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Acre vai ditar preço da castanha na região fronteiriça

Na próxima sexta-feira, está prevista para acontecer a inauguração da mais moderna indústria de beneficiamento de castanha do país, instalada em Brasiléia. A viabilidade do empreendimento só foi possível por conta das articulações realizadas pelo Governo do Acre, ainda na gestão do ex-governador Binho Marques. O investimento do Governo do Acre foi de, aproximadamente, R$ 5 milhões. A Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Estado do Acre (Cooperacre) também participa do empreendimento com investimento próximo de R$ 1 milhão. A usina é totalmente controlada por sistemas eletrônicos, com censores acionados por computador. Não há aquisição semelhante em outra região do país.
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Usina de Beneficiamento de Castanha está sendo instalada em Brasiléia
A Usina de Beneficiamento de Castanha do Brasil vai gerar 120 empregos diretos em duas fases de instalação. A capacidade operacional da unidade é de cinco mil quilos de castanha beneficiadas por dia. Isso equivale a mais de 1,5 mil latas de castanha, o que equivale a absorver a extração das regiões do Vale do Purus, Alto e Médio Acre. Técnicos do governo asseguram que, com esses números, a indústria vai ter capacidade de beneficiar 60% da extração acreana.

O foco do empreendimento não é o mercado externo. Profissionais ligados ao setor asseguram que a prioridade do Governo do Acre é o mercado brasileiro, como indica a comercialização já em execução com Nestlé e Nutrimental. E o mercado, de fato, tem potencial. Nas regiões Sul e Sudeste, o quilo da castanha não custa menos que R$ 40, chegando a R$ 46 no Rio de Janeiro.

Há mais de cinco anos, o Governo do Acre planejava a inauguração dessa usina. A gênese do projeto começou ainda na gestão de Jorge Viana, consolidou com Binho Marques e conclui agora na administração de Tião Viana. Construir uma estrutura que colocasse fim à supremacia boliviana, que praticamente ditava o preço da lata, era uma meta do Governo do Acre.

Armazenagem exige ações integradas
O beneficiamento de cinco toneladas de castanha por dia durante o ano inteiro exige planejamento rigoroso na armazenagem do produto. Em pontos estratégicos das regiões extrativistas, o Governo do Acre, em parceria com Embrapa, construiu armazéns comunitários que garantem qualidade à amêndoa e afasta a possibilidade de doenças como a aflatoxina.

Por causa da construção desses armazéns e a assistência técnica adequada, o Acre já extrai, armazena e comercializa a castanha praticamente sem aflatoxina. A qualidade das condições sanitárias é um ponto a mais para garantir bom preço fora do mercado acreano.


Governo repactua compromissos com pequenas empresas da construção civil

ITAAN ARRUDA
O Governo do Acre traçou novas metas a serem cumpridas com as pequenas empreiteiras. Endividado, o setor exigiu que o poder público cumprisse o que determinava o decreto 3.172, assinado em 3 de julho de 2008. O Acre Economia abordou o problema na edição de 10 de abril deste ano e o diálogo foi reaberto.

Depois do adiamento do encontro com o governador Tião Viana, em função da intensa agenda oficial, a conversa aconteceu na última quarta-feira à noite, no gabinete de governo. Os pequenos empresários, ao menos por enquanto, estão entusiasmados com o tom do diálogo. “A conversa foi boa”, relatou um dos empreiteiros. “Agora, só falta concretizar o que foi combinado”.

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Governador recebeu empresários na última quarta; categoria está entusiasmada

O governo também se comprometeu a cumprir o artigo 7º do decreto 3.172, que exige subcontratação de até 30% do valor total licitado de uma obra. Essa sub-contratação seria de responsabilidade das pequenas empresas do setor da construção civil. De acordo com os pequenos empresários, “isso nunca foi cumprido”.

Atualmente, o setor está organizado em três associações, por sugestão do próprio governo, ainda em 2008. Depois da conversa com o governador Tião Viana, definiu-se que as três associações serão unificadas.

Participaram do encontro com os empresários, o secretário de Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia, Indústria e Comércio, Edvaldo Magalhães, o secretário de Estado de Obras Públicas, Wolvenar Camargo, o diretor do Departamento Estadual de Pavimentação e Saneamento, Gildo César, e o diretor-presidente do Deracre, Marcus Alexandre.

