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Marcos Alexandre: uma vida dedicada às obras do Acre

Apesar de ser ainda jovem para ocupar um cargo tão importante, o diretor-geral do Deracre, Marcos Alexandre, acumulou uma grande experiência profissional realizando obras na Amazônia. Com uma carreira de engenheiro civil totalmente dedicada ao Acre, o paulista de Ribeirão Preto, de 33 anos, tem origem numa família humilde. Estudou na Unesp, uma faculdade pública de Ilha Solteira (SP) com o auxílio de uma bolsa de estudo da Fapesp. Para pagar os créditos da bolsa passava os finais de semana e as férias na universidade desenvolvendo projetos de pesquisa. As necessidades da vida o obrigaram a trabalhar muito para vencer os desafios e alcançar os seus objetivos.
Quando estava para se formar apareceu à possibilidade de vir para o Acre trabalhar com o ex-secretário de planejamento Gilberto Siqueira.

Desde 99 que Marcos Alexandre se tornou uma das peças técnicas chaves de um dos projetos mais importantes dos governos da Frente Popular: a conclusão da BR-364. No Planejamento ajudando a elaborar projetos para conseguir recursos e no Deracre capitaneando todo o processo. Nessa entrevista exclusiva À GAZETA, Marcos Alexandre conta um pouco da sua trajetória profissional no Acre, revela os diagnósticos e prazos para a conclusão da estrada e, depois de muita insistência, comenta também o momento político do Estado.

Vinda para o Acre
Marcos Alexandre conta como veio morar no Estado. “Um professor do meu curso de engenharia foi convidado a vir trabalhar no Acre. Antes de sair perguntou quem eram os formandos que teriam interesse em vir porque estava começando um governo novo no Estado, em 99. Acabei mandando o currículo e o Gilberto Siqueira me ligou para vir no dia seguinte. Eu nunca tinha andado de avião e quando cheguei ao Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, para embarcar eu tinha preparado duas malas, para levar tudo que pudesse. Deu excesso de bagagem e tive que tirar o único dinheiro que tinha no Banespa para pagar. Cheguei ao Acre sem nenhum centavo no bolso. E nem tinha como alguém me mandar dinheiro porque não havia Banespa aqui. Cheguei ao Acre no dia 9/09/99”, lembra.

O engenheiro revela que não teve problemas de adaptação apesar de ter sido criado numa das cidades mais desenvolvidas do Brasil. “Ribeirão Preto é uma cidade linda, mas quando não se tem dinheiro para freqüentar os bons lugares é um lugar muito duro. Minha família é humilde e a gente morava longe do centro. Para ir ao Shopping era preciso pegar dois ônibus. Não adiantava ter os melhores restaurantes se a não podíamos freqüentar. Até depois de me formar a minha si-tuação sempre foi muito difícil. Quando recebi a minha primeira bolsa de estudo de R$ 300 me senti milionário. Só que nas férias tinha que fazer os créditos da Fapesp (Fundação de Amparo a Pesquisa). Desde os 17 anos que estou na estrada”, recordou.

Com o pé na estrada
Ao final do Governo Jorge Via-na (PT), Marcos Alexandre, já tinha experiência e qualificação para assumir a responsabilidade pela principal obra do Acre. “O Binho fez a transição já governando. Ele conversou comigo sem deixar claro qual seria a minha função. Participei das reuniões sobre infra-estrutura e não havia sinalização de que iria para o Deracre. Por isso no dia do anúncio, em março de 2007, fiquei surpreso. A estrada avançou muito no governo Binho. Desde 99, a cada ano consigamos condições melhores. O Estado foi se organizando e recuperou a credibilidade com o Governo Federal. Na época do Fernando Henrique (PSDB) havia algumas dificuldades porque o DNIT era presidido por uma pessoa de partido contrário. Mas o impulso definitivo foi à criação do PAC no governo do Lula (PT). Essa conjuntura favorável nos permitiu avançar”, revelou.

O sonho da integração
Indagado sobre os prognósticos de que a BR-364 não fechará mais depois do verão e da sua conclusão em 2012, Marcos pondera: “tudo que estamos fazendo desde o primeiro dia deste ano é para que a gente não tenha que fechar mais a estrada. O governador Tião Viana (PT) tem cuidado pessoalmente das questões de recursos. O nosso planejamento é que a gente conclua todos os serviços na BR-364 ao final do verão de 2012. Agora, afirmar que a meta será cumprida a cinco meses de terminar o verão é difícil. Teremos que contar que no mês de outubro não haja muitas chuvas como já ocorreu. No ano passado tivemos um verão extraordinário. Este ano não trabalhamos em abril, começamos em maio e reabrimos a BR no começo de junho. Mas acredito que iremos cumprir a meta”, garantiu.

Manutenção
Uma das questões sobre a BR-364 é a sua manutenção. O diretor do Deracre acredita que o problema esteja solucionado. “Na Amazônia terminou de asfaltar tem que iniciar a manutenção. Tem coisas que parecem pequenas, como capinar as margens. Mas isso é necessário porque cria retenção de umidade e pode prejudicar o pavimento. Se houver a obstrução de um bueiro pode haver o rompimento da estrada. No trecho de Sena Madureira, no ano passado, a estrada apartou por causa de um problema desses. Não pode deixar a água penetrar no leito e fazer o tapa buraco constante. Mas o governador Tião Viana (PT) sabiamente tratou disso com o Governo Federal para incluir o Acre num programa nacional de conservação de estradas. Nós já estamos fazendo os projetos tanto da BR-317 quanto da BR-364. Em 99, toda a malha viária do Acre não chegava a 600 quilômetros. Atualmente entre as rodovias federais e estaduais já temos 1800 quilômetros de pavimentação. É muita extensão rodoviária para só o Governo do Estado cuidar”, afirmou.

Liderança da equipe
O diretor do Deracre tem uma equipe sob sua responsabilidade de 450 operários no inverno e 1600 no verão. A sua liderança entre os funcionários é indiscutível. “O Deracre nasceu em 63, praticamente junto com o Estado. Mas conseguiu um salto nos governos do Jorge e do Binho. O nosso maior patrimônio é a equipe e o meu papel é facilitar para que tudo aconteça da melhor maneira possível. Nós temos unidades em todos os municípios e isso requer um controle eficaz; valorizo muito a equipe dando oportunidades para a qualificação dos quadros. Temos um torneio de futebol que cria um clima de integração entre a unidade da Capital e as do interior. Procuro não ficar muito dentro do gabinete. Prefiro andar porque tenho uma retaguarda interna muito forte. Só neste ano fui para Cruzeiro do Sul 10 vezes. Essa presença motiva a equipe”, contou.

Envolvimento com política
Quando o assunto da entrevista enveredou para a política, Marcos Alexandre ficou reticente. Mas depois resolveu falar.  “Quando ainda era estudante do nível médio sempre tive um envolvimento com política para não estar alheio às transformações do país. Participei do movimento Fora Collor. Eu era o representante da sala. Apesar de ter um perfil tímido fui eleito. Sempre votei em candidatos do PT. Me lembro de votos em São Paulo na Marta Suplicy (PT), no Palocci (PT) para prefeito de Ribeirão Preto e no Lula em todas as suas campanhas. Em casa a minha avó que influenciou no aspecto político porque era professora e sempre foi da esquerda”, revelou
Apesar de ser um dos quadros técnicos importantes para os governos da FPA, Marcos Alexandre, não tem filiação partidária. “Nunca recebi nenhum convite, mas acho que as pessoas acham que já sou filiado (risos). Quando cheguei ao Acre me identifiquei muito com o projeto da FPA, mas sem aspirações políticas porque tenho um perfil técnico. Participei de todas as campanhas, mas não do ponto de vista partidário”, relembra.

Momento político
Marcos Alexandre acha importante que haja uma leitura constante do momento político que o Estado está vivendo. “Com relação à eleição de 2010 diversos fatores contribuíram para o resultado. Na engenharia quando ocorre um problema é preciso analisar todos os aspectos para diagnosticar o que ocorreu. É o mesmo caso numa eleição. Inicia-mos a campanha com um percentual elevado e terminamos com um percentual curto. Depois de 12 anos de governo existe um desgaste natural. Governar é fazer as melhores escolhas que nem sempre agradam todo mundo. Mas o que sei é que temos que estar cada vez mais próximos das comunidades tratando com a maior sinceridade e clareza possível os assuntos do Estado”, argumentou.

Outro fator importante a ser considerado para Marcos Alexandre é a situação econômica das prefeituras. “As receitas dos municípios depois da crise mundial de 2008 ficaram muito restritas. O repasse dos FPMs diminuiu muito. A Capital tem a metade da população, mas não tem a metade dos recursos. As prefeituras estão passando por momentos difíceis que acabam refletindo politicamente. A questão da política tem que ser avaliada a todo momento. No próximo ano teremos eleições municipais e depois presidenciais e acredito que o resultado vai depender muito do cenário econômico do país”, avaliou.

Questionado se a oposição teria condições técnicas para governar Rio Branco, Marcos respondeu: “faço uma avaliação de quem não vivenciou a história política do Acre num passado mais distante. Só falo baseado no que ouço e leio. Acho que falta é apresentar um projeto alternativo. Se eles dizem que o projeto que temos atualmente não é o correto que apresentem uma alternativa. Falta demonstrar qual é o projeto para o Acre que eles propõem. Sem isso não terão credibilidade”, afirmou.

Nome no jogo
Quando leu nos jornais que o seu nome estaria sendo cogitado como candidato à prefeitura da Capital, Marcos Alexandre, se disse surpreso. “Não tenho aspiração política como candidato. Isso nunca passou pela minha cabeça. Mas já que o meu nome foi lembrado fico feliz porque tenho um trabalho, uma equipe e estou participando de um processo. Isso significa que o que estou fazendo está dando certo. Vou continuar tocando a vida e mostrando serviço sem nenhuma aspiração de ser candidato. Só quero continuar colaborando com o projeto da FPA no campo técnico lembrando sempre que a política e a técnica estão unidas. Uma não funciona sem a outra. É preciso ter um ambiente político para poder trabalhar. Não estou fechando os olhos para a política porque ela faz com que as coisas aconteçam, mas fico muito surpreso com essas especulações”, revelou.

Político X técnico
Em relação ao dilema entre a escolha de um político ou um técnico para a gestão pública, Marcos Alexandre opina: “para ser um bom governante tem que compor os dois perfis. O equilíbrio é que traz o resultado almejado pela população. Hoje a gestão pública tem uma dinâmica burocrática muito grande. Tem que fazer a máquina funcionar para que as decisões tomadas aconteçam com rapidez. Ao mesmo tempo é preciso ter uma unidade política para envolver as comunidades no trabalho. O Lula foi o maior presidente da história e conseguiu no seu governo o equilíbrio entre o técnico e o político. Mesmo com o perfil de político ele conseguiu um equilíbrio e o governo deu certo”, finalizou.

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