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“É possível conciliar desenvolvimento com a preservação do meio ambiente”

Longe do triunfalismo do ex-governado Binho Marques, que afirmava acintosamente que estávamos no melhor lugar para se viver na Amazônia, o Acre continua pobre, dependente e detentor do segundo pior PIB entre os Estados da Federação. A propalada metáfora ‘florestania’ não trouxe desenvolvimento, muito menos sustentável. O quase naufrágio nas últimas eleições, entre outros fatores, fez com que o atual governo redirecionasse algumas diretrizes. É bem verdade que o estado precisava ser reeinstitucionalizado e criar uma infra-estrutura adequada ‘para dar novos passos’.
Paulinho
Criado na década de 80, um dos órgãos que mais sofreu desgastes nos últimos anos foi o Instituto de Meio Ambiente do Estado do Acre (Imac). Acusações de liberação de queimadas para grandes fazendeiros, denúncias de falsificação de Autorização para Transporte de Produtos Florestais (ATPF) e aplicação de multas exorbitantes em pequenos produtores figuram entre as principais denúncias.

Para ‘limpar’ essa imagem, o instituto passou por uma reestruturação e fez algumas mudanças em seu quadro técnico. Uma dessas novas aquisições é a do engenheiro agrônomo Paulo Roberto Viana de Araújo, que presidiu o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf) por quase uma década. À frente da direção de gestão técnica e respondente interinamente pela presidência, ele recebeu A GAZETA e concedeu a seguinte entrevista.

A GAZETA – Por que o Imac acumulou tanto desgaste junto à opinião pública?
Paulo Viana
– Por ser um órgão viabilizador das ações de desenvolvimento do Estado, ele precisa licenciar e monitorar aquilo que temos de mais precioso: os nosso recursos naturais. Existe, ainda, uma cultura de que a floresta é um empecilho para desenvolver uma região. A nossa missão é cumprir a legislação ambiental, tendo um olhar diferente para a agricultura familiar, sempre buscando um ponto de equilíbrio entre o desenvolvimento e a preservação do meio ambiente. 

A GAZETA – Alguns oposicionistas acusam o governo do Estado de ter privilegiado o setor pecuarista. O que senhor tem a comentar sobre isso?
Paulo Viana
– A pecuária tem uma mobilidade diferente dos demais setores. Ainda nos anos 70, ela recebeu incentivos fiscais, até porque o país também demandava por uma necessidade de proteína animal. O crescimento é principalmente fruto de uma evolução própria do setor.  A agricultura, por sua vez, também vem se modernizando. Em 1999, tínhamos apenas um produtor mecanizando cerca de 100 hectares de terra. Hoje, são 14.0000 hectares mecanizados, usando sementes selecionadas e aproveitando as áreas degradadas com adubação. Saímos de uma produção de 30 sacos de milho por hectares para 80.

 A GAZETA – Por que não se produz grãos suficientes para alimentar a nossa população?
Paulo Viana
– Embora incipiente, a produção de grãos já existe no estado. Produzimos em torno de 20 % do total da nossa necessidade. O milho e o feijão são os produtos dessa agricultura, agora, mecanizada.

A GAZETA – E o pequeno agricultor que não dispuser de máquinas? O governo oferece alternativas?
Paulo Viana
– Foi pactua-do um termo de ajuste de conduta, que, gradativamente, está pondo fim às queimadas. O governo estadual está criando alternativas para essas pessoas, organizando-as em cooperativa, cedendo máquinas e doando sementes melhoradas. A piscicultura, no entanto, é uma dessas alternativas mais viáveis para os pequenos produtores. Nesse aspecto, o Imac ousou. Anteriormente havia a necessidade de licenciamento. Hoje, basta apenas um cadastro para iniciar a produção de peixes em tanques. 

A GAZETA – Qual o impacto do novo Código Florestal no Acre?
Paulo Viana
– O Acre já avançou muito com relação ao próprio Código. Se a gente levar em consideração os últimos 12 anos, o governo estadual se organizou nas questões da legislação ambiental. O ZEE, em sua primeira, segunda e terceira fase é prova disso.   

A GAZETA – Levando em consideração estudos do Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE), é possível dizer que a agricultura é viável em nossa região?
Paulo Viana
– Principalmente se ela incorporar novas tecnologias. A região que compreende parte dos municípios de Senador Guiomard, Capixaba e Plácido de Castro tem um solo apropriado, topografia plana e está situada em um corredor de exportação (Estrada do Pacífico).  Podemos ter uma produção agrícola até excedente sem derrubar uma única árvore, uma vez ela seria implementada em áreas já utilizadas ou degradadas. Segundo dados da Embrapa, temos mais de meio milhão de hectares disponíveis.

A GAZETA – O saudoso economista Celso Furtado propôs a agro-industrialização, como forma de levar desenvolvimento, principalmente aos chamados ‘rincões’. O senhor acredita que isso poderia trazer algum ‘progresso’ para a nossa região.
Paulo Viana
– Totalmente. O ZEE já prevê isso para essas regiões, o que chamamos de zonas de produção e desenvolvimento. Toda a produção de milho já está sendo comprada em nosso próprio mercado, sendo parte dela destinada à industria-lização (fábrica de ração) e consumida nos granjas de frangos na região de Brasiléia. Isso faz com os setores primário, secundário e ter-ciário interajam entre si, formando uma cadeia produtiva. Vamos investir na fruticultura e agro-industria-lizá-la, com já está ocorrendo com o açaí do município de Feijó.

 

 

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