Empresas planejam construir olaria exclusiva
As três associações reúnem 30 empresas. Com boas perspectivas de giro de capital, elas planejam construir uma olaria exclusiva para atender à demanda do setor. “As olarias existentes aqui não vão dar conta do recado”, calcula um dos empresários. Das 14 olarias de Rio Branco, somente 10 estão regularizadas no sindicato do setor, o que dá mais confiabilidade para o poder público quanto às questões de ordem ambiental e fiscal.

O próprio presidente do Sindicato das Indústrias de Olaria do Estado, Aristides Formighieri Júnior, admitiu no Acre Economia (edição de 10/04) que já enfrenta problemas com falta de mão de obra para atender a execução do programa Ruas do Povo, que prevê a pavimentação de todas as ruas do Acre, sobretudo utilizando a pavimentação cerâmica.

As conversas para a construção da olaria exclusiva apenas começaram. Ainda faltam muitos detalhes a serem definidos.


Governo traça plano de trabalho para implantar novo sistema de compras governamentais

MAÍRA MARTINELLO
O secretário estadual de Indústria e Comércio, Edvaldo Magalhães, reuniu-se novamente, na tarde da última sexta-feira, com representantes de quase todas as secretarias de governo e empresários filiados ao Sindicato das Indústrias de Produtos Alimentares do Estado do Acre (Sinpal), para traçar as estratégias que viabilizarão o novo modelo de compras a ser utilizado pelo Governo do Acre. Foram estabelecidos três eixos de trabalho, que devem ser aprofundados, no decorrer desta semana. Na primeira reunião com o grupo, realizada na quarta-feira, Edvaldo se comprometeu a finalizar a proposta, no prazo recorde de 12 dias, e enviar para aprovação do governador Tião Viana até o dia 30 deste mês.

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Empresários e representantes do Governo discutiram mecanismo para beneficiar indústrias acreanas nas compras

O objetivo da equipe de governo é construir um mecanismo para as compras governamentais, com segurança jurídica, que garanta o aumento da competitividade das indústrias acreanas nas licitações estaduais e, dessa forma, fomente a geração de renda e empregos no próprio Estado.

Os empresários acreanos reclamam que são prejudicados pelo atual sistema que, segundo eles, beneficia empresas de outros Estados e os chamados “pasteiros”. Além de criar uma espécie de “proteção” às indústrias locais, eles querem garantir maior participação nas licitações para as compras de alimento para a merenda escolar, para o sistema público de Saúde e para o setor penitenciário.

 “Há muito tempo estamos nos sentindo discriminados na hora das compras devido à concorrência desleal dos produtos que vêm de fora. Temos exemplos de licitações que foram vencidas por empresas de outros Estados, que ofereceram um preço baixo e depois dificultaram a entrega dos produtos com a intenção de aumentar o valor”, explica o presidente Sinpal, José Luiz Felício.

Os empresários relatam ainda que falta qualidade nos produtos entregues por estes concorrentes, por isso eles conseguem oferecer um preço mais baixo. Muitos dizem que amargam sérios prejuízos e foram obrigados a demitir funcionários. É o caso de Thomás Solito, dono da indústria Macarrão Thaina.  Ele, que já chegou a ter 25 funcionários, hoje tem apenas quatro. E sua produção, que chegou a ser de 4,5 mil quilos por mês, agora está em 1,2 mil.

“Nós geramos empregos e renda aqui no Acre, mas os que vêm de fora é que são beneficiados”, desabafou.

Sobre a proposta
A idéia do governo estadual é implantar no Acre a mesma experiência que vem sendo feita no Amazonas, onde foi criada uma “Agência de Desenvolvimento Sustentável”, que faz o credenciamento das indústrias locais e realiza as compras sem necessidade de licitação.

Edvaldo Magalhães explica que um dos primeiros passos é desenvolver um sistema de certificação para as empresas que irão participar do credenciamento e estabelecer critérios justos de escolha das indústrias que seriam beneficiadas.

O segundo é viabilizar a equalização da alíquota de ICMS entre as empresas que participam do pregão eletrônico, o que será feito junto à Secretaria Estadual de Fazenda. O secretário argumenta que, da forma como é feito hoje, muitas empresas de fora que recebem incentivos de ICMS em seu Estado de origem acabam vencendo a licitação no Acre porque conseguem oferecer o produto a um preço bem inferior ao do mercado local.

“Os pregões eletrônicos acabam se tornando instrumentos de concentração de renda e até gerador de corrupção. Sei que estamos entrando numa briga grande, mas o desafio é garantir um caminho inovador e ousado para beneficiar as indústrias acreanas”, destaca o secretário.

