$ 50 milhões. Esse dinheiro pode ser revestido em construção de casas populares, a exemplo do programa Minha Casa, Minha Viva”, propôs o vereador.

Unidade de saúde terá atendimento 24 horas
Agentes comunitários de Saúde, técnico em enfermagem, enfermeira e médico de plantão estarão atendendo na unidade fixa instalada no Parque de Exposições durante todo o período em que as famílias permanecerem no local. A equipe irá desenvolver as atividades rotineiras com atualização da carteira de vacinas, distribuição de medicação e orientação sobre saúde. A unidade está articulada com o Samu para o atendimento de casos emergentes. Há mulheres grávidas no fim do período gestacional e uma população expressiva de idosos e crianças. Na avaliação do secretário de Saúde do município, Osvaldo Leal, a área está bem saneada com distribuição de água potável para ingestão e preparo de alimentos e de água tratada para higiene e limpeza de roupas e boxes.

Lugares considerados como de ‘emergência’ pela  prefeitura
No decreto municipal estão citados os bairros Adalberto Aragão, Ayrton Senna, Baixada da Habitasa, Cidade Nova, Cadeia Velha, Terminal da Cadeia Velha, 6 de Agosto, Triângulo Novo, Taquari, Base e Aeroporto Velho e as comunidades rurais  Panorama, Liberdade, Vai se Vê I e II, Limoeiro, Catuaba, Bagaço, Extrema, Colibri, Corredeira P.A. Moreno Maia, Jarinauá -Seringal Belo Horizonte, Barro Alto (Cajazeira, Água Preta e Barro Alto) e São Francisco do Espalha.

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