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Ponha-se na Rua!

 A situação do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, é absolutamente insustentável. O mesmo vale para o domínio do Partido da República (PR) na pasta. Não bastassem as gravíssimas denúncias que ilustram as páginas da revista Veja desta semana, o próprio deputado mensaleiro Valdemar Costa Neto – que também é secretário geral da agremiação – escreveu e divulgou uma nota oficial onde descaradamente confessa que o Partido da República está loteando o Ministério dos Transportes e fazendo uso desta e de outras pastas para benefício exclusivo de sua máquina partidária, em detrimento aos interesses da sociedade brasileira. Apenas isso já é suficiente para Dilma Rousseff – se quiser realmente honrar a faixa de Presidente do Brasil que adorna-lhe o peito – defenestrar Alfredo Nascimento, seus cupinchas e todo PR do governo federal. É ministro no olho da rua, já!

 Mas só demitir o ministro Alfredo Nascimento e seus pares não é suficiente. A presidente Dilma Rousseff precisa instaurar, imediatamente, um inquérito administrativo para investigar a atuação espúria do Partido da República na pasta e no governo, incluindo todo o período de gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando as mesmíssimas pessoas lá estavam. Não é mistério para ninguém que quem segurava as pontas do PR era o falecido ex-vice-presidente José Alencar – que depois de morto virou santo – e que a nota oficial do deputado federal Valdemar Costa Neto faz uma confissão clara da prevaricação, não apenas nos Transportes, mas em todas as pastas onde PR atua.

 Lê-se no documento divulgado pelo deputado: “As relações mantidas com Órgãos da Administração Pública Federal, incluindo o Ministério dos Transportes, são públicas e quase sempre consumadas em despachos e reuniões de trabalho organizadas por servidores das respectivas pastas. (…) Estas reuniões buscam garantir benfeitorias federais para as regiões representadas por lideranças políticas do PR”. Mais claro impossível! O deputado e secretário geral do PR confessa que o Ministério dos Transportes do governo Dilma Rousseff – e “outras pastas” – se tornou uma repartição do Partido da República e há muito deixou de atender os interesses da sociedade brasileira para dar atenção às demandas das “regiões representadas por lideranças políticas do PR”. Chegamos às raias do absurdo!

 É também premente que o Senado Federal instale um Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar profundamente a atuação e a bandidagem no Ministério dos Transportes. E o pedido de abertura de uma CPI já existe há anos e tramita no Congresso Nacional. O senador paraense Mário Couto (PSDB-PA) vem batendo nessa tecla desde que assumiu seu mandato, em 2007. Sistemática e semanalmente, Couto sobe a tribuna com críticas contundentes e denúncias contra o diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), Luiz Antônio Pagot, e contra os crimes no respectivo Ministério. Chegou a hora do Senado Federal ouvir o senador Mário Couto e instaurar, por imediato, uma CPI para investigar e solicitar punições severas aos bandidos que há quase uma década estão assaltando os cofres públicos brasileiros no Ministério dos Transportes. E se o PT e o PMDB tentarem barrar a criação dessa CPI, podem ser considerados cúmplices de mais um escândalo de corrupção declarada no Brasil.

 E que ninguém se esqueça: o Partido da República (PR) nada mais é que o novo nome dado ao antigo Partido Liberal (PL), logo depois do escândalo do Mensalão, no governo Lula, e que solapou vários de seus correligionários, entre eles o próprio deputado Valdemar Costa Neto, que renunciou ao antigo mandato para fugir da cassação. Impossível não lembrar da imagem de Valdemar suando bicas enquanto o ex-deputado Roberto Jefferson jogava denúncias no ventilador e o apontava como um dos organizadores daquele que é um dos maiores escândalos de corrupção da história do Brasil, ao lado dos petistas José Dirceu e Delúbio Soares. Reeleito na aba do milhão de votos do palhaço Tiririca – e quem foi que disse que isso não teria um preço?! –, Valdemar voltou à cena e, novamente, é um dos protagonistas de outro escândalo de corrupção, prevaricação e má-fé na utilização do dinheiro público.

 O mais chocante nessa história toda é que tornou-se patente a falta de vergonha na cara e a certeza de impunidade da classe política brasileira. E pior: além de criar uma enorme crise institucional na já combalida gestão da presidente Dilma Rousseff, a coloca em xeque enquanto chefe do Poder Executivo e ser político capaz gerir a máquina administrativa do país. Ou Dilma exonera imediatamente Alfredo Nascimento e a cúpula do Partido da República no Ministério dos Transportes – e em “outras pastas” – ou a Presidente do Brasil estará assinando uma carta oficial de cumplicidade com a bandidagem institucionalizada em seu governo. E, diferente de seu padrinho Lula, ela não poderá alegar que “não sabia de nada”. Chegamos, de novo, ao fundo do poço e a Presidente da República e o Senado Federal precisam agir rápida e severamente. É CPI e olho da rua, já! Porque há séculos PR nas portas deixou de ser “Príncipe Regente” ou “Partido da República”. Nas ruas o povo já grita: “Ponha-se na Rua”!

*HELDER CALDEIRA
Escritor, Articulista Político, Palestrante e Conferencista
www.magnumpalestras.com.brheldercaldeira@estadao.com.br
*Autor do livro “A 1ª Presidenta” (Editora Faces, 2011, R$ 29,90), primeira obra publicada no Brasil sobre a trajetória política da presidente Dilma Rousseff e que será transformada em filme, com estreia prevista em 2012.

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