O terceiro passo é determinar a forma como a futura Agência será utilizada para realizar as compras governamentais, ação que deve estudada pela Procuradoria Geral do Estado (PGE), de modo a garantir segurança jurídica para os negócios.

Paralelo aos estudos da equipe de governo, os empresários se comprometeram a apontar a lista de produtos regionais que poderão ser comprados e incentivados com o novo sistema.


Miséria atinge mais de 65 mil crianças de 0 a 14 anos no Acre

ITAAN ARRUDA
Jorgeline de Lima Alexandre mora na rua Chico Mendes. Bairro: Calafate. Trinta e um anos e cinco filhos depois, foi informada de que está grávida novamente. Não é casada e os filhos pouco se parecem entre si. Mora em uma casa de apenas um cômodo, no fundo de outra residência. Jorgeline compõe uma das 59.142 famílias contempladas pelo Bolsa-família no Acre e recebe R$ 161 pelo programa federal. É a única certeza de renda mensal.

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Jorgeline: R$ 166 de renda mensal para a família

O Governo do Acre contabiliza que das 59,1 mil famílias contempladas pelo programa federal, 52.432 estão abaixo da linha de pobreza. Traduzindo: são miseráveis. Tecnicamente, têm uma renda per capita de até R$ 70 por mês. Os dados do Departamento de Proteção Básica fornecidos pelo Governo do Acre coincidem com o Censo Demográfico 2010 divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. De acordo com o IBGE, o Acre possui 65.036 crianças de 0 a 14 anos que vivem na miséria. São, por exemplo, os filhos de Jorgeline, incluindo o sexto, que ainda está no ventre. É uma geração completa que já nasce excluída.

Rejane Neri Roldes tem 27 anos. Dois filhos. Recebe R$ 102 do Bolsa-família. É casada e o marido trabalha. Rejane tem mais sorte: é pobre. Não é miserável. O exemplo dela é ilustrativo para demonstrar que existem formas de superar a miséria que conciliam ações do poder público com o incentivo às iniciativas privadas. Ela freqüenta o Centro de Referência em Assistência Social do Calafate. As oficinas e orientações fornecidas ensinaram a ela a pintura em tecidos.

Foi o que faltava. Com esforço próprio, passou a vender guardanapos pintados com frutas e outros adereços simples. O acúmulo do pouco dinheiro proporcionou a ela comprar os eletrodomésticos e a mobília de sua casa. “Agora, quero melhorar a casa”, disse, olhando o ambiente de um só cômodo feito de madeira.

O Acre possui também o terceiro maior número de miseráveis da região Norte com população com mais de 65 anos. São 1,6 mil pessoas em todo Estado.

A equipe do Acre Economia procurou por quatro vezes o secretário de Estado de Desenvolvimento Social, incluindo contatos por telefone, para que ele se pronunciasse sobre o grande número de miseráveis no Estado. Até o fim da edição não houve retorno.


Sabor do sucesso

MAÍRA MARTINELLO
Eles começaram em um ponto de 1 metro quadrado (!), com uma máquina de sorvete expresso dessas tantas que se vê por aí. Atrás do balcão, o casal Janaína e Roney Magalhães levou a parceria dos 12 anos de casamento (na época) para o pequeno negócio que garantiria o futuro da família. Da minúscula sorveteria em frente ao Colégio Acreano, o Mister Sabor cresceu e, cinco anos depois, emprega 12 pessoas e tem hoje uma sede moderna, com direito a sistema informatizado e câmeras de segurança, num privilegiado espaço no Canal da Maternidade, um dos pontos comerciais mais valorizados da cidade.

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Janaína e Roney: da minúscula sorveteria à lanchonete climatizada, com variedade de sorvetes finos

A filial no Calçadão do Colégio Acreano continua lá, porém maior, mais incrementada e carregando a marca que hoje é referência de qualidade, diversificação e, claro, bom sabor. O cardápio é bem mais variado. Além dos tradicionais milkshakes e sorvetes italianos, que ganharam fama e fizeram o sucesso do empreendimento, o Mister Sabor oferece agora sorvetes finos de requintados sabores, empadas doces e salgadas, sucos e mais de 20 tipos de sanduíches e lanches para todos os gostos.

Qual foi a “receita” para que aquela pequena e simples sorveteria tenha rendido tão bons resultados? Janaína e Roney revelam o segredo: dedicação e inovação. Ingredientes até bem simples e óbvios, mas que não se encontram em qualquer pessoa ou em qualquer lugar.

