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Gazetinhas 17/07/2011

* Um desabafo:

* depois de alguns anos, voltei na última quarta-feira a Xapuri.

* A intenção era colher algumas informações para uma publicação sobre alguns detalhes que ficaram obscuros sobre Chico Mendes.

* Cheguei às 2 horas da tarde. Fui direto à casinha onde ele viveu e foi assassinado.

* A mesma casinha que no dia seguinte ao assassinato, chegamos o delegado Nilson Oliveira e eu e o sangue ainda estava escorrendo quente no assoalho.

* Passou por uma pintura nova nas cores originais, mas estava fechada.

* Fui ao Museu Chico Mendes, ao lado.

* Também fechado.

* Fui à Casa de Leitura Chico Mendes.

* Também fechada.

* Atravessei a rua e bati na porta da Fundação Chico Mendes.

* Ninguém respondeu. Fechada.

* Presumindo que ainda era cedo, hora do almoço, da sesta, fui a uma pousada a cerca de 300 metros, localizada na mesma rua.

* Às 4 horas, voltei e fiz a mesma peregrinação.

* Continuavam a casinha, o museu, a casa de leitura, a fundação, todos fechados.

* Lembrei, então, de ir ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais, ao lado da Igreja matriz, para saber o que estava acontecendo.

* Também fechado.

* Para não perder a viagem, fui até à chamada Casa Branca, onde estão algumas peças de museu interessantes…

* …como um pedaço de pão petrificado que os índios faziam e esqueciam quando se mudavam;

* um jornal antigo, de 1918, que saudava a visita de um americano na cidade e outras raridades.

* Merda! Também fechado.

* Voltei à pousada e o dono, enfim, explicou o que está acontecendo.

* Segundo ele, há meses que a casa, o museu, a fundação, a casa de leitura Chico Mendes estão fechados.

* Que frequentemente chegam turistas dos mais diversos países para visitar e perdem a viagem.

* Ele mesmo preparou um jantar para vários turistas estrangeiros, sob encomenda da Fundação Chico Mendes. Comeram, beberam, se fartaram.

* Até hoje, porém, ele não sabe a quem se dirigir para cobrar pelo serviço, porque não aparece ninguém.

*  Programado para passar dois dias pesquisando, voltei pra casa, triste, desalentado, sangrando por dentro, mas também indignado.

* Não foi para acabar assim que eu e tantos outros passamos por todo tipo de privações, às vezes correndo até risco de morte, para apoiar, divulgar a luta de Chico Mendes.

* Contudo, ainda tenho esperanças que Ilzamar, que sempre a respeitei muito, corrija essa situação vexatória em memória do seu, do nosso Chico Mendes.

* Aos 37 da coluninha, data vênia pelo desabafo de um veterano jornalista que ainda acredita em utopias.

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