X

Hidropônicos Buriti planeja primeira franquia acreana

 Veio da agricultura a primeira proposta de criação de uma franquia genuinamente acreana. A “Hidropônicos Buriti”, sediada no bairro Xavier Maia, em Rio Branco, gera 50 empregos diretos nas unidades produtivas de Rio Branco e Manaus. “Estou me preparando para uma expansão nacional”, anuncia o empresário Carlos D’Agostini, proprietário da marca. A empresa já contratou um consultor em gerencia-mento de software que presta serviços para a Sadia com o objetivo de desenvolver os padrões do processo produtivo criado na sede acreana.

Empresário Carlos se preapara para uma expansão nacional
O empresário esquece da diplomacia ao falar aos prováveis interessados. “Não será fácil conseguir a franquia da hidropônicos”, adianta. “Pessoas sem vocação serão, naturalmente, excluídas porque a marca tem uma forma de tratar da hidroponia que eu não abro mão”. Tarauacáe Cruzeiro do Sul são cidades que, provavelmente, terão empreendedores franqueados pela total carência na produção de hortaliças.
Com 12 anos no mercado, D’Agostini se orgulha de ter gastado parte do rendimento em experimentos.

O esforço produziu uma inovação para o setor. O jambu hidropônico é exemplo. O vegetal utilizado em pratos da culinária acreana chega aossupermercados pré-cozido, em pacotes fáceis de transportar e praticamente pronto para consumo sem perda de nutrientes. A idéia de pré-cozinhar o jambu nasceu pelo fato de as folhas do jambu hidropônico serem tão grandes que os clientes não reconheciam o vegetal. “Achavam que era mato”, lembra o empresário.

D’Agostini é gaúcho de nascimento e veio para o Acre interessado no mercado madeireiro, aluguel de máquinas pesadas e pecuária. Começou a estudar o potencial da hidroponia e percebeu a viabilidade do mercado. Investiu esforços e dinheiro. “A região Norte é estratégica para a hidroponia”, constata para justificar a inserção de outra marca sua, a Viva, há três anos instaladaem Manaus, um mercado com mais de um milhão de habitantes.

“Produzir no Acre tem que ser herói”, alerta, antes de comparar. “Produzir em Manaus você tem que ser um super-herói”. A comparação faz referência ao ataque de fungos e bactérias na lavoura. Algo muito comum no início do empreendimento, mas que exige alerta constante. Sempre que aparece algum sinal da presença deles na lavoura, a reação deve ser imediata.

Falta de energia causa prejuízo de R$ 130 mil
Outra dificuldade encontrada pelos empresários do setor é a baixa qualidade da energia elétrica, insumo fundamental para manter o movimento cíclico da água que leva os nutrientes às verduras. Há três meses, faltou energia no bairro Xavier Maia das nove da manhã às três da tarde. Justamente naquele dia, o gerador da empresa quebrou. Resultado: prejuízo de R$ 130 mil e toda a safra comprometida.

Com 12 produtos ofertados no mercado regional, a Hidropônicos Buriti tem na alface crespa o carro-chefe nas vendas, hoje, calculada em 90 mil maços por mês. Hoje, a empresa abriga 40 estufas com mais de 100 metros quadrados cada. Uma pequena fazenda na periferia de Rio Branco.


Edvaldo Magalhães conheceu a proposta da empresa e quer incentivar a produção

Governo estuda adicionar hidropônicos à merenda escolar
A Secretaria de Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia, Indústria e Comércio realiza um diagnóstico das condições sócio-produtivas das indústrias alimentícias do Acre. Ao conhecer a proposta da Hidropônicos Buriti, o secretário de Indústria e Comércio, Edvaldo Magalhães não descartou a possibilidade de adicionar os legumes e verduras hidropônicas na merenda escolar.

A ação de governo faz parte da revisão das compras governamentais com o objetivo de incentivar a produção e aquecer o setor na região.


