X

Grupo peruano que emprega mais de 20 mil em 5 países quer se instalar na ZPE

O Grupo Gloria, um conglomerado industrialperuano com filiais na Bolívia, Colômbia, Equador, Argentina e Porto Rico, quer se instalar na Zona de Processamento de Exportação do Acre. Executivos da empresa visitaram áreas estratégicas do Vale do Alto Acre e Juruá durante toda a semana. Inicialmente, o interesse dos peruanos tem foco no setor de leite (e derivados), cimento, açúcar e fertilizantes agrícolas. “Queremos abastecer o Norte do Brasil com fertilizantes a partir do Acre”, anuncia o secretário de Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia, Indústria e Comércio, Edvaldo Magalhães.

A estratégia do Governo do Acre para o Grupo Gloria no comércio de fertilizantes é aproveitar a grande procura pelo produto em estados como Rondônia, Mato Grosso e sul do Pará. São regiões produtoras de soja em larga escala e que demandam grande quantidade de fertilizantes para correção do solo.

O Grupo Gloria produz o cimento Yura e mais duas marcas, Cimento Sur e Cachimayo. Praticamente todo mercado peruano da construção civil é abastecido pela produção desses empreendimentos. A região de Arequipa é onde fica a maior parte dos investimentos nesse setor. Caso efetive a implantação de empreendimentos no Acre, o setor da construção civil local teria uma redução de mais de 20% no custo do cimento como insumo para as obras na região.

O empreendimento que pode ser efetivado no curto prazo está ligado à produção de leite e derivados. O Governo do Acre já montou um galpão no Novo Distrito Industrial para receber um grupo paulista para produção de leite de caixinhas. As negociações iniciaram há aproximadamente três anos e até agora nada foi implementado. A expectativa, agora, é de que o Grupo Gloria inicie a produção.

Na última sexta-feira, os empresários peruanos participaram de uma audiência com o governador do Acre, Tião Viana. Na pauta de discussão, estava a construção das condições oferecidas pelo poder público para a instalação dos empreendimentos. Em declaração dada à Agência de Notícias do Acre, fica sugerido o sinal verde para os empresários. “Vocês encontrarão facilidades e acolhida no Acre, e terão segurança jurídica”. As “condições jurídicas” podem ser traduzidas em uma palavra: concessões.É o que fica sugerido por outra declaração de Tião à agência oficial. “Só queremos emprego e salário e, em troca, oferecemos incentivos para o crescimento da empresa”. Os estudos de viabilidade ainda serão realizados.

Empresário critica lentidão nas relações comerciais
O representante do conglomerado peruano e integrante da Câmara de Comércio de Arequipa, JulioCaceres Arce, é cauteloso ao falar da possibilidade de ampliar os investimentos do grupo. Faz críticas à falta de integração comercial entre Brasil e Peru, sobretudo em regiões de fronteira. “Por que as fronteiras se fecham para o trânsito de mercadorias?”, pergunta, antes de sentenciar. “As fronteiras devem ficar abertas para que as relações comerciais se realizem”.

Arce cita como exemplo extremo da burocracia o bloqueio de uma carga de cimento perua-no ao entrar no Brasil. “Um funcionário da alfândega exigiu da empresa exame toxicológico do cimento como se cimento fosse algo que se ingerisse”, lembra, em tom que beirava a irritação. No entanto, Arce admite que também existe, por parte dos empresários peruanos, desconhecimento sobre as reais demandas do mercado brasileiro. Daí, a importância da visita que fez ao Acre.

Para os empresários peruanos, utilizar o Acre tanto para industrialização quanto para exportação de produtos têm como meta não só o fortalecimento do comércio de fronteira. A tática é usar a ZPE e a estratégia é entrar em um mercado que alcança até o Centro-oeste brasileiro. Ainda não se sabe qual o custo de produzir o fertilizante no Acre para que entre com preços competitivos no “agrobusiness” de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Julio Arce lembra que há pouco tempo, o transporte de mercadorias que saia do porto de Matarani demorava oito dias para chegar a Assis Brasil com um frete que chegava a ter um custo sobre o produto de até 70%. Hoje, com a Estrada Transoceânica, o percurso é feito em 18 horas. “Somos uma só geografia”, calcula.

