Índios de 18 etnias do Acre, Sul do Amazonas e Noroeste de Rondônia acamparam em frente ao Gabinete Civil do Governo do Estado, no final da tarde de ontem. Eles também fizeram 8 reféns no núcleo de Saúde Indígena de Cruzeiro do Sul e ameaçam fechar as BRs 364 e 317 na próxima segunda (4). O movimento, que já se estende por 5 meses, reivindica reformulações na política de Saúde Indígena e as imediatas exonerações dos coordenadores do Alto Purus e Juruá.
Os emissários do governador Tião Viana (PT) – o secretário de Meio Ambiente Edgard de Deus, o assessor especial Carlos Alberto e o secretário especial dos Povos Indígenas, José de Lima Kaxinawá – disseram que os pedidos dos povos indígenas são da alçada do Governo Federal.
Em Cruzeiro do Sul, a situação era tensa até o fechamento desta edição. Mais de 100 índios invadiram o Distrito Sanitário de Saúde Indígena (DSEI) do Alto Juruá e mantiveram 8 reféns, dentre eles o coordenador José Francisco Correia. Segundo informações preliminares, índios da etnia Arara estão bastante agitados. “Este povo é de pouca conversa”, disse o índio Santo Raimundo Jaminawá. Eles estão aguardando a chegada de mais de 80 índios da etnia Katukina para, ainda neste final de semana, fechar a BR-364.
Uma comissão formada por agentes da Polícia Federal, Ministério Público Estadual (MPE) e um juiz estiveram no local tentando a liberação dos reféns, o que não havia acontec ido até a noite de ontem.
“Fizemos uma reunião com todas as autoridades, mas eles ignoraram nossos pedidos. Queremos a troca do coordenador e de todos os assessores do DSEI do Alto Juruá”, explicou um dos líderes do protesto, Fernando Katukina.
“Este movimento conta com o apoio das 18 etnias da nossa região e mais 6 entidades representativas. Queremos que os governantes, principalmente os que se dizem defensores da nossa causa, se posicionem. Chega de conversa fiada. De agora em diante vamos radicalizar ainda mais, até termos nossas reivindicações atendidas”, ameaçou o coordenador dos Povos Huni Kui do Acre e um dos líderes do movimento, Ninawá Huni Kui.
Fechamento das BRs 364 e 317
A partir da próxima segunda-feira (4), em uma ação coordenada, os índios pretendem fechar a BR-364 nos trechos entre Cruzeiro do Sul e Tarauacá, e na ponte sobre o Rio Purus (nas proximidades da cidade de Manoel Urbano). Quanto à BR-317, uma comissão formada por índios apurinãs e jamajadis está mobilizando centenas de ‘parentes’. Eles decidiram fecham a estrada no Km 120, já em terras indígenas. “Vamos aproveitar para reivindicar o pagamento de uma indenização. O homem branco invadiu a nossa área, que é demarcada, e agora está asfaltando. Estamos perdendo a caça e a pesca e nossa cultura”, disse a tesoureira da Organização das Mulheres Indígenas do Acre, Sul do Amazonas e Noroeste de Rondônia, Dalva Justino Apurinã.
Movimento já dura mais de 5 meses
Acompanhados há 5 meses em frente ao prédio da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), os índios já fizeram outros protestos. Em janeiro, eles sitiaram a e fizeram 30 funcionários reféns, dentre o coordenador do DSEI do Alto Purus, Antônio Alves Costa. Nos últimos 5 meses, cerca de 20 índios morreram em decorrência de uma série de problemas de saúde.
“A gente quer a saída do Costa desde a reunião com o secretário nacional de Atenção à Saúde Indígena, Antônio Alves”, informou o presidente do Conselho do Distrito Sanitário de Saúde do Alto Purus (Condisi), Gerson Severino Machinery. “Ele tem agido com inverdades, com tentativas de dividir os povos indígenas e fomentando a centralização das ações no DSEI. Isso é um desrespeito às nossas lideranças e cultura”, completou Machinery.