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A importância da família no processo de educar

Verdade incontestável é a sociedade moderna viver uma crise, sem precedentes, de valores éticos e morais. E o fato de uma professora fazer essa constatação, não surpreendente, considerando ser na escola, maior parte das vezes, que essa crise torna-se muito evidente. Há um distanciamento entre escola, famílias, sociedade, quando são setores que devem caminhar de mãos entrelaçadas. Nunca a escola discutiu tanto, quanto hoje, temas como violência, falta de limites, desrespeito, desmotivação, ausência de apoio familiar, desinteresse dos alunos. Também nunca se viu tantos professores cansados, estressados, des-motivados, doentes física e mentalmente como agora. Nunca os sentimentos de impotência e frustração estiveram tão marcantemente presentes na vida escolar como estão nos dias atuais.

O sistema educacional brasileiro, massificado, nas últimas décadas, não dispõe de capacidade de reação para atender às demandas dos alunos. Uma pequena reivindicação leva meses, anos, onde esforços e ener-gias são despendidos para nada. O sistema gestor do país não tem respostas rápidas aos gritos das redes de ensino. Tudo leva grande tempo para acontecer. Não há urgência! Nas escolas, os professores, em grau de de-sespero, procuram encontrar formas para superar dificuldades, controlar conflitos e ministrar conteúdos. Desse jeito, se o Governo insiste em burocratizar a política educacional os professores não conseguirão ensinar e, menos ainda, educar os jovens. Isso porque a escola vem assumindo, também, o papel da família cada vez mais ausente. E os conflitos são de toda ordem, desde a vio-lência, a fome, a insegurança, a miséria, a desestrutura familiar, problemas de habitação, saúde, lazer, ausência de valores éticos, morais, religiosos.

Nesse cenário, grande questão se impõe: Até quando a escola vai continuar assumindo, isoladamente, a responsabilidade de educar? A resposta está repleta de reflexões sobre o papel da escola, dos professores, do Governo, da sociedade, das famílias e o mundo complexo dos alunos.

Nesse cenário, observa-se mudanças significativas na forma como as famílias se encontram estruturadas. Aquela família tradicional já não existe. Atualmente, existem famílias dentro de outras famílias. Com as separações e os novos casamentos, aquele núcleo familiar tradicional cedeu lugar às diferentes famílias vivendo sob o mesmo teto. Esses contextos familiares geram uma sensação de insegurança e até mesmo de abandono, pois a idéia de pai e mãe cuidadores, cede lugar para diferentes pais e mães “gerenciadores” de filhos que nem sempre são seus.

Depois, a sociedade exige que pais e mães assumam posições cada vez mais competitivas no mercado de trabalho, enquanto antigamente as funções exercidas, dentro da família, eram bem definidas. Pai e mãe, além de assumirem diferentes papéis, conforme as circunstâncias, passam os dias fora de casa para suas atividades profissionais. Sabem-se de crianças e adolescentes que ficam aos cuidados de parentes, ou pessoas estranhas. Maior parte das vezes, as crianças ficam sozinhas, entretidas na rua, em casa diante da TV ou plugadas na internet. Esses jovens escolhem o jeito próprio de viver. Não há quem os oriente, afinal eles ficam abandonados e muitos só vêm os pais à noite. Natural surgir os conflitos.

Esses conflitos acabam agravando-se quando a escola tenta intervir. E, muitos pais, por trabalharem fora, ou não serem “verdadeiros pais”, delegam responsabilidades à escola. Contudo não aceitam quando essa mesma escola exerce o papel que deveria ser deles. Ou seja, os pais que não têm condições emocionais farão de tudo para encontrar argumentos e pinçar fatos, a fim de imputar aos professores, à escola, o fracasso do filho. Fica uma situação descontrolada. Nem a escola controla a criança e nem os pais.

 É importante compreender que, apesar de todas as situações aqui expostas, o objetivo não é condenar ou julgar. Verifica-se, apenas, que ao longo dos anos, gradativamente, a família, por força das circunstâncias de vida, tem transferido para a escola a tarefa de formar e educar seus filhos. Entretanto, essa situação não mais se sustenta. É preciso trazer, o mais rápido possível, a família para dentro da escola. É preciso que ela passe a colaborar de forma mais efetiva com o processo de educar. É preciso, portanto, compartilhar responsabilidades e não transferi-las.

Nesse cenário, a família deve ser o espaço indispensável para garantir a sobrevivência e a proteção integral dos filhos, independentemente do arranjo familiar que tenha sido feito: pai, padrasto, mãe, madrasta, pai separado, mãe separada. Enfim, os filhos devem ser amparados, protegidos e educados para a cidadania.

Para finalizar, apontam-se algumas estratégias que se não trazem soluções definitivas, podem apontar caminhos para futuras reflexões. Antes de tudo é preciso compreender que quando houver parceria entre escola, família, governos, alunos, professores, muitos dos conflitos serão, gradativamente, superados. No entanto, para que isso possa ocorrer é necessário que a família participe da vida escolar de seus filhos. Pais e mães devem comparecer à escola não apenas para entrega de avaliações ou quando a situação já estiver fora de controle. O comparecimento e o envolvimento devem ser permanentes e, acima de tudo, construtivos, para que a criança e o jovem possam se sentir amparados, acolhidos, protegidos, amados.

DICAS DE GRAMÁTICA
CHEGOU EM RIO BRANCO ou CHEGOU A RIO BRANCO?
– Verbos de movimento exigem a, e não em: Chegou a Rio Branco. / Vai amanhã ao cinema. / Levou os filhos ao circo. 

 Luísa Galvão Lessa – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montreal, Canadá. Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Pesquisadora Sênio da CAPES.

 

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