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“Não sou candidata à reeleição”, diz reitora Olinda Batista

O ambiente de trabalho na Universidade Federal do Acre não está bom. As aparências são mantidas, claro. Mas, as conversas de bastidores expõem um clima de insatisfação: recursos escassos, falta de pessoal, relação tumultuada com Tribunal de Contas da União, problemas na execução de exames vestibulares.
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O chefe do setor de protocolo, contratado como carpinteiro; o coordenador de almoxarifado que, em tese, deveria cuidar da limpeza dos prédios. O “desvio de função” demonstra falhas antigas na gestão da instituição e expõem uma situação já evidente: o que mantém a Ufac funcionando é o compromisso de servidores que dedicam toda a vida à instituição. Mas, o TCU não entendeu assim e um problema a mais caiu no colo da reitora Olinda Batista. Em tempo: o desvio de função está longe de ser o pior problema da Ufac. A produção de conhecimento e a aproximação com a comunidade, muitas vezes são preteridas por um cotidiano cheio de burocracia e vaidade, típicas do meio acadêmico.

Em uma rápida conversa, a reitora Olinda fala sobre os principais problemas da Universidade Federal do Acre. E adianta: “não sou candidata à reeleição”. Ela tenta explicar a fama de “centralizadora”, a relação conflituosa com os assessores mais próximos e, sobre o problema do vestibular, admite. “Faltou bom senso”.

A GAZETA – Professora, o seu perfil de gestão é “centralizador”? A senhora admite que é uma pessoa que monopoliza as decisões?
Olinda
– Não. Muito pelo contrário. As pessoas têm elogiado que há muita democracia na minha gestão. As pessoas que reclamam de centralização é porque quando não é feito nas bases, quando as decisões não são tomadas nas bases, eu trago para cá. Para poder resolver. Então, a centralização é em função disso aí. É dada a estrutura. É dado um prazo. Aquilo que não é resolvido lá é resolvido aqui. Na hora em que forem fazer as cobranças para mim, eu não posso demandar novamente para estar sendo criticada. E aí eu começo a desencadear o processo de realização através da reitoria.

A GAZETA – Ano passado, tornou-se pública uma desavença entre a senhora e três pró-reitores que ameaçaram entregar os cargos como forma de protesto a sua forma de gerenciar. O episódio ficou até conhecido como “pequena diáspora”. O que aconteceu naquele episódio? Por que ele aconteceu?
Olinda
– Aquilo é coisa comum. Eu reuni aqui todo o cole-giado… todas as viagens que eu faço eu tenho que prestar contas. A primeira pessoa que, quando viaja, presta contas sou eu. E isso eu cobro. Se eu faço para mim, então os outros têm que fazer. E foi um momento de conflito sobre o que pensavam algumas pessoas e o que pensava a administração. Não houve coisas maiores sobre isso. É comum no dia a dia daqui. Mas, eu acho que uma equipe tem que estar afinada. Eu não posso ter um discurso e os outros da equipe um discurso diferente. Ou é equipe ou não é.

A GAZETA – Que avaliação pode ser feita da produção de conhecimento na Ufac durante a sua gestão? Aumentaram as pesquisas durante o seu período à frente da reitoria?
Olinda
– Eu acho que nós investimos bastante. A Edufac [editora da Universidade Federal do Acre] está publicando muita coisa que é feita pela universidade… a editora já publicou vários livros. Evidentemente, essas publicações não contemplam a variedade dos órgãos financiadores…

A GAZETA – Qual é o orçamento da Ufac e quanto dele é dedicado à pesquisa?
Olinda
– Pra pesquisa…? [pensativa] Nós temos um percentual que vai para a Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação e ali os recursos são divididos para a pesquisa propriamente dita e para a pós-graduação que, neste momento, está com foco exclusivamente nos mestrados. As pesquisas são gerenciadas pela Diretoria de Pesquisa. Essa diretoria elabora um edital. As pessoas podem participar com bolsas. Os investimentos em pesquisa têm sido concretizados por meio dos próprios pesquisadores por ação dos órgãos financiadores. As pesquisas não são realizadas com recursos da instituição. Cada pesquisador elabora um projeto e busca realizar suas pesquisas, nos órgãos financiadores como CNPQ, por meio dos editais. Eu não tenho a dimensão, mas não é pouco dinheiro. Se não me engano, são 300 milhões para investir em pesquisa. Evidentemente que essa verba [do Governo Federal] deve ser dividida com instituições de todo país. Mas, nossos pesquisadores aqui têm buscado, têm aprovado bastante projetos. Não tenho o dimensionamento do total.

A GAZETA – A senhora avalia que a relação da comunidade com a Ufac está boa?
Olinda
– Eu acho que poderia ser melhor. Ocorre que nós estamos vivendo ainda uma situação muito crítica em relação a servidores. Hoje, o pessoal da universidade vive atarefadíssimo de atribuições… quando tem outros projetos com a comunidade, eles deixam outros afazeres aqui porque você não tem como conciliar as atividades de extensão e as tarefas que são comuns aqui. Há muitas tarefas aqui que vão muito além das atividades dos professores, por exemplo, que é dar aulas e pesquisar. A Extensão tem feito um trabalho muito grande com a população. Só que não é visto.

A GAZETA – Professora, ainda falando de gestão, a senhora pretende implantar o ponto eletrônico para os servidores da Ufac?
Olinda
– Nós levamos um esboço de um projeto para implantação do ponto eletrônico para ser discutido no Conselho Administrativo. Foi escolhida uma comissão para estudar esse projeto, inclusive respeitando a carga horária. Porque a lei obriga que tenha o ponto eletrônico. Nós, hoje, estamos trabalhando em dois turnos. A UnB [Universidade de Brasília] conseguiu votar o turno de seis horas com ponto eletrônico. Eu disse para a comissão fazer um estudo minucioso. Porque como nós não temos funcionários a contento, se nós dermos o turno de seis horas, vão haver vários setores que vão fechar pela parte da tarde. E isso não é conveniente. O Conselho Administrativo deve entender esse momento como um ‘momento de transição’ e depois, na reposição desses funcionários, aí, sim, implantar o ponto eletrônico com o ‘horário corrido’ [turno de seis horas ininterruptas].

A GAZETA – A senhora defende, então, o ponto corrido?
Olinda
– Há muito tempo que eu defendo. Nós temos que ter um controle interno. Não é com implantação de ponto que melhoraremos a qualidade dos serviços. Temos que trabalhar com metas de produção. Falta muita coisa ainda. Não deu tempo para elaborar um manual de normas e conduta por setores. O funcionário não pode vir aqui e ficar de cara pra cima. Ele tem que ter tarefas. Nós estamos trabalhando para formular o Regimento Geral da universidade e votá-lo até o segundo semestre.

A GAZETA – Professora, a sua herança do ex-reitor Jonas Souza foi uma boa herança? A impressão que fica é de que a senhora herdou muitos problemas. A sua relação conflituosa com o Tribunal de Contas da União é um exemplo.
Olinda
– O Jonas fez a universidade crescer. Ele implantou o Reuni, que todo mundo criticou, mas, hoje a universidade está do jeito que está graças ao Reuni… então, nos últimos anos houve esse incremento muito grande na instituição. Por isso, os problemas se acumularam na minha gestão. Há um problema de modernização. Não sei se naquela época, a universidade estava preocupada com isso. Mas, hoje, há essa preocupação. As exigências dos órgãos de controle estão muito detalhadas e isso não havia no passado. A expansão deixou a universidade um pouco desorganizada porque não teve tempo para disciplinar, normatizar.

A GAZETA – E o TCU?
Olinda
– Eu não tenho relação conflituosa com o TCU. Já estive com dois ministros. E foi dito: nós temos entrada de servidores novos muito grande e a quantidade de servidores antigos também grande. E trabalhar sob pressão dos órgãos de controle é muito complicado. Você recebe uma demanda hoje para ser respondida em cinco dias; recebe outra amanhã para ser respondida em dez; quinze… é impossível. E tudo cai em um setor: o setor de Gestão de Pes-soas. Isso é complicadíssimo. Os cálculos de lá não coincidem com os cálculos de cá. Dão conflito. E temos uma gestão lenta. Temos tentado agilizar e é por isso, talvez, que me chamam de centralizadora… mas o problema é que corremos contra o tempo. Temos que ser ágeis e nós não somos ágeis.

A GAZETA – A senhora avalia que vai precisar de um novo mandato para deixar as coisas no ritmo que considera ideal?
Olinda
– Não. Eu não sou candidata à reeleição. Eu não concordo com um novo mandato.

A GAZETA – A senhora é contra o instituto da reeleição?
Olinda
– Sou. Sempre fui. Em todos os níveis. A alternância do poder é saudável. A democracia pressupõe a alternância do poder. Se vai ficando.. vai ficando… isso não é democracia. É ditadura.

A GAZETA – O desfecho do problema do vestibular foi justo na sua avaliação?
Olinda
– O caso não está encerrado. Temos um diálogo permanente com o Ministério Público Federal, desde que eu entrei aqui. Agora, nesse episódio… a universidade foi muito infeliz na condução dessa questão. Não na resposta com o problema posto, mas durante o problema. Não vimos a questão com os detalhes que mereciam. Na hora, talvez, tenha faltado bom senso… porque com bom senso eu acho que essa questão teria sido resolvida. Eu não sabia a dimensão do problema. Pensava que era um ou outro. E acho que a universidade pecou nisso aí. Faltou bom senso. Estamos aqui para conduzir com isonomia todas as questões. E, se alguma coisa aconteceu de injusto, lamentamos. Mas o processo está correndo no Ministério Público. Mas, há uma coisa que eu sempre coloco. O edital passou três meses para ser lido e lá estava especificado. Por que essas pessoas não se prepararam?

 

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