Janaína conta que, quando comprou a primeira máquina e fez o curso para operá-la, o casal não gostou do sorvete feito com a receita padrão. “Começamos então a estudar para fazer o melhor sorvete de máquina e o melhor milkshake que fosse possível fazer. Balanceamos os ingredientes de outras formas, várias vezes, até chegar a uma fórmula que nos agradasse. Fomos atrás até de um amigo químico que morava em Brasília para ajudar a chegar na receita ideal”, recorda.

Ela lembra ainda de quantas vezes o casal distribuiu sorvetes de graça até que o Mister Sabor caísse no gosto dos clientes. “Éramos apenas nós dois, de toquinha na cabeça, atrás daquele balcão… As pessoas vinham e perguntavam: ‘o que é isso aí? Dá aí o menos enjoento!’ A gente ria porque elas sempre voltavam depois e, o mais importante, faziam a nossa propaganda. Em menos de seis meses, já compramos a segunda máquina e não paramos mais”, diz.

Janaína recorda que, no início, aquela idéia de vender milkshakes em copos descartáveis parecia estranha até para ela. Mas ela embarcou no sonho, e hoje os dois se orgulham ao contar que o Mister Sabor “popularizou a venda de milkshake  na cidade”. Hoje, eles têm até uma “mini-fábrica” de sorvetes na lanchonete, onde estão sempre criando e produzindo novos sabores.

 “Pode parecer fácil administrar uma pequena lanchonete ou uma lojinha miúda de sorvete. Mas, para nós, o básico nunca foi suficiente. Sempre buscamos estudar, nos dedicamos ao nosso negócio para inovar… Para que o Mister Sabor se tornasse um bom negócio de verdade. Nosso objetivo foi criar um padrão de tradição e de qualidade, para que o cliente experimentasse um diferencial e, quando voltasse, encontrasse a mesma característica do produto que provou na primeira vez”, ensina Roney.

A dupla se prepara agora para entrar num novo ramo. Após voltar de um curso em São Paulo, no qual se especializou em produção de sorvetes finos, Janaína acompanha o marido estudar para se tornar um “especialista em cafés”.

“Quero saber tudo sobre cafés para investir numa cafeteria. Como no negócio dos sorvetes, vamos trabalhar, experimentar e nos especializar até chegar num produto diferente e que agrade o nosso público. E não vamos parar por aí”, almeja o empresário. 

Alguém dúvida que vai dar certo?

Serviço
Mister Sabor 
Canal da Maternidade (próximo ao restaurante Paço)

Terça a sábado – 15h às 23h
Domingo – 16h30 às 23h


Pequenos negócios movimentam economia acreana

Nayara Lessa, da Fecomércio, para o Acre Economia
Novo formato comercial é utilizado, geralmente, para testar o potencial em uma nova cidade ou um novo shopping. Em Rio Branco, o formato já tomou conta dos supermercados. Em meio à crise, quiosques e estandes despontam como boa opção na hora de investir. Eles estão localizados nos pontos mais estratégicos, em aeroportos, supermercados e rodoviárias. Vendem de tudo: de óculos escuros a sapatos, passando por artesanato, meias e bijuterias.

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Há dois anos no Acre, vendas na Chilli Beans tem surpreendido a empresária

No Acre não é diferente. Os supermercados da cidade estão entre os lugares preferidos para investimento desses empresários. Esse novo formato comercial é utilizado, geralmente, para testar o potencial em uma nova cidade, um novo shopping.

De acordo com o professor de empreendedorismo e gestão, Leonardo Medeiros, “o investimento inicial é menor, não é necessário gastar em reformas e, caso o ponto não seja o  ideal ou não dê o retorno esperado, é só mudar para outro corredor, porque, em geral, os contratos são de apenas três meses”, explica.

A Chilli Beans é uma das maiores redes brasileira especializada em óculos escuros. A marca tem como objetivo provocar renovações de visual e comportamento. A grife surgiu em outubro de 2000, no formato de quiosques – a primeira loja seria aberta dois anos depois-  para que as pessoas “entrassem no universo Chilli Beans”. Ainda hoje, 45% dos pontos de venda são quiosques.

A vendedora da Chilli Beans no Acre, Thaís Almeida, explica que a loja inaugurou a pouco mais de dois anos e conta que a aceitação tem surpreendido. “A localidade do ponto é um fator que facilita muito na hora das vendas. Por estar localizada em um supermercado, o movimento é muito bom!”, conta Thaís. 

A Araújo Sport Center é conhecida pela qualidade dos tênis, meias, sandálias e camisetas de time, e também comemora o sucesso das vendas e da escolha do ponto comercial. A loja funciona de segunda a sábado, das 7h as 22h, e no domingo, das 7h30 as 20h30, no Supermercado Araújo da Isaura Parente.

“Neste local, nós temos estacionamento, segurança, bancos, ambiente refrigerado. Estes são fatores favoráveis na hora das compras. A aceitação dos clientes tem sido ótima, principalmente por ser a primeira loja do segmento em um supermercado da cidade. O ponto é o melhor que poderíamos ter escolhido”, fala, entusiasmado, o proprietário da loja, Francisco Passos.

 Mariane Santos que trabalha na Dika’s Presentes, localizada no supermercado Casa dos Cereais, conta que o movimento da loja tem sido excepcional. A loja comercializa bijuterias, perfumes, relógios, óculos, além de itens para presentes. “A loja existe há cerca de quatro anos e, devido à boa aceitação, a proprietária tem procurado investir cada vez mais no negócio”, explica Mariane.


ARTIGO





Morando no interior das florestas acreanas: o papel do crédito habitação do Incra

Raimundo Cláudio Gomes Maciel1
AAA121CAST8A situação das condições de vida dos extrativistas (seringueiros, castanheiros e ribeirinhos) da região amazônica, em particular no Acre, é frequentemente mencionada em diversas discussões sobre o tema na sociedade. Dentre os diversos aspectos das condições de vida dessa população, as condições de moradia sempre foram representativas na ideia do que seja morar na floresta.

Ao longo do tempo, a representação da casa de uma família seringueira feita por livros, pinturas, quadros, entre outros meios de divulgação da história da região amazônica, era sempre a de uma casa feita de paxiúba, em cima de tocos ou barrotes, e coberta de palha. Porém, nos últimos anos, tem-se visto uma mudança significativa nos tipos de moradias entre os extrativistas da região, especialmente naquelas localizadas nas Reservas Extrativistas.

Recentemente, as comunidades extrativistas receberam o crédito habitação concedido pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), que faz parte do pacote de financiamentos destinados aos colonos moradores dos projetos de assentamentos em todo o estado do Acre. Agora, muitos extrativistas estão de casa nova, construída de madeira serrada, com algumas divisões internas (quartos, sala, cozinha) e cobertura de alumínio. Podem-se ver essas casas em vários lugares acreanos. Por exemplo, identifiquei essa ocorrência na Vila Restauração, que surgiu em torno do seringal Restauração na Reserva Extrativista do Alto Juruá, município de Marechal Thaumaturgo. Porém, surgiu uma pergunta: por que aumentaram a quantidade de casas na referida Vila e não nas colocações dos seringueiros?

Ora, aparentemente o crédito habitação está revigorando a vila em torno do seringal Restauração. Contudo, as raízes dessa concentração podem ser percebidas pela desarticulação do extrativismo tradicional da borracha. Constata-se que, atualmente, não se produz mais nenhum quilo de borracha naquela região. Por quê? Porque simplesmente não tem mais ninguém que compre borracha nessa e nas localidades vizinhas!!!! Assim, o que está acontecendo é uma fuga em massa dos centros dos seringais para as margens dos rios e igarapés maiores em busca da sobrevivência. Ademais, a concentração de casas em torno da conformação de uma vila pode ser considerada, também, uma estratégia de sobrevivência das famílias, notadamente a partir das famílias mais tradicionais estabelecidas nas diversas localidades no interior da floresta.

O crédito habitação é uma política importante para o fortalecimento e fixação dos extrativistas na floresta, mas ainda insuficiente para a manutenção dos mesmos na própria floresta, mesmo em vilas – que apresentam os graves problemas sociais (desemprego, prostituição, alcoolismo, entre outros) que assolam os núcleos urbanos das cidades, notadamente nas periferias, porém com contornos piores, haja vista a quase ausência do poder público nessas áreas.

Assim, com o oferecimento de alternativas produtivas junto ao crédito habitacional, entre outras políticas institucionais, tais como, melhorias na infraestrutura, comercialização etc., tudo indica que, ao invés da formação de vilas no interior das florestas, as comunidades florestais voltem a povoar e produzir em todas as dimensões florestais, garantindo a conservação do meio ambiente e, claro, das próprias comunidades.

1 Prof. Dr. do Centro de Ciências Jurídicas e Sociais Aplicadas (CCJSA) da UFAC

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