A sabedoria na política vem da experiência. O deputado federal, Flaviano Melo (PMDB/AC) vive um momento especial na sua carreira. Depois de ocupar todos os importantes cargos eletivos da política acreana, prefeito da Capital, senador e governador, Flaviano foi reeleito para a Câmara Federal com expressiva votação.
E se revela satisfeito com a rara unidade que o PMDB nacional alcançou nos últimos meses. Nessa entrevista À GAZETA, o guru da oposição acreana analisa os primeiros meses do Governo do Acre, as articulações internas do seu partido para participar das eleições municipais de 2012 e o desempenho da presidente Dilma Rousseff (PT), a quem não poupa elogios.
Momento administrativo acreano
Tendo ocupado o cargo executivo do Estado, Flaviano Melo, resume o que pensa sobre a nova gestão governamental no Acre. “O momento é de expectativa, mas a gente esperava que esse governo começasse com muito trabalho. Quando mudam as peças, tem que se refazer a engrenagem e isso leva tempo. Mas, quem elegeu quer ver trabalho. Recebi e divulguei uma resposta do Ministério da Saúde que mostrava uma série de falhas que acarretaram na epidemia de dengue em Rio Branco. O Governo patinou, mas começou a fazer alguma coisa e a epidemia começou a diminuir”, ressaltou.
Um outro projeto que está chamando a atenção de Flaviano é a Zona de Processamento de Exportação (ZPE) que está sendo instalada no Acre. “Essa ZPE é importante. Li outro dia que autorizaram a cercar a área. Mas a gente precisa saber quais as empresas que estão vindo e qual é a infra-estrutura. O povo está querendo empregos”, questionou. O setor da habitação também preocupa Flaviano. “Tem o Programa Minha Casa, Minha Vida e a informação que recebi é que das obras contratadas, desde 2006, apenas 10% estão concluídas e o resto parada. E por que não colocam para andar? Isso é necessário para não acontecer o que aconteceu com esse conjunto que foi invadido por sem-tetos”, afirmou.
A questão de moradia é importante para Flaviano. Quando foi governador se dedicou a sanar o déficit habitacional do Estado. “Quando assumi o Acre tinha um déficit habitacional muito grande, como ainda tem. No primeiro dia de Governo, eu já estava comprando áreas para construir. Se olhar a partir do bairro São Francisco, a maioria das áreas foram compradas no meu Governo. Tancredo Neves, Raimundo Melo, uma parte das Placas, Xavier Maia, Adalberto Sena. Teve momento que tive cinco empresas para fazer projetos habitacionais, conseguir os recursos e construir. É preciso questionar a equipe de habitação para saber por que as coisas não estão andando”, analisou.
Apesar das críticas, Flaviano Melo, garante que como representante acreano no Congresso Nacional irá colaborar com o Governo. “Estou disposto a ajudar em tudo que for preciso. As minhas emendas servem para isso. Evidentemente que estou priorizando os municípios que não têm ajuda do Estado. Em Cruzeiro do Sul, graças as minhas emendas, estão terminando de montar a Usina de Asfalto e uma vibracavadeira nova. Lá tem equipamento para se começar a pavimentar. O prefeito Vagner Sales (PMDB) está todo equipado e o Governo prometeu que vai pavimentar todas as ruas dos municípios acreanos. Nada mais fácil que realizar uma parceria com a prefeitura para que o Governo economize recursos. Se não quiserem dar dinheiro, podem entrar com os insumos. Esse é um bom caminho”, sentenciou.
Perspectivas políticas da disputa municipal
Quando o assunto é a próxima eleição, Flaviano prefere limitar-se a falar do seu partido do que da oposição como um todo. “Eu só falo pelo PMDB. Evidente que como nós temos feito alianças com os partidos da oposição a gente tem uma relação cordial com todos. Mas eu ainda não tenho conversado nada em termos de futuro. Acho que é muito cedo. Estou terminando o segundo mês do meu novo mandato e acho um absurdo pensar numa eleição que vai acontecer daqui a quase dois anos. Estou indo para o interior e dando as orientações ao meu partido. Como a eleição é municipal quem terá poderes no PMDB são os diretórios municipais. Cabe às executivas coordenar e orientar e, se formos chamados, iremos debater. Mas só se a seção local nos pedir. Eles terão liberdade de escolha de candidatos e de procedimentos”, revelou.
Reforma Política
A postura de Flaviano Melo é seguir a orientação do presidente nacional do PMDB. “O vice-presidente, Michel Temer (PMDB) advoga que a gente crie o voto majoritário para deputados e vereadores na Reforma Política. Serão eleitos sempre aqueles que tiverem mais votos. Acaba a questão da legenda e entram os mais votados. Para que isso funcione bem é preciso acabar com as coligações. Mas é preciso criar as cláusulas de barreira para diminuir o número de partidos. Os que ficarem se fortalecerão e garantirão a democracia. Só acredito em democracia com partidos fortes. É assim no mundo inteiro”, explicou.
Candidaturas
O deputado acreano fala qual será a filosofia do PMDB nas próximas eleições. “A orientação da Executiva Nacional é que tenhamos chapas próprias para vereador e candidaturas para prefeito e vice. Evidente que o PMDB não é estático e onde não for possível as alianças poderão ser feitas. Os diretórios municipais receberam essa orientação e estão trabalhando. O meu conselho é que se tem alguém que quer ser candidato vá trabalhar porque não sou eu que viabilizo candidatura de ninguém. Quando eu fui candidato majoritário, coloquei o pé na estrada, viabilizei os aspectos materiais, o apoio do partido e a simpatia popular e ganhei a maioria das eleições. Por isso, que fui prefeito, governador e senador. O candidato é o único responsável pela sua candidatura. Ele é quem que toma as decisões e se ganhar é quem vai governar. Quem quiser ser candidato do PMDB deve ir para a rua e correr atrás. Se conseguir, é tudo que a gente quer”, ressaltou.
Novas adesões
Recentemente, Flaviano Melo teve algumas conversações com o ex-deputado Fernando Melo (PT) que desde o ano passado se declarou candidato a prefeito. “Antes não tinha nenhuma relação pessoal com ex-deputado Fernando Melo. No mandato que passou, tive uma boa convivência e aprendi a gostar dele. Ele tem trocado idéias comigo sobre as questões políticas acreanas mesmo antes das eleições. Mas agora ele está reavaliando a sua vida. Se vai continuar ou não na política, se vai ficar onde está ou sair. Essas decisões ninguém pode se meter porque são muito pessoais. Eu já disse que o PMDB está de portas abertas se ele decidir sair do PT”, garantiu.
Avaliação da Dilma
Flaviano revela estar gostando do início do Governo da presidente Dilma. “Ela tem mostrado uma característica diferente do Lula (PT). Gosta de comandar e sempre vai estar à frente das decisões do Governo. Acho isso um aspecto positivo porque terá o controle sobre o que está acontecendo. Os assessores podem orientar, mas as decisões têm que ser dela”, argumentou.
Um dos exemplos citados pelo parlamentar da eficiência da presidente foi a condução da votação no Congresso Nacional do salário mínimo. “Ela fechou questão. Com isso, a bancada do PMDB, que sempre tem as suas defecções, votou toda unida pela aprovação. Foi criado um critério, uma política definida que a gente gostaria de ter: o salário reajustado pela inflação mais o PIB de dois anos. Hoje, podemos afirmar que o salário mínimo de 2012 será de R$ 632,00. Isso é uma tranqüilidade. Além do fato que um valor desses é quase 500 dólares. Há 10 anos, a luta era para se fazer um salário mínimo de 100 dólares. É um avanço muito grande”, comemorou. Flaviano também ressaltou os cortes orçamentários como positivos. “A inflação dá sinais de crescimento. Então, são necessárias medidas duras para evitar. Chega de inflação”, apregoou.
PMDB homogêneo
Durante a sua história, o PMDB viveu momentos distintos. Mas, sempre se caracterizou por ser uma espécie de grande guarda chuva de diferentes tendências ideológicas. “O PMDB atualmente está mais homogêneo graças ao Michel Temer. Essa, inclusive, foi a razão principal da prorrogação dos mandatos de todos os diretórios. Ninguém quer colocar nada para ser sombra do Michel. Como ele é o presidente do partido licenciado e está num cargo executivo não poderia ser reeleito. Haveria uma disputa que desarticularia uma unidade que está coerente”, destacou.
Mas quando a conversa vem para o PMDB do Acre e as suas chances de voltar ao poder, Flaviano pondera: “a gente tem que entender que estamos num novo momento político. Antigamente, havia apenas dois partidos, o PDS e o PMDB. Com a abertura política, vários partidos saíram de dentro do PMDB. Atualmente nem em nível nacional ou regional existem partidos que sejam protagonistas solitários. É preciso fazer alianças porque isso faz parte da democracia”, advertiu.
A mudança de Petecão
Questionado sobre a mudança de partido do senador Sérgio Petecão (PMN/AC) para o PSD, Flaviano considera normal. “A ida do Petecão para o PSD não muda nada no Acre. O PMN é um partido pequeno. Ele está indo para o PSD com o compromisso que terá no Acre o mesmo peso que tinha no PMN. Parece-me que o PMN não tem interesse em ter senador, mas deputados federais que fixam o valor do fundo partidário. Como ele não concorreu a deputado federal ficou meio deslocado no meio partidário. Mas essa é a minha avaliação. Com a criação de um novo partido, poderá trocar de legenda sem risco. Ele continuará oposição no Acre e apoiando o Governo Federal, no plano nacional. O PSD deve apoiar a Dilma e o Petecão participa de um bloco com o PMDB no Senado. Então faz parte da bancada de apoio ao Governo. Por isso, está na Comissão de Constituição e Justiça. Essa mudança dele é só folclore. Acho que foi uma necessidade particular”, avaliou.
Guru da oposição
Sempre que há uma crise na oposição, Flaviano Melo é chamado. É unânime o respeito à experiência do deputado federal. Isso acontece porque ele prefere sempre seguir pelo caminho do entendimento. “Não tenho mais aquela impetuosidade que é peculiar nas pessoas mais jovens. Quem me procura, converso no sentido de orientar e refletir para tentar harmonizar e unir. Nós da oposição precisamos nos manter unidos para alcançarmos mais vitórias. Ainda quero ver a oposição no Governo do Acre”, finalizou.