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Moisés Diniz e major Rocha convergem para o diálogo

A sessão de ontem na Aleac poderia ter descambado para um confronto radical entre o líder do governo Moisés Diniz (PCdoB) e o deputado major Rocha (PSDB). Mas não foi isso que aconteceu. O parlamentar oposicionista ocupou a tribuna para fazer severas críticas ao Governo em relação à postura com o movimento de policiais militares e bombeiros. Chegou a fazer as acusações usuais da oposição. No entanto, depois de dois discursos de Diniz pregando o aprofundamento do diálogo entre as partes, major Rocha, reviu a sua posição e chegou admitir alguns exageros por parte do movimento militar.
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No final da sessão os dois parlamentares concederam várias entrevistas à imprensa admitindo que o único caminho viável para a solução do impasse é o diálogo.  “Nós temos que entrar numa fase de desmontar os pontos de tensão entre as partes e retirar os obstáculos para um diálogo que leve ao consenso. A tropa levantou esse debate sobre o risco de vida. Não tenho em detalhe o que a tropa pensa e o que o Governo tem para oferecer financeiramente. Mas acho uma bandeira atrativa que deveria ser colocada na mesa para os soldados que ganham menos poderem ter uma valorização”, apregoou Moisés. 

A preocupação do líder do governo é que as discordân-cias se aprofundem. “A minha fala foi que depois da paralisação a gente viu opiniões de vários lados que tendem levar a um confronto. Entendo que a gente pode reduzir esses pontos de confronto e promover o diálogo para uma solução que contemple todas as partes”, argumentou.

Disciplina militar
Indagado sobre as possíveis punições que os militares e bombeiros possam sofrer por terem participado do movimento do último sábado, Moisés contemporizou: “sobre a disciplina do comandante não posso me posicionar contra porque é uma decisão interna da Polícia Militar. Mas eu prefiro um olhar humanista. Podemos olhar a indisciplina sobre vários pontos de vista. Se um soldado deixou de trabalhar porque passou o dia anterior enchendo a cara e não agüentou ou se envolveu numa briga na vizinhança foram feitas transgressões claras. Uma indisciplina por um melhor salário e qualidade de vida pode ser encarada de outra forma. Talvez de maneira política. Não estou dizendo que o comandante não deva exercer as ações internas que definem os códigos e os estatutos. Mas acho que é preciso ter um olhar humanista sobre as ações humanas”, salientou.

Mudança na forma de negociação
Moisés Diniz deixou claro que a maneira como estão sendo conduzidas as negociações não estão sendo eficientes. “As portas de negociações estão abertas. Mas o nosso Governo tem um modelo de negociação que está se esgotando. Um modelo que se esgota é o que provoca confronto e greve. Então é preciso construir novas formas de negociações do Governo e do movimento sindical. Tenho divergência com o deputado Rocha porque acho que a greve de 24 horas não ajudou. Mas nós precisamos avançar num novo modelo de nego-ciação”, afirmou.

Questionado se o modelo esgotou devido a participação do assessor especial Francisco Nepomuceno, o Carioca, Moisés negou. “O jogo não é de personalidade, mas da forma. Estou entrando nas negociações e acho que isso ajuda ainda que não esteja nomeado pelo Governo. Converso com o Rocha e posso influenciá-lo. Ontem conversei com vários soldados que também me influenciaram. A capacidade da gente conquistar vitórias para Polícia Militar virá de uma nova aprendizagem de negociação tanto por parte do Governo quanto do movimento social”, disse ele.

Para o líder é preciso que os representantes do Governo conheçam mais de perto a realidade social acreana. “Não só o Carioca, mas outros assessores deviam fazer como o Tião Viana (PT). Ele pega um avião e vai para um seringal lá no baixo Tarauacá chamado Socó para conversar com os agricultores. Quando um político leva a sua cabeça para onde estão os seus pés conhece mais os problemas. É preciso visitar mais as escolas, os quartéis, os bairros. Diálogo é o único remédio que não efeito colateral”, garantiu.

Major Rocha lembra história do PT
Depois de receber vários jovens soldados da PM preocupados com as conseqüên-cias do movimento, o deputado Rocha afirmou que as punições seriam um erro. “Acredito que o Governo tem que usar o bom senso. Um partido que foi criado em cima da defesa do trabalhador não pode se voltar contra quem reivindica melhorias salariais. Antes as categorias que reivindicavam melhores salários eram presas e perseguidas. Hoje estão querendo demitir policiais militares. Para mim é um erro político e uma contradição com a história do PT que foi criado em cima das lutas trabalhistas”, destacou.

Respeito à hierarquia militar
Lembrado de que os militares fazem parte de uma categoria considerada essen-cial e que vive sob uma disciplina diferenciada, Rocha alegou: “não foi quebrado o respeito à hierarquia militar porque os soldados simplesmente não foram trabalhar e faltaram ao serviço. Pelo regulamento disciplinar isso é uma falta administrativa. Os militares têm uma vedação constitucional. Mas a Saúde também é um serviço essencial. Acredito que a coisa pode ser resolvida com diálogo ou ficar mais acirrada. E não queremos isso. Os militares querem apenas um aceno de que o Governo está ciente dos problemas deles e está em busca de uma solução”, garantiu.

Solução pacífica
O parlamentar oposicionista garantiu que os militares respeitarão a data marcada para reiniciar as negociações. “Nós vamos esperar o dia 27 de maio. Os militares estão muito ansiosos, mas se cria um clima de instabilidade quando alguém vai às unidades para ameaçar. O momento é de serenidade e de buscar o consenso e não de acirrar mais os ânimos. Todas as categorias quando estão insatisfeitas se manifestam. Respeitamos a situação de não deixar a população desguarnecida. Alguns municípios ficaram com o policiamento bastante reduzido, mas não aconteceu nada diferente do que acontece em outros finais de semana”, explicou.

Outro ponto que o parlamentar fez questão de frisar: “a Guarda Nacional não é um fator de intimidação. São policiais militares que têm uma missão diferenciada da nossa e que entendem a nossa situação porque nos estados deles ganham salários parecidos com os nossos. Já mantivemos contato com eles e posso garantir que em momento algum a Força Na-cional veio para o confronto”, contemporizou.   

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