Outras visitas de representantes do Grupo Gloria serão articuladas pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia, Indústria e Comércio para que os estudos de viabilidade econômica e pesquisas de mercado sejam realizados. 



Diretor da Acrediesel, Moacir Carminati (à dir.), recebe prêmio por melhores práticas de desenvolvimento ambiental

Empresas acreanas recebem prêmio nacional em gestão

GOLBY PULLIG
Especial para o Acre Economia

O resultado não pode ser contabilizado como lucro real, mas reflete o investimento das empresas em ações que transformam o cotidiano dos seus colaboradores, do meio ambiente e, em muitos casos, da população dos municípios onde estão instaladas. Orientados por práticas socialmente responsáveis, os empreendimentos públicos e privados agregam valor às suas atividades fim e dão uma nova dinâmica à economia formal. Diante de um novo cenário que busca aliar a produção de bens de consumo e serviços com mais qualidade de vida, três empresas acreanas ganharam destaque nacional, durante a entrega do Prêmio Sesi de Qualidade no Trabalho (PSQT), superando experiências similares de todos os estados brasileiros. Depois de vencer em suas categorias na premiação estadual, as empresas Rio Branco Pneus, Acrediesel e Saerb trazem para o Acre não só um prêmio, mas a certeza de que estão no caminho certo para imprimir um novo modelo de qualidade no trabalho.

Uma experiência ruim na infância foi o suficiente para que o empresário Celestino Bento de Oliveira buscasse uma alternativa que ajudasse a resolver os problemas dos colaboradores e os estimulasse a realizar sonhos. Para conquistar o segundo lugar, em nível nacional, na área de Gestão de Pessoas, na categoria Micro e Pequena Empresas, a Rio Branco Pneus concorreu com uma idéia que surgiu há muitos anos e que hoje está consolidada no projeto “Caixinha Solidária”, iniciativa que nasceu com o foco voltado para a aquisição de moradias e investimentos na área de saúde. Atualmente, 100% dos trabalhadores da Rio Branco Pneus moram em imóvel próprio, adquirido com o dinheiro emprestado pela caixinha.

O saldo positivo provém de pequena contribuição mensal dos colaboradores, com doação de mesmo valor do total arrecadado feita pelo empresário. “A intenção é manter os trabalhadores satisfeitos. Quando tudo está bem na nossa casa, está tudo bem”, diz Celestino, que nunca divulgou a ação, até participar do “Modelo Sesi de Sustentabilidade”. Agora, ele acredita que esta é uma forma de divulgar iniciativas positivas que podem servir de estímulo para outros empreendedores.

O menino, que aos oito anos sofreu o impacto da separação dos pais, acompanhou a luta da mãe cuidando sozinha de cinco filhos. Situações de falta de alimentação e moradia digna nortearam os passos do empresário que, aos 16 anos, já trabalhava como borracheiro, com carteira assinada. “São situações que não gostaria que ninguém passasse”, diz ele, admitindo que tomar esta atitude em relação aos outros não é fácil.

O reconhecimento vem em forma de uma equipe disciplinada, satisfeita, com baixíssimos índices de ausência no trabalho, longeva (há colaboradores que estão no grupo há 20 anos) e quase nenhum pedido de demissão.


Juliano Alencar e família: carro e casa adquiridos com uso da “Caixinha Solidária”

Há oito anos na Rio Branco Pneus, o alinhador e balanceador Juliano Alencar confirma as vantagens de fazer parte da empresa. Foi um dos primeiros a usar a “Caixinha Solidária” e tem orgulho de mostrar a casa e o carro adquiridos com o uso do benefício. Casado há 14 anos, pai de três filhos, reconhece que seria difícil conquistar estes bens sem a ajuda da “caixinha”, que está em processo de estudos para se tornar uma cooperativa de crédito. “Esse dinheiro é nosso. A gente investe, depositando, usa quando precisa e paga com uma pequena taxa de juros, justa. A forma de pagamento é a gente que escolhe. Não poderia ser melhor”, conta Juliano.


Equipe da Rio Branco Pneus recebe prêmio nacional

Modelo Sesi de Sustentabilidade ajuda a identificar melhores práticas das empresas
Criado para contribuir com a excelência na gestão e da qualidade no trabalho, o Modelo Sesi de Sustentabilidade contribui com assessoria técnica para promover ambiente de trabalho socialmente responsável. O programa é definido como “uma ferramenta que mede a relação entre os investimentos em qualidade de vida no trabalho e a produtividade e competitividade do negócio”. A adesão ao programa é considerada alta no Acre. O diagnóstico das empresas e o suporte para a autoavaliação são serviços gratuitos e que levam em conta avaliação nas áreas de Cultura Organizacional; Gestão de Pes-soas; Inovação; Educação e Desenvolvimento; Ambiente de Trabalho Seguro e Saudável e Desenvolvimento Sócio-ambiental.

As práticas e o desempenho são analisados a partir de 72 indicadores, distribuídos entre as seis áreas. O resultado pode ser partilhado com outras empresas do país, a partir do cadastro desses dados em um banco de práticas. Quem aplicou a ferramenta pode comparar as suas próprias experiências com as de outras empresas, para acompanhar a funcionalidade e a aplicabilidade das mesmas.

“As empresas que hoje estão investindo na gestão da responsabilidade social já demonstram um diferencial competitivo no mercado, haja vista o comprometimento da sua força de trabalho, dos colaboradores, face aos investimentos que os empresários vêm fazendo na busca pela qualidade de vida. Não é à toa que as experiências do Acre vão a nível nacional, apesar de sermos um Estado pequeno. E, pela primeira vez, levamos três empresas que estão entre os melhores cases do Brasil”, diz Jacimar Antonio da Silva, coordenador do Núcleo de Responsabilidade Social Empresarial (RSE) do Sesi-AC.

Empresa verde comemora prêmio de olho no ISO 14000
Foi o olhar apurado da equipe do programa desenvolvido pelo Sesi que ajudou a identificar as boas práticas da Acrediesel na área de Desenvolvimento Ambiental. O primeiro lugar na categoria média empresa quer atingir a excelência com ações de proteção ao meio ambiente. E consegue isso na prática cotidiana, com total participação dos empregados, que ajudam a consolidar os projetos desenvolvidos e a criar alternativas para diminuir o impacto causado naturalmente por empresas do segmento. Ao pensar o novo prédio, a concessionária, que mantém oficina de caminhões e máquinas pesadas, buscou um projeto que atendesse não só às necessidades econômicas referentes à construção, mas que estivesse dentro dos padrões e normas técnicas para o cumprimento das leis ambientais. “Trabalhamos com óleos e graxas, por exemplo. Se não cuidarmos, isso tudo pode parar nas águas fluviais. Já desenvolvíamos este projeto aqui, e o Sesi nos trouxe apoio mais consistente, mais didático e nos ajudou bastante”, explica o diretor administrativo e financeiro da empresa, Moacir Carminati.


Respeito ao meio ambiente foi referência para mudanças nos procedimentos da empresa

Com o apoio dos trabalhadores, equipamentos foram criados na própria empresa com investimento considerado irrisório pelo alcance. Um tanque para lavar peças, que possui caixa de decantação para separar a água usada do óleo; um escorredor para que frascos de óleo possam ser descartados já sem resíduos e lixeiras especiais para destinação de lixo reciclável são alguns deles. Pesquisa interna indicou que 81% dos 150 trabalhadores estão envolvidos nas práticas ambientais da empresa, que mantém equipes de lideranças que atuam no aprimoramento dos cuidados com o ambiente e a limpeza. A meta agora é conquistar a ISO 14000, normas que estabelecem os procedimentos e diretrizes sobre a área de gestão ambiental nas empresas. “Essa é preciosa e estamos perto de conquistar. É o próximo passo”, diz Carminati.

Nesta semana, equipe de auditores visita a Acrediesel, como parte do processo de verificação para confirmar se a empresa segue os padrões legais e de sua própria política ambiental. Marivaldo Lima, contratado há dois anos pela Acrediesel, diz que foi fácil se adaptar às normas porque a preocupação ambiental, para ele, não é só profissional: é pessoal. Ele foi um dos colaboradores que ajudou a construir os equipamentos usados no controle de resí-duos graxos. A empresa mantém ainda a “casinha das sucatas”, uma área de resíduos onde são depositados metais, baterias velhas, frascos de material de limpeza. Uma parte do material reunido é vendido por valor simbólico a ferros velhos, e a outra parte é doada ao Projeto Catar.

Inovação para evitar perdas e danos
Uma empresa pública do Acre, o Serviço de Águas e Esgoto de Rio Branco (Saerb) ganhou o prêmio na categoria “Inovação”, superando mais de 80 médias empresas selecionadas em todo o país. Um segundo lugar conquistado a partir do trabalho realizado, durante mais de três anos, com o desenvolvimento do Método de Análise de Soluções para Problemas e Perdas (Maspp) e também identificado pela equipe do Modelo Sesi de Sustentabilidade. O processo se formatou com o cumprimento de diversas etapas até ser colocado em prática.

Trabalho interno de conscientização, identificação de bairros onde havia alto índice de perda da água tratada e, depois, a realização de mutirões, com envolvimento de engenheiros, equipe técnica, assistentes sociais, encanadores para efetuar obras de reparos foram as medidas adotadas, que resultaram na redução de 36% da perda do produto; aumento de 32% nas ligações regulares e crescimento de cerca de 40% no faturamento.

Atualmente, o Saerb tem cadastradas 46 mil ligações ativas e arrecada, anualmente, R$ 7,4 milhões. A empresa trabalha com a perspectiva da auto-suficiência econômica até o fim de 2011. Projetos para reduzir a inadimplência e atrair não só os pequenos, mas os grandes consumidores estão em andamento, ao mesmo tempo em que o Saerb tenta alcançar a excelência do serviço e a qualidade do produto com a expansão da rede e a distribuição de água tratada 24 horas. “Foi surpresa para a equipe este prêmio, dado o número de participantes”, admite o diretor do Saerb, Eduardo Vieira, ressaltando que a ação é resultado da construção coletiva de todos os segmentos da empresa que, em parceria com o Sesi, identificou por meio do PSQT a prática positiva. 


Sem retrocesso
Na área econômica, o assunto da semana foi a atuação do Ministério Público Federal no combate ao desmatamento ilegal, utilizando como referência a comercialização de carne. O Acre já conhece essa novela. É antiga. Até agora, tanto os procuradores federais quanto os representantes dos pecuaristas estão agindo dentro da civilidade e respeitando, cada um, os seus limites. Assim deve ser.

O MPF já ajudou o combate ao crime organizado no Acre. Junto com o Ministério Público Esta-dual, Ministério Público do Trabalho, Ordem dos Advogados do Brasil, Tribunal de Justiça, Justiça Federal, o MPF é uma referência para a defesa de direitos e respeito à lei.

O embate com a Federação da Agricultura e Pecuária do Acre (Faeac), longe do que o senso comum pode imaginar, também representa um avanço para a sociedade acreana. E o avanço se concretiza no debate, nas relações de força da cada argumento. Os integrantes da Federação de Agricultura e Pecuária sabem o que é isso. Ao longo dos anos, tiveram que mudar radicalmente a imagem que a sociedade guardava deles. Acumularam expe-riência, desenvolveram tecnologias no setor e construíram uma nova relação institucional.

É em nome dessas “novas relações” que se deve preservar o respeito às instituições e às suas personagens. As articulaçõespolíticas por parte dos pecuaristas para que a multa recomendada pelo MPF não seja paga são legítimas. Ingenuidade quem imaginar que não há operações políticas nos bastidores para neutralizar uma ação que, do ponto de vista econômico, inviabilizaria o setor na região. Faz parte do jogo.
É preciso ter maturidade para respeitar os dramas que a democracia proporciona. O Acre já amadureceu nesse cenário. Retroceder não seria bom para ninguém.


Acre é o segundo da Amazônia Legal onde diploma traz maior impacto sobre a renda
O Acre é o segundo estado da Amazônia Legal onde o diploma tem forte valor de mercado. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (2004/2005), 12,3% dos trabalhadores que ocupam algum posto de trabalho, no Acre, possuem formação superior. Amapá tem 12,4%. Pará e Maranhão, ambos com 6,7%, estão com porcentagem abaixo da média do Norte e da região Amazônica.
Esses números indicam que, no Acre, quem tem diploma universitário ainda possui maior probabilidade de estar empregado. “A pesquisa é de 2004, mas a realidade de hoje não é diferente”, assegura o professor de Economia da Universidade Federal do Acre, Carlos Estevão.