Produção de ovos exige cadeias produtivas integradas

ITAAN ARRUDA

Produzir ovos de galinha é colher milho indiretamente: 36% dos custos de uma granja estão concentrados no milho.Com 29 anos no mercado do Vale do Juruá, os empreendedores da Granja Carijó entendem como poucos essa relação e resolveram ampliar investimentos. Compraram uma área de 55 hectares às margens da rodovia BR-317, no quilômetro 52 da estrada de Boca do Acre. A unidade da empresa fica há poucos quilômetros de uma comunidade com o sugestivo nome de Vila Pia.


Helosman: garantia da produção em condições adversas

A escolha do local foi estratégica. A comunidade agrícola conseguiu dobrar a produtividade de milho, se comparada à média acreana, calculada pelo Censo Agropecuário em três toneladas por hectare e pela Produção Agrícola Municipal em 2.077 quilos por hectare. Ambas as aferições são feitas pelo IBGE. Na última safra, os agricultores da Vila Pia conseguiram produzir sete toneladas por hectare. E estão prestes a colher a safrinha de 2011.

“Estou confiando na produção de milho do Acre”, alertou Diogo Helosman, médico veterinário e administrador da Granja Carijó. Perguntado em como reagiria caso a produção de milho do Acre ficasse comprometida, Helosman não vacilou. “Aí não tem jeito. Terei que plantar”. A empresa já tem planos alternativos, caso ocorra algum problema na safra de grãos na região.A previsão de consumo de milho da unidade produtiva de Rio Branco é de 12 mil sacas por ano.

A unidade da Granja Carijó em Cruzeiro do Sul emprega diretamente 23 pessoas eabastece as cinco cidades do Vale do Juruá, Feijó, Tarauacá, além de Guajará (AM) e Ipixuna (AM).
Em Rio Branco, a unidade produtiva deve gerar 40 empregos diretos e abastecer toda região do Vale do Acre.

Desafio à lógica
Garantir o milho como insumo no extremo oeste do Acre é um desafio à lógica administrativa. Era comum o pai de Diogo, o ex-prefeito de Mâncio Lima, Luiz Helosman, comprar milho do Mato Grosso. O Acre não produzia milho em escala que desse segurança ao empreendimento. O custo da saca saia, em média, R$ 7. Quando a BR-364 permite trânsito no verão, a saca de milho mato-grossense chegavaem Cruzeiro do Sul custando R$ 37, alcançando a cifra de R$ 47 quando a estrada fecha e o transporte do insumo é garantido por balsa.

Era um empreendimento quase inviável. Se tanto a produção quanto a produtividade de milho não melhorar no Acre, empresas como a Granja Carijó vão sentir no bolso a consequência da falta de gerenciamento no setor agrícola.

No entanto, há um aspecto positivo no isolamento. “Ele nos forçou a garantir produção nas condições mais adversas”, orgulha-se Helosman, o filho. “Houve um grupo paulista que decidiu produzir ovos em Cruzeiro do Sul recentemente”, lembra, em tom irônico. “Desistiram no segundo inverno”.

A lucratividade de quem produz ovos é garantida pela quantidade. Só para abastecer o Juruá e os dois municípios do Amazonas, a Granja Carijó produz 35 mil ovos por dia com um plantel de 42 mil aves. A unidade de Rio Branco terá capacidade operacional de 80 mil ovos diariamente com 96 mil aves que serão distribuídas em 13 galpões. Com uma produtividade de 85%, a empresa acreana consegue índice de produção semelhante às granjas de regiões referência no setor.

A inauguração da unidade produtiva de Rio Branco está prevista para novembro deste ano. Com financiamento de R$ 3 milhões junto ao Banco da Amazônia, a famíliaHelosman quer se consolidar na capital com mira para outra região: o mercado peruano.


ARTIGO

Passado, presente e futuro do cultivo de seringueira no Acre (II)

Evandro José Linhares Ferreira (1) & Raimundo Barros Lima (2)

Em 2010 a produção brasileira representou apenas 30% das 430 mil toneladas de borracha natural consumidas pelo mercado nacional. Segundo o Ministério da Agricultura, até 2030 a demanda interna saltará para cerca de um milhão de toneladas por ano. Diante da forte perspectiva de aumento no consumo e buscando diminuir a dependência das importações, o Governo Federal criou, para a safra 2010/2011, o Programa de Agricultura de Baixo Carbono, que conta com uma linha de crédito de R$ 2 bilhões,no qual o cultivo de seringueiras tem lugar destacado por seu longo ciclo de produção. Os investimentos no aumento da produção nacional de borracha natural estão, portanto, solidamente calcados em um sincero interesse por parte do governo, que busca a auto-suficiência na produção nacional, e em uma demanda real por parte do mercado.

E são muitas as vantagens advindas da sonhada auto-suficiência na produção de borracha no país: geração de emprego, renda e incremento na arrecadação de impostos nos estados produtores, alémda economia de valiosas divisas usadas para pagar a importação de países asiáticos, que monopolizam a produção e o comércio internacional de borracha. Em 2010 o Brasilimportou US$ 790 milhões, valor que poderá ultrapassar os US$ 2,16 bilhões em 2020 se for mantido o ritmo de crescimento do consumo interno e os preços médios de importação observados em janeiro de 2011.

Em 2008 o consumo global de borracha natural superou a oferta em mais de 540 mil toneladas. E previsões alarmistas sugerem que até 2020 este déficit poderá superar um milhão de toneladas. O preço do produto está em franca ascensão no mercado internacional. No mercado brasileiro, entre dezembro de 2010 e março de 2011, foi verificado um aumento de 22,7% no preço da borracha comercializada pelas usinas beneficiadoras (tipo GEB-1).

Diante desse cenário altamente favorável, e considerando ainda que o potencial de consumo mundial de borracha sintética, derivada do petróleo, tende a se estabilizar ou cair em razão da provável elevação do preço de sua matéria-prima, pelo menos em teoria, plantar seringueiras hoje é certeza de colheita de lucros garantidos no futuro.

No Brasil, a região Sudeste é a maior produtora de borracha natural derivada de cultivos com 62,2% da produção, seguida pelas regiões Centro-Oeste (21,2%), Nordeste (13,6%), Norte (2,5%) e Sul (0,5%). O estado de São Paulo é o maior produtor nacional, com 54,60% da produção nacional, seguido da Bahia (16,22%), Mato Grosso (13,94%), EspíritoSanto (4,73%) e Minas Gerais (2,88%).A produção acreana derivada de cultivos equivale a apenas 0,2% do montante nacional, ou cerca de 850 t/ano.

O renascimento necessário e mais que justificável da heveicultura acreana, relegada das políticas públicas nos últimos 25 anos, está acontecendo graças ao programa ‘Florestas Plantadas’, de iniciativa do governo estadual. Até 2020eleprevê a recuperação de 60 mil hectares de áreas alteradas/degradadas no Acre mediante o plantio de florestas cujos componentes arbóreos principais deverão ser a seringueira e outras espécies madeireiras, frutíferas e energéticas. Nos próximos dois anos estão previstas a implantação de pelo menos duas mil hectaresde seringueiras consorciadas com culturas anuais, semi-perenes e perenes. E até 2020 espera-se atingir 10 mil hectares.

O impacto sócio-econômico das novas áreas cultivadas com seringueiras no Acre deverá ser significativo. Serão necessárias pelo menos 5,7 milhões de mudas de seringueiras. Se essa produção for contratada junto a viveiros particulares, eles deverão movimentar pelo menos R$ 34 milhões nos próximos anos. O financiamento do programa, através do PRONAF, prevê cerca de R$ 12 mil/hectaree resultará na injeção de R$ 120 milhões no campo até 2020. Sob o ponto de vista social, existe a possibilidade de o programa atender mais de 3,5 mil famílias de pequenos produtores rurais. Para atender esse universo de produtores, serão necessários pelo menos 80 técnicos, entre o pessoal de campo e de gerenciamento, pois o sucesso do programa depende de uma assistência técnica de alto nível. Esses técnicos poderão ser contratados entre as dezenas de engenheiros agrônomos e florestaisformados anualmente pelaUFAC. O agente financeiro do programa também deve cuidar de expandir seu quadrotécnico para dar celeridade à avaliação das propostas de financiamento, evitandoatropelos no cumprimento das atividades previstas no calendário agrícola regional.

É importante ressaltar que investir em seringueira não é algo que se faz hoje para se colher resultados no dia de amanhã. Nem no ano que vem. Sua produção inicia-se apenas no sétimo ano. No caso do programa acreano, que ousou trazendo clones orientais altamente produtivos (caso do RRIM600) e não testados para as condições do Acre, a expectativa é de se obter mil kg de borracha seca/ha no primeiro ano de produção, quantidade que deverá aumentar até se estabilizar entre 2,0-2,5 mil kg/ha/ano. Considerando que o preço atual do kg da borracha (CVP)pago na porta do produtor acreano é de R$ 2,30 (mais R$ 0,90 de subsídio pago pelo governo), a expectativa de rendimento bruto dos futuros plantios poderá atingir, sob condições ideais de cultivo, até R$ 8 mil/hectare/ano.

Além de ajudar a recuperar áreas correntemente não usadas para fins econômicos, o cultivo de seringueiras poderá se beneficiar do mercado de carbono, que se encontra em ebulição na Europa. Na semana passada um certificado de redução de emissão (CER) de CO2, que equivale a uma licença para emitir uma tonelada de CO2 na atmosfera, era comercializado entre R$ 27,00-36,00. Comosão necessárias duas árvores de seringueira,ao longo de um período estimado em 15 anos (taxa de conversão C:CO2=1:3,6), para neutralizar uma tonelada de CO2 emitida na atmosfera, o valor no mercado de carbono de um hectare de seringueira cultivada (500 plantas/ha) varia hoje entre R$6.900,00-9.200,00. Considerando que,sob condições ideais de manejo,a seringueira pode ser explorada por até 50 anos, pode-se prever que esta renda atinjaR$30.500,00/haao longo da vida útil do plantio.Não é um valor tão atraente quanto o derivado da comercialização dos créditos de carbono de florestas nativas, que armazenam 100-200 t de carbono/ha, mas certamente será uma renda extra que os pequenos produtores acreanos jamais imaginariam obter.

(1) Pesquisador, Doutor em Botânica, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia-INPA, Núcleo de Pesquisas do Acre e Herbário do Parque Zoobotânico da UFAC;
(2) Professor aposentado do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Acre, especialista em Heveicultura.
 


ENTREVISTA

É preciso ajustar

ITAAN ARRUDA

No início de julho, a Editora da Universidade Federal do Acre faz o lançamento de uma obra que tem todos os ingredientes da polêmica. “Diagnóstico Sócio-Econômicodos Sistema Básicos de Produção Familiar Rural do Estado do Acre”. Calma, leitor. O que resta de academicismo está restrito ao título. A linguagem do doutor em Economia pela Universidade de Campinas (Unicamp), Raimundo Cláudio Gomes Maciel, é simples, direta e muito sucinta (algo raro no ambiente acadêmico).Nota-se, tanto na fala quanto na escrita do professor da Ufac,o esforço em ser entendido. As leituras e interpretações corretas de gráficos e tabelas possuem textos curtos e rigor conceitual.

O livro é resultado de cinco anos de pesquisa do projeto “Análise Sócio-Econômica de Produção Familiar Rural” com diagnóstico de uma situação registrada nos últimos dez anos no Acre. É uma espécie de fotografia da nossa economia durante esse período.”Onde não havia pobreza, hoje há pobreza; onde não havia miséria, hoje há miséria”, constatou, ao se referir ao aumento da concentração de renda no meio rural em algumas regiões do estado. Há acertos evidenciados pelo professor. Mas, em muitas regiões, a ineficiência da aplicação de políticas públicas faz com que a floresta perca o encanto para o extrativista.
Na conversa com Raimundo Cláudio, fica evidente o impulso do acadêmico em usar apesquisa como instrumento de intervenção na economia regional.

Acre Economia – O livro é resultado de cinco anos de pesquisa. Se você pudesse resumir em poucas palavras as idéias da publicação, o que você diria?

Raimundo Cláudio – Nós temos na obra um diagnóstico do desempenho da produção familiar rural do nosso estado. Basicamente, nós estamos falando de colonos, seringueiros, ribeirinhos, castanheiros. Hoje, nós sabemos a situação sócio-econômica dessa população, principalmente no período de uma década. Nós conseguimos avaliar muitas políticas públicas que foram encaminhadas no meio rural acreano e o resultado, o retorno econômico para as famílias.

AE-A pesquisa estuda o período de 1996 a 2006. Dos dez anos analisados, seis já fazem parte da gestão da Frente Popular. Na média, as políticas públicas aplicadas trouxeram quais resultados econômicos?

RC-Para avaliar as famílias rurais da nossa região é essencial separar o Vale do Acre e o vale do Juruá. Vale do Acre e Vale do Purus têm um perfil muito diferente do Vale do Juruá, onde as famílias têm mais dificuldades. É uma região onde as políticas públicas estão deixando muito a desejar. As famílias estão passando bastante necessidades. A produção nos últimos dez anos demonstra que, para muitas famílias, não compensa ficar na floresta. Há situações, na Reserva do Alto Juruá que praticamente não se encontra mais seringueiros, dadas as dificuldades de geração de renda quanto de auto-consumo. E isso está gerando bolsões de miséria, algumas vilas que estão sendo formadas na região,principalmente no seringal Restauração.

As famílias ali não têm muitas perspectivas. Hoje, o principal produto da região éa farinha, numa região com grande possibilidade de se produzir borracha. Nós identificamos que não é tão difícil resolver. Hoje, as famílias não conseguem vender borracha porque falta a demanda. Não tem quem compre borracha naquela região e, por falta de alguns ajustes das políticas públicas nós não temos o elo de mercado que é a demanda.

AE-E no Vale do Acre?

RC-No Vale do Acre, a dificuldade não é tão diferente. Claro que no Vale do Acre, a produção da pecuária se tornou muito forte ao longo do tempo…

AE-Já existe capital instalado…

RC-Isso. As próprias famílias tanto de colonos quanto de seringueiros, dada as dificuldades de geração de renda do extrativismo e outros produtos agrícolas, encontraram na pecuária uma forma de, como eles dizem, ‘fazer dinheiro’. Nessa busca por ‘fazer dinheiro’, a atividade que sobre pra eles é a pecuária. Mas, basicamente, por falta de alternativas. Há uma parte do Vale do Acre, uma região onde os produtores encontram na extração de castanha uma excelente fonte de geração de renda. A castanha, hoje, se tornou o ouro da floresta.

AE-Por que, depois de tanto esforço em valorizar a floresta nós não conseguimos desconcentrar renda? Temos renda mais concentrada que Rondônia que aplicou uma política de desenvolvimento sempre criticada pelas lideranças políticas daqui. O nosso modelo está errado?

RC-Não se trata de estar ‘errado’. Não há nada cem por cento correto, perfeito, Assim como não há nada por cento errado, equivocado. O que é preciso fazer por parte das políticas públicas são ajustes. O que o nosso diagnóstico aponta é que há lugares onde não havia pobreza e hoje existe pobreza; onde não havia miséria, hoje há miséria. O modelo está errado? Bem, a experiência do projeto Reca mostra que o sistema agroflorestal amplia a possibilidade de comercialização de vários produtos. O que temos que fazer é discutir quais são as nossas vocações específicas. Em que nós somos bons. Essa discussão não está sendo feita de forma correta.


Aumento no desmatamento exige ação conjunta

ITAAN ARRUDA

O Gabinete de Crise montado no Ministério do Meio Ambiente para sondar o avanço do desmatamento na Amazônia Legal planejou uma ação conjunta entre Governo Federal e os governos estaduais da região. Ministério do Meio Ambiente, Ibama e os pelotões florestais no Estado vão atuar em ações repressivas. A prioridade está nos estados de Mato Grosso, Rondônia e Pará, estados que registraram maiores taxas de desmatamento segundo monitoramento feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).


Taxa de desmatamento no Acre aumentou entre agosto de 2010 e maio deste ano

Apesar de ter uma das menores taxas de desmatamento da região, o Inpe registrou aumento na taxa de desmate do Acre entre agosto de 2010 e maio deste ano. O Governo do Acre questiona os dados. No discurso do governo, o alto índice de queimadas registrado pelo Inpe é minimizado. A Secretaria de Estado de Meio Ambiente afirma que “verificações de campo realizadas pelo Ibama/AC, alguns polígonos do satélite Deter/2010 não tiveram desmatamento confirmado”.

Entre agosto de 2010 e maio deste ano, o Inpe registrou aumento de áreas desmatadas no Acre. A informação é confirmada pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Acre. Durante dez meses, o satélite de alerta “Deter”detectou 99 pontos desmatamentos na região. O “Deter” só registra desmates em áreas a partir de 25 hectares. No período abordado pelo instituto, no mínimo, foram 2,5 mil hectares desmatados.Mas, até mesmo para os técnicos do governo, esse número está subestimado. No Acre, 95% dos desmates realizados estão em áreas com até seis hectares. São os pequenos agricultores, com produção de base familiar.

Evandro Ferreira, especia-lista com PhD. em Botânica pela Universidade de Nova York, avalia que a pecuária é a grande responsável pelos desmates e queimadas. “O pasto comanda a destruição ambiental no Acre”, informa. Ele minimiza a participação dos pequenos agricultores na queima e desmatamento. “O uso para agricultura, que emprega mão de obra (renda e emprego no campo) é baixo, menos de 3%”, calcula. “Por isso que aqui se importa de tudo quando se fala em alimento”.

A Unidade Central de Geoprocessamento, criada pelo Governo do Acre, registra que, de 1988 a 2010, Plácido de Castro, Senador Guiomard, Acrelândia, Capixaba, Porto Acre e Epitaciolândia são os cinco municípios com maior porcentagem de desmate. Embora, em quantidades absolutas, Rio Branco lidere o ranking das cidades que mais desmatam com 273,1 mil hectares desmatados durante o mesmo período.


ENTREVISTA

Presidente da Fecomércio comemora inauguração da nova sede e aponta desafios para o setor

MAÍRA MARTINELO

À frente do imponente e bem equipado complexo da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Acre (Fecomércio-Acre), que será inaugurado na próxima quarta-feira, 8, o empresário Leandro Domingos, presidente da instituição há 14 anos, está visivelmente entusiasmado e “otimista”, como ele mesmo diz, com o “novo momento” que o setor comercial do Estado se prepara para vivenciar.
E não é para menos. Domingos participou da criação do Sistema Fecomércio Sesc/Senac do Acre, engajou-se no movimento de classe disposto a representar a sua categoria diante das autoridades federais e estaduais e, hoje, 21 anos depois, inaugura uma das mais modernas e bem dotadas sedes de Federação do Comércio da região Norte.

Em meio à finalização das obras e dos preparativos para o evento de lançamento do novo empreendimento, o empresário falou ao Acre Economia sobre os gargalos que ainda dificultam o crescimento do comércio no Estado e apontou os desafios e propostas para dinamizar e ampliar a atuação da Fecomercio no Acre. Confira.

 Acre Economia – Após 21 anos de história, a Fecomércio inaugura uma nova sede com instalações grandiosas, fruto de um investimento de R$ 23 milhões. O que isso representa?

Leandro Domingos – Representa, sem dúvida, que estamos entrando num novo momento, porque vamos ter uma estrutura que possibilitará maior dinâmica aos trabalhos desenvolvidos pelo Sesc, Senac e pela própria federação. Vamos incrementar os nossos atendimentos anuais em torno de 20%, chegando a realizar cerca de 600 mil atendimentos por ano. As três administrações funcionarãoneste novo complexo, com o objetivo de discutir mais as ações conjuntamente, diminuir custos e ampliar as nossas atividades.

Os prédios estão situados numa área de 4.700 m², com 1.900 m² de área construída, onde funcionarão consultórios médicos, escola, academia e um restaurante com capacidade para atender até 800 pessoas por dia. A Fecomércio do Acre completou 21 anos agora e passamos por uma fase de reestruturação. Conseguimos avançar muito nestes últimos tempos e, hoje, o empresariado acreano já acredita na federação. Temos demonstrado, aqui no Estado, que a federação tem sido muito forte, e isso se reflete na estrutura do nosso Sesc e do Senac, que estão entre os que mais crescem na Amazônia, em termo de estrutura e atendimento ao público.

Acre Economia-Como continuará o funcionamento das antigas unidades do Sesc e do Senac? Há novos projetos lá também?

LD – Com certeza. Faremos uma grande reforma no Sesc do Centro e lá continuará a funcionar o teatro de Arena, restaurante, cinema, biblioteca. Queremos transformar o espaço num centro cultural, voltando com as antigas aulas de piano, violão, tudo que o Sesc costumava fazer. E vamos criar ainda um salão de exposições para incentivo à cultura. O Senac também será ampliado. Toda a antiga área administrativa, que passará a funcionar neste novo condomínio, será transformada em salas de aula e espaço para os professores. A idéia é implantar novos cursos.

Acre Economia – Há planos de ampliar a atuação do Sistema Fecomércio também no interior?

LD- Conseguimos construir uma estrutura extremamente importante para o nosso Estado e, com essa concepção, traçamos nessa gestão a meta de ampliar as nossas atividades para o interior. Temos cinco municípios onde temos uma simples unidade de alfabetização para jovens e adultos e agora estamos ampliando essas atividades para o lazer e qualidade de vida.Em Senador Guiomard, iniciamos um investimento em torno de R$ 5 milhões para construir um centro de atividades do Sesc.

Vamos instalar também um belíssimo projeto em Plácido de castro. Em Brasiléia, já fizemos um centro de lazer, inaugurado no ano passado. Estamos em fase de conclusão de um projeto para Feijó, nos mesmos moldes do que vamos construir em Plácido. E, até o final dessa gestão, que ainda tem três anos e meio pela frente, vamos trabalhar para entrar em Cruzeiro do Sul, que é o segundo município do Estado e ainda não possui nenhuma atividade do Sesc. Já compramos uma área de 74 hectares e vamos construir um centro de atividades. O projeto está estimado em R$ 20 milhões, e a construção deve começar ainda este ano. Esse é nosso sonho agora. Com certeza, a sociedade vai aplaudir este grande projeto porque na Amazônia não existe um centro de atividades nos moldes do que vamos construir em Cruzeiro.

Acre Economia – Quais os principais desafios para o desenvolvimento do setor comercial do Acre atualmente?

LD– Vivemos hoje o grande desafio de circulação de moeda. Com essa nova política do Governo Federal de contenção de inflação, os investimentos públicos diminuíram muito e, infelizmente, a nossa economia ainda gira muito em torno dos recursos que o governo injeta. Tivemos um crescimento bem significativo nos últimos anos, sempre acima da média nacional, mas, neste primeiro quadrimestre, a atividade econômica não está atendendo à expectativa do empresariado local. Esperávamos um crescimento muito bom, e as coisas não estão acontecendo, não está vendendo como deveria vender. Passamos por um processo recessivo, de desaceleração das vendas, mas acredito que, com o ajuste desse processo inflacionário, a economia vai voltar a deslanchar de novo. De modo geral, a economia e o comércio varejista do Acre tem crescido bem e estamos otimistas de que vamos fechar o ano com crescimento positivo.

Acre Economia – O alto percentual de endividamento da população do Acre, que ficou em torno de 76% em maio, preocupa o empresariado local?

LD – Temos recebido muitas reclamações de empresários sobre essa falta de liquidez no bolso do consumidor e, principalmente, do trabalhador de governo por conta desses créditos consignados. Difícil achar hoje um servidor público que não tenha um empréstimo bancário. As pessoas estão ‘bolando’ as dívidas…Saem de uma financeira, vão para outra…Isso deu uma enxugada no dinheiro do mercado extremamente significativa. Hoje, sai o pagamento e ninguém nem nota porque as pessoas não têm mais saldo para ir ao banco sacar o dinheiro e gastar no comércio. Esse nível de endividamento do acreano ocorre, principalmente, pelas facilidades do crédito consignado e também do cartão de credito. E isso tem causado alguns problemas para o nosso comércio varejista.

Acre Economia – O Governo Estadual tem sinalizado medidas que minimizem essas dificuldades do empresariado?

LD – Temos tido um diálogo bem aberto com o Governo do Estado, mostrando essas e outras dificuldades que as empresas acreanas tem passado. O governo fez um programa agora de parcelamento de dívidas das empresas. Tínhamos 3.500 empresas que estavam inadimplentes com o fisco estadual, um universo muito grande para a quantidade de empresas que temos aqui. E o governador, acolhendo uma sugestão da federação, lançou, no mês passado, este programa de parcelamento do passivo tributário das empresas, e muitas já estão aderindo. Isso vai dar um alento aos empresáris, que terão um maior prazo para pagar os seus tributos. Foi uma medida muito positiva. Vemos ainda o governo fazendo alguns investimentos importantes no ramo da construção civil, como esse programa de pavimentação de ruas. Acreditamos que essas ações vão gerar muitos empregos. E, gerando empregos, as pessoas se animam a gastar mais. Nosso comércio depende disso.

Acre Economia – Os comerciantes do Estado, principalmente da área de fronteira, reclamam muito da concorrência desleal do comércio de Cobija, que tem se desenvolvido cada vez mais. Qual a posição da Fecomércio sobre essa questão?

LD – Nós temos discutido esse assunto exaustivamente com o Governo do Estado. Já apresentamos estudos para mostrar que é preciso criar, além de incentivos fiscais às empresas sediadas em Brasiléia e Epitaciolândia, outros subsídios fiscais que garantam condições de competir com os produtos bolivianos. Porque, do jeito que está, os empresários de Brasiléia e Epitaciolândia vão sumir. Até pouco tempo, os bolivianos só vendiam produtos eletroeletrônicos. Hoje, estão vendendo alimentação, confecção, calçados…E a nossa fiscalização de fronteira é muito fraca. Até pouco tempo, os consumidores iam lá e compravam os bens para o seu consumo. Hoje,muitas empresas informais vão à Bolívia buscar produtos para revender em Rio Branco.

Então, essa concorrência desleal na fronteira, agora está vindo para Capital. Os bolivianos pagam 1,5% de impostos. Já a nossa carga tributária é um absurdo. Protocolamos um documento junto ao Governo do Estado que propõe que o Estado abra mão do ICMS que cobra nos produtos que estão indo para Brasiléia e Epitaciolândia. Embora lá seja uma área de livre comércio, não goza da isenção total do ICMS. O ICMS que é dispensado na compra dos produtos é só o ICMS da origem, mas quando a mercadoria entra naqueles municípios, os empresários têm que pagar a diferença de alíquota de 7,5%, que ainda pesa muito. Compreendemos que é uma situação delicada, de difícil reversão e que depende muito de vontade política.

Mas é necessária e ajudaria muito as empresas acreanas. Mês que vem, vamos inaugurar uma nova sede do sindicado em Brasiléia para que ficar mais perto dos empresários da fronteira. Queremos intermediar essa conversa e buscar uma medida para minimizar esse problema.

 

 

 

 

 

 

A Gazeta do Acre: