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Acre é destaque em festival de cinema ambiental de Goiás

Arte e cultura podem ser um bom negócio quando bem exploradas. Há 13 anos que o governador Marcondes Perillo (PSDB) resolveu explorar o potencial turístico da cidade histórica de Goiás (GO). Assim nasceu o FICA (Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental) que atrai produtores do mundo inteiro e movimenta 100 mil visitantes durante os seis dias do festival. Além dos filmes, acontecem oficinas, debates e shows de grandes nomes da MPB. Hoje Maria Rita se apresenta em praça pública, no final de semana Manu Chao e Rita Lee serão as atrações junto com diversas bandas de jazz, rock e música regional que fazem os shows de abertura.
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Cinema e comunidade
Mas o mais interessante do FICA é o envolvimento da comunidade da Cidade de Goiás. Nos dias que antecedem o evento os moradores fazem um mutirão para limpar as ruas, prédios antigos e monumentos para receber os visitantes. Completamente patrocinado pelo Governo de Goiás que investe cerca de R$ 4 milhões, o Festival receberá na sua décima terceira versão um público estimado em 100 mil pessoas vindas do Brasil e do exterior. Todos os hotéis e restaurantes da cidade histórica de 25 mil habitantes ficam completamente lotados. Isso cria, inclusive, uma economia paralela no município com o aluguel de casas particulares, espaços para camping e a venda de alimentação caseira.

Segundo Décio Coutinho, diretor do FICA, a comunidade é o centro das preocupações dos organizadores. “A cada ano estamos transferindo a responsabilidade para a comunidade de Goiás. O grande desafio é pensar no Festival com uma gestão independente. A sustentabilidade é assegurada quando a comunidade se envolve no processo. Este ano estamos debatendo o futuro do FICA. A cidade passa o ano inteiro em função do Festival que valoriza a economia local gerando emprego, renda, troca de tecnologia e diálogo com a comunidade. Inclusive, muitas cidades vizinhas são beneficiadas porque a cidade de Goiás não comporta toda a demanda. A idéia é que o Festival seja uma plataforma de desenvolvimento e uma estratégia de comunicação positiva de um Estado que trabalha o cinema com uma preocupação ambiental de sustentabilidade”, explicou.

Personagens acreanos
O FICA que começou na última terça-feira (dia 14) e vai até domingo (dia 19) está tendo uma participação especial do Acre. Estava programada uma palestra da ex-ministra Marina Silva (PV-AC) que falaria sobre o encontro Rio + 20. Mas ela não compareceu por motivos de saúde. Ficou a cargo do índio ashaninka Banki Pinhanta falar sobre as experiências comunitárias no interior do Acre. A sua palestra atraiu mais de 500 pessoas. “Essa é uma oportunidade para a reflexão das diretrizes da Rio + 20, que será um dos mais importantes encontros sobre meio-ambiente do planeta. Eventos como o FICA deveriam acontecer também em outros lugares do Brasil. As pessoas precisam estar conscientes e informadas sobre o que está acontecendo sobre o meio-ambiente no país. É uma forma de chamar a atenção dos nossos governantes para que fiquem sensíveis a novas formas de desenvolvimento”, avaliou o indígena acreano.

Economia criativa
Outro Fórum importante que acontece paralelo a mostra de filmes é sobre a produção cultural no interior do Brasil. O consultor do Sebrae acreano, Alex Lima, foi um dos convidados por estar desenvolvendo no Estado um modelo que chamou a atenção do resto do país. “Existe um trabalho nosso sobre cultura que começou em 2009. Fizemos um levantamento do nosso patrimônio material e imaterial. Isso se transformou num grande banco de dados. Ensinamos gestão e organização aos grupos culturais no Acre. Identificamos dois potenciais na economia da cultura: a música e as artes visuais. No Acre estamos trabalhando justamente a economia criativa. O convite para participar do FICA é um reconhecimento do que estamos fazendo”, relatou.

Cacá Diegues elogia modelo de desenvolvimento acreano
IMG_5498Um dos diretores brasileiros mais importantes da história do cinema brasileiro, Cacá Diegues, é o diretor do júri da mostra competitiva de filmes. Ontem, durante uma entrevista coletiva com mais de 50 jornalistas brasileiros e estrangeiros, Diegues falou do atual momento cinematográfico do país. “Confesso que nesses anos todos nunca vivi um momento tão rico e fértil com a produção de cinema no país. Nos últimos anos temos produzido filmes de todas as tendências e não temos mais um cinema centrado no Rio e São Paulo. As produções têm sido feitas em diferentes regiões e com as novas gerações de cineastas. Um trabalho coletivo entre os produtores, o poder público e a so-ciedade que está mais interessada”, comemorou.

Quanto aos filmes da Mostra, o diretor considerou de excelente nível. “Temos uma programação variada com alta qualidade técnica. O que me surpreendeu é que ao mesmo tempo os filmes contemplam a temática do meio ambiente e são bem realizados. A relação entre o meio ambiente e a linguagem cinematográfica está muito bem contemplada. Não tem importância classificar o filme por tema. É preciso falar de tudo. O cinema é uma forma de conhecimento humano que permite a aproximação entre as comunidades. O cinema serve para transformar o mundo num só. Isso pode ser feito com qualquer temática. Mas o importante é que tenham o espírito humanista que o cinema representou no século XX”, apregoou. 

Para Cacá Diegues o novo cinema brasileiro tem um foco mais variado. “O que é mais importante para o cinema brasileiro, um filme passado na Avenida Paulista, em São Paulo, ou no Acre, onde acabei de filmar um documentário e fiquei encantado com o Estado? Tudo isso são formas de estimular a visão cinematográfica do Brasil. O nosso país nasceu para o cinema e poucos países têm essa oportunidade de uma diversidade de paisagens, da geo-grafia humana e cultural. Quando se cria condições para que os filmes sejam feito explodem novas gerações de cineastas no Brasil inteiro. Isso é um privilégio que a gente deve cultivar”, ressaltou.

Indagado sobre o filme que realizou no Acre, Cacá Diegues, não poupou elogios à experiência que viveu.  “É um documentário muito interessante sobre Florestania que é um programa do Acre financiado pelo Banco Mundial sobre educação, saúde e economia sustentável na floresta. O que é feito para as pessoas não migrarem para as cidades e para que tenham na floresta o que poderiam ter nos centros urbanos. Se eu começar a falar sobre isso não vou parar mais porque adorei a experiência. O projeto está concluído e será exibido na televisão”, finalizou.

 

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