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“Vidas e atitudes cínicas”

Antístenes de Atenas (444-356 a.C.) e Diógenes de Sínope (413-323 a.C.) seguidores da filosofia socrática são os fundadores da Escola Cínica, que pregavam a volta à vida em estrita conformidade com a natureza e, por isso, se opunham radicalmente aos valores, aos usos e às regras so-ciais vigentes.  Antístenes, dizia que o prazer, bem como a fama e a glória é um mal. Diógenes que além de andar pela cidade, em plena luz do sol, com uma lanterna a procura “do tal homem” era flagrado diversas vezes  se masturbando em praça pública. Morreu, dizem, literalmente na merda.

O cinismo como filosofia antiga nos diz, ainda, que nem a posse das riquezas, nem a abundância das coisas, nem a obtenção de cargos ou o poder produzem a felicidade e disposição de espírito que se mantenha nos limites impostos pela natureza. Um dos problemas dessa teoria e prática de vida é que o cinismo apontava os defeitos de seu tempo, mas não oferecia valores alternativos. Deste modo, a palavra “cinismo” acabou adquirindo caráter pejorativo de ironia.

Atualmente os detentores da vida cínica não fazem objeção a posse das riquezas ilícitas, uma vez que essa modalidade de vida caracteriza-se pela desvergonha, desfaçatez e descaramento, principalmente no seio  das empresas lobbystas de quaisquer níveis, que estão aí para desenvolverem batalhas de mercado e comandar “esquemas de fraudes” entre outras atividades não lícitas, numa competição que só cheira a roubalheira.

 No entanto, é na política que essa vida cínica, com bafo de perversidade, se agiganta em seu grau mais elevado. É aqui, nessa atividade pública que essa atitude extremamente egoísta e desonesta, produto da busca desenfreada do homem pelo poder (prazer) e realização pessoal desmedidos, nem que para isso tenha que esfolar, nessa corrida louca, o seu semelhante, se faz presente de forma aguda; alias, já diziam os antigos, bom político é aquele que vende a própria mãe para se eleger.

Do mesmo modo, talvez de forma mais aviltante, os partidos políticos, quase sem exceção, deste mundo pós-moderno, com  linha “ideológica” extremamente pragmática, pois que seus mais dignos representantes, loucos por poder e protegidos pela memória curta do povão, fazem acordos espúrios e parcerias promíscuas com algumas empresas, corroboram com essa porfia desonesta, fomentando rivalidade entre as siglas, na busca desenfreada pela glória, uma vez que são presas fáceis da cooptação advinda do poder mor. Exemplo específico do que se afirma aqui é o recente escândalo no Ministério dos Transportes.

Vidas cínicas às vezes se revelam em atitudes cínicas. Exemplo crasso do que digo é a fala outro dia do ex-presidente da República FHC fazendo apologia  justificando  a liberação total da maconha no Brasil. FHC  parece desconhecer que o Brasil é campeão no consumo de baseado, mesmo considerando que fumar maconha é assunto de foro íntimo, isto é fuma quem quer, a declaração foi inconseqüente. Ou melhor: Cínica!  Concomitante Justin Timberlake (cantor) admitiu fumar maconha um dia sim outro também. Quando se trata de fumar maconha a música está em segundo plano, diz de forma desavergonhada o cantor.

No patamar desta piramide de vidas e atitudes cínicas está a massa, envolvida por esse negócio de ganhar e perder; ser o melhor e o mais destacado, em alguma atividade existen-cial, mesmo nas disputas esportivas. Essa é uma interrogação de  inculcar a mais prevenida das mentes humanas. Trata-se de uma competição desgraçada: no esporte; na ciência propriamente dita, nos meios eclesiásticos, na escola e, até, na família entre irmãos de sangue. É um estado de guerra que faz com os homens se movam  pelo desejo de adquirir bens, poder e prestígio (Hobbes). É a destruição do homem pelo homem que no dizer de Nietzsche (Genealogia da Moral), é a maior e mais inquietante de todas as doenças, da qual a humanidade  ainda hoje não está curada: o homem, vício do homem, fraco de si mesmo.

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