A conquista de um diploma universitário mudou a vida da empresária Samirame Carvalho. Ela era funcionária pública na Fundação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Depois, fez parte da equipe da Secretaria de Assistência Técnica e Extensão Agro-Florestal (atual Seaprof). Trabalhou 17 anos no setor público. Resolveu arriscar e se matriculou em uma faculdade de Administração de Empresas. A partir daí, a vida mudou.


George Pinheiro e João Salomão destacam novo momento vivido pelo Estado, com a criação da ZPE

Montou uma loja de perfumes e cosméticos que utiliza uma forma de “venda por argumentação” com mais de mil revendedoras cadastradas. A “venda por argumentação” é uma modalidade em que o revendedor deve ter amplo conhecimento do produto e uma relação mais próxima com o cliente, geralmente em visitas aos domicílios e locais de trabalho. “Além de possuir minha loja, ainda dou oportunidade a outras pessoas”, comemora a empresária.

É cada vez mais comum funcionários recém-concursados ou com gerências bem remuneradas no setor público iniciarem um curso superior. Na maioria das vezes, em busca do segundo diploma. O retrato disso é que aumentou a renda média do funcionalismo acrea-no. De acordo com o Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas (Ipea), o Acre é o segundo estado da Amazônia Legal com maior média salarial entre os funcionários públicos (R$ 1.308), só perdendo para o Amapá, com R$ 1.559.

A remuneração média do acreano cai muito devido a participação da iniciativa privada. “No Acre, asempresas não pagam tão bem quanto o setor púbico”, constata o professor Estevão, da Ufac. De fato, setores como agricultura, serviços domésticos e alojamento e alimentação puxam a média acreana para baixo. No geral, o Acre perde nos 12 itens avaliados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio quando comparado a Rondônia, com remuneração média de R$ 607. 


Acre participará de nova missão empresarial na China
A viagem da presidente do Brasil, Dilma Rousseff, à China foi um dos destaques do noticiário nacional nesta última semana. A convite do presidente chinês, Hu Jintao, Dilma assinou, em Pequim, diversos acordos de cooperação política e comercialque traçarão o rumo da relação do Brasil com o país asiá-tico nos próximos anos. No Acre, empresários e políticos apontam, de forma geral, boas perspectivas para futuras negociações com o mercado chinês. De acordo com o representante do Acre na Confederação das Associações Comerciais do Brasil (CACB), George Pinheiro, um grupo de empresários acreanos e representantes do Governo do Estado participará de uma nova missão empresarial à China, na segunda quinzena de setembro.

A viagem está sendo organizada pela CACB e contará com a participação de empresários de todo o país, que visitarão a famosa Feira de Cantão, na cidade de Guangzhou. Realizada duas vezes por ano (a primeira edição de 2011 está acontecendonesta semana), a Feira de Cantão é considerada a maior do mundo, pois envolve negócios da ordem de um quarto do PIB da China, com a exposição de produtos que vão desde móveis, eletrônicos e mate-riais de construção a automóveis e equipamentos sofisticados de telecomunicações.

Em abril do ano passado, a missão acreana que levou cerca de 80 empresários e políticos ao país asiático já conheceu a feira e, partir dali, as maiores empresas no ramo de material de construção do Estado conseguiram iniciar negócios com distribuidores chineses. É o caso da loja Agroboi, cujo dois dos proprietários, os irmãos Luciano e Gustavo Gurgel, viajaram, na última terça, 12, a convite de uma indústria nacional, para incrementar a importação de pisos de porcelanato e outros produtos.


George Pinheiro e João Salomão destacam novo momento vivido pelo Estado, com a criação da ZPE

O empresário George Pinheiro avalia que, após essa viagem da comitiva da presidente Dilma, aumentará significativamente o fluxo de investidores chineses interessados em se associar ao empresariado brasileiro. “O meu objetivo, como representante do Acre na CACB, é, claro, prospectar oportunidades para o nosso Estado. E esse será o foco da nossa agenda em setembro. Confio que, com a implantação da nossa Zona de Processamento de Exportação (ZPE), que já está em andamento, e com a conclusão da Estrada do Pacífico, teremos condições para oferecer estrutura e benefícios fiscais atraentes para fomentar a parceria com indústrias chinesas”, defende ele.

A opinião é apoiada pelo presidente da Federação das Indústrias do Acre, João Francisco Salomão, que observa que, a partir da ZPE, a China poderá se tornar um dos destinos principais para importações e exportações do Acre. “Qualquer parceria que implique em aumento de nossas relações comerciais com o exterior é sempre positiva. Principalmente para o Acre, que ainda não possui uma tradição em trocas internacionais e que vive, hoje, um momento histórico, uma vez que está passando por transformações logísticas importantes, com a finalização da Estrada do Pacífico. A Laminados Triunfo já exporta madeira para a China, e acreditamos que a carne é outro produto que pode ser interessante para o país asiático”, considera Salomão.

‘É preciso destravar algumas amarras’
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Acre (Faeac), AssueroVeronez, é um pouco mais cético ao falar das possibilidades de negócios entre Acre e China. Assuero concorda que aquele país é, atualmente, a grande fonte de expectativas para os mercados do mundo todo, tendo em vista o seu crescimento acelerado e a população gigantesca que está sendo inserida no mercado de consumo. zxEle adverte, entretanto, que é preciso ter cautela no fomento desta relação com o mercado chinês, pois, apesar de a China ser hoje o maior parceiro comercial do Brasil e o principal destino das exportações brasileiras, mais de 80% das nossas vendas externas são de produtos básicos cotados internacionalmente (commodities).

Em contrapartida, mais de 90% dos produtos que vêm da China são bens industrializados, que incorporam mais valor, geram mais empregos para as empresas chinesas e, de certa forma, concorrem deslealmente com a indústria nacional. Equilibrar esta desigualdade em termos de negócios e garantir uma certa simetria no acesso de produtos e empresas brasileiras ao mercado asiático é, portanto, um grande desafio para o governo brasileiro.

Na relação com o Acre, especificamente, Veronez concorda que a carne bovina e a madeira são os itens com potencial de exportação. Mas pondera que é preciso “destravar algumas amarras e romper com a regulamentação excessiva”, para, de fato, atrair investimentos privados de grande porte que permitam crescer a escala de produção do Estado.

“O Acre perdeu muitas oportunidades, nos últimos anos, de investir no setor produtivo. O Governo da Floresta fez um grande trabalho de infra-estrutura, melhorou bastante a máquina pública. Mas, na área produtiva, andamos pouco. Agora, o governo do Tião Viana volta o foco para essa questão da industrialização,e eu acredito que exista um grande empenho nesse sentido. Claro que acordos bilaterais podem construir cláusulas que beneficiem uma determinada região. Mas temos que manter os pés no chão, porque, se não houver incentivo para acabar com essa imagem de que o Acre não é um bom lugar para se investir, não teremos muitos avanços”, enfatiza.


ARTIGO

Os limites da lei e do bom
Assuero Veronez
Os limites da lei e do bom Por algumas razões que não importa aqui explorar, a pecuária acreana carrega o estigma de atividade concentradora de renda e destruidora do meio ambiente. As duas premissas são falsas.

Considerando que 85 % das propriedades têm menos de 100 cabeças de gado que proporcionam renda bruta aproximada de 1.000,00 por mês, podemos afirmar, com segurança, que a pecuária está disseminada pela pequena propriedade e até pelas reservas extrativistas e indígenas. Apenas 4% das pro-priedades detêm mais de 1.000 cabeças de gado.

De outro lado, se a implantação dessa riqueza exigiu algum nível de destruição das matas (12% do Estado), hoje esse processo está estancado, limitado à pequena agricultura de subsistência. Nossos índices de desmatamento são, a cada ano, menores.

Tudo foi alcançado através da decisão do Governo de fazer do Acre um estado vanguardista na preservação do meio ambiente, adotando clara postura política nesse sentido. Nesse objetivo, construiu-se a pactuação com os diversos segmentos sociais e econômicos no âmbito do projeto de Zoneamento Ecológico-Econômico e outras leis como a da Valorização do Ativo Florestal e a do Sistema de Serviços Ambientais.

Não obstante todo esse esforço, estamos assistindo, nos últimos dias, a uma ação do Ministério Público Federal e Estadual que pretende, se vitoriosa, banir a atividade pecuária do Estado do Acre. A pretensão punitiva extrapola qualquer nível de bom senso, impondo ao Ibama a obrigação de multar as indústrias frigoríficas em mais de 2 bilhões de reais. Pasmem, esse valor é maior que todo o rebanho do Acre.

Naturalmente os frigoríficos fechariam suas portas diante dessas multas absurdas. Voltando ao passado, passaría-mos a comercializar nossos bois em outros estados, deixando de gerar empregos, impostos e agregação de valor aos nossos produtos. É a contramão do desenvolvimento e da política de industrialização adotada pelo atual Governo.

Tentamos, em documento enviado àquelas autoridades, dissuadi-los da proposta de assinatura de TAC com os frigoríficos, tendo em vista a absoluta desnecessidade de tal medida e ainda da impossibilidade de cumprimento das obrigações impostas, muitas delas sem previsão legal.

Mas nada adiantou. A resposta foi a propositura da Ação Civil Pública.

Mas não pára por aí. Agora já foram elencadas 18 propriedades, escolhidas por critério um tanto obscuro, para serem fiscalizadas.

Estranho que, justamente quando estamos na iminência de aprovar um novo Código Florestal Brasileiro (que o Ministério Público é contrário), o qual vai permitir a regularização ambiental de todas as propriedades, de forma a preservar as áreas ainda intocadas e consolidar as áreas de produção, assistimos esse movimento punitivo e persecutório que objetiva execrar os produtores rurais.

Vamos nos defender, dentro da lei, mas não aceitaremos acordos draconianos e não previstos na legislação. 

Temos a responsabilidade de produzir alimentos e preservar o meio ambiente. Continuaremos a fazê-lo. Com trabalho, seriedade e dentro da legalidade.

 *Assuero Veronez é presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Acre (Faeac)

 


NOTAS ECONÔMICAS
Desemprego
Registrado em 4,94% o índice de desemprego em março na construção civil. O número foi divulgado pela Federação das Indústrias do Acre. A culpa, no momento, está com São Pedro: o volume de chuvas diminui o ritmo de obras no setor. “Está dentro da normalidade”, assegura a assessoria da instituição. Daqui para frente, é preciso olhar com carinho para o problema porque se o percentual não baixar, os motivos vão estar bem longe do céu e fincados no chão. Passará a ser questão de política e não de meteorologia.

GASOLINA
A gasolina vai aumentar pela segunda vez em menos de um mês. A distribuidora Shell já aumentou em sete centavos o litro. Os postos com bandeira “Equador” já estão sem combustível desde sábado e devem retornar à normalidade a partir de terça-feira. As distribuidoras BR ainda não efetivaram aumento. É questão de tempo.

Obsessão I
Secretário de Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia, Indústria e Comércio, Edvaldo Magalhães, está obcecado pela estruturação do setor das pequenas movelarias. Em entrevista a esta GAZETA, ele já admitiu que o governo da Frente Popular errou ao não formular políticas específicas para o setor. “Foram os buracos que deixamos no meio do caminho”, confessou.

De filho pra pai
Magalhães quer envolver os filhos dos marceneiros no processo produtivo de móveis. Qualificar mão de obra jovem é o que o setor precisa. Nesse aspecto, o trabalho familiar vai na contra mão do tempo: o conhecimento vai de filho pra pai. A forma como essa qualificação será efetivada deve ser apresentada em breve.

Imac I
Nas últimas eleições, Imac e Ibama ficaram na berlinda nas reclamações dos pequenos produtores. O então candidato Tião Viana, claro, prometeu mudanças na forma de fazer fiscalização. É saudável que haja transparência nessa “mudança na forma”. O Imac, assim como todo o Governo, sofreu o impacto da extinção dos Grupos de Trabalho. Como garantir fiscalização eficiente com redução de um quadro funcional que já não era ideal?

Imac II
Se a ordem oficial é entrar na “era da industrialização”, que isso seja de acordo com a legislação ambiental em vigor. Recentemente, o presidente do Imac, Fernando Lima, foi a Brasília rever o acordo de cooperação técnica com o Ibama. Que novas responsabilidades foram assumidas ninguém sabe. Espera-se que nenhuma. Já existe trabalho demais a ser feito.


 

A Gazeta do Acre: