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Consumismo exagerado

No mundo moderno há um total e veemente  apelo pela produção generalizada.  A ordem é produzir de alimentos as quinquilharias, pois produzindo conseguimos vencer “a crise”. Então, haja produção!
Acontece que pesquisadores, a maioria inimiga de políticos inescrupulosos, estão chegando à conclusão, para não dizer ilação, de que produzir mais não é a solução para conter o consumo exagerado da raça humana cada vez mais insaciável. Segundo esses pensadores, a solução está em consumir menos. Controlar a compulsão por consumir mais e mais; compulsão que assola e desgraça o mundo. Assim o negócio não é produzir mais, mas consumir menos. Ocorre que a massa é incontrolável. Quer consumir tudo ao mesmo tempo. 

Do jeito que a coisa caminha é difícil saber o que o mundo fará, por exemplo, com seus milhares e milhares de automóveis, sem gasolina ou outro combustível, para fazê-los circular. Já pensou leitor, a cidade de Rio Branco com 300 mil carros e 500 mil motos, com pouca gasolina e o preço “pelo olho da cara”.  Já pensou, hein?  Hoje, com 100 mil carros e 200 mil motos, já estamos à beira da bagunça.

Caro leitor, não leva muito a sério as predições deste articulista, não. Faz de conta que são só fantasias de uma mente senil. Agora, falando sério, conta-se que um escritor, desses que vivem a devanear, certo dia  imaginou uma grande metrópole sob a  mortalha de um ataque atômico  fictício, mais ou menos parecido com o ataque dos EUA à Bagda. Toda a eletricidade foi cortada, as reservas de gasolina esgotaram-se; água, só a dos rios poluídos, e a vida se processando em condições elementares. Carros de luxo eram trocados por galinhas caipiras, já que os frangos transgênicos congelado dos frigoríficos e supermercado apodreceram. Lanchas sofisticadas eram oferecidas em troca por outros alimentos essenciais. Os sobreviventes, perplexos, compreenderam que a maioria das coisas pelas quais tinham lutado e atormentado o cérebro para conseguir eram inúteis diante das necessidades básicas da vida. Quem sabe (quiça) se nós que estamos em meio a essa filosofia do imediatismo, de consumo exacerbado, pudéssemos com-preender, em tempo hábil, o que aqueles sobreviventes compreenderam. Talvez o destino do mundo, para o qual estamos marchando, pudesse ser evitado.

Não tenho vocação para pitonisa, que na antiguidade previa o vindouro, contudo  concernente ao futuro do mundo, enquanto sociedade urbana é notório e público que o homem caminha, a passos largos, na direção dum buraco, presumivelmente, maior do que o buraco na camada de “ozônio”, que dizem ser essencial para proteger os seres vivos das radiações provenientes do sol.

Assim, estava certíssimo na sua assertiva, o sociólogo Arnold J. Toynbee (1889-1975) ao apre-goar em dias idos, que o mundo, notadamente a civilização ocidental, estava em declínio, e eram visíveis as inúmeras “tendências suicidas”: idolatria pela tecnologia; proliferação de armas nucleares, conflitos freqüentes; nacionalismo; consumismo; ganância; tratamento desfavorável para com o mundo em desenvolvimento; e egocentrismo.

A realidade é que o mundo entrou numa onda perigosa de consumismo exagerado. Tão perigosa, creia leitor, quanto o tão badalado aquecimento da Terra. É inegável que a inclinação do homem da sociedade hodierna tem sido a satisfação imediata dos seus desejos. É assim em quase todo o segmento da vida: econômica, sexual; espiritual ou religiosa; na educação; na política etc. Tudo tem que acontecer imediatamente: transformar logo, dar emprego para todo mundo, agora; moradia para todos, já. Quando se sabe, por exemplo, que a educação não pode ser imediata, pois os resultados não são imediatos; a religião não pode ser da noite para o dia, pois os valores morais e espirituais são perenes, firmes e quase sempre de resultados em longo prazo.

Esse assunto, “sociedade de consumo” debatido principalmente por sociólogos, nos últimos 40 anos, não é tema novo, não! As primeiras discussões sobre a possibilidade de o prazer constituir a finalidade última do homem tiveram provavelmente lugar no clima altamente ético, e subjetivista, da geração de Sócrates e dos Sofistas. A sociedade de hoje assemelha-se a um indivíduo de nome Cálicles, citado por Sócrates como alguém de espírito extremamente hedonista, insaciável em seus prazeres. Essa filosofia hedonista se faz presente em todos os segmentos da atual sociedade. Pensar de outra forma ou sugerir roupagens modernas para o problema é voltar às ilusões da política e filosofia positiva do século XIX. Infelizmente!

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