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Aleac homenageia os 50 anos da União do Vegetal no Acre

Centenas de filiados da União do Vegetal (UDV) estiveram, ontem, na Aleac para participar de uma sessão solene requerida pelo deputado Eduardo Farias (PCdoB). O evento marca as comemorações dos 50 anos da fundação da entidade que utiliza o chá ayahuasca como sacramento religioso. Outra homenagem similar já havia acontecido por indicação da deputada Perpétua Almeida (PCdoB/AC) na Câmara Federal, em Brasília.

Edson Lodge, coordenador de relações institucionais da UDV, comemorou o reconhecimento dos políticos e das autoridades à entidade.  “A UDV está inserida dentro da sociedade brasileira por estar apresentando o seu trabalho de beneficência e ecológico e, principalmente, o trabalho de transformar as pessoas. Podemos considerar o Acre o berço do uso urbano religioso da ayahuasca porque foi em Vila Plácido que o Mestre Gabriel iniciou seu trabalho espiritual”, ressaltou.

Polêmicas
Quanto a polêmica recente em que uma garrafa de ayahuasca foi incinerada junto com drogas ilegais na Polícia Federal, Lodge comentou. “A reação do deputado Eduardo Farias merece o nosso apoio. Nós sabemos que a Polícia Federal tem a responsabilidade de proibir o uso não religioso da ayahuasca. Mas não aceitamos à publicidade dado ao fato colocando a ayahuasca no mesmo nível de drogas ilegais. Mesmo que seja apreendido o daime, o vegetal ou ayahuasca fora do contexto religioso o respeito ao sacramento tem que acontecer”, declarou.

Para o mestre que mora em Brasília o grande desafio nos próximos 50 anos é manter a Doutrina original. “Penso que nós estamos construindo uma grande nação ayahuasquera que não é só a UDV. Nesses 50 anos avançamos com representações em todas as capitais brasileiras e em alguns lugares do exte-rior. Mas é preciso ter em mente o grande desafio que é manter a integridade da Doutrina do Mestre Gabriel”, ponderou.

Políticos avalizam a UDV
O autor do requerimento para a sessão solene, deputado Eduardo Farias elogiou o trabalho social da UDV. “A sessão solene significa o reconhecimento da UDV que muito contribuiu para a consolidação da nossa cultura. Quantos homens e mulheres tiveram suas vidas melhoradas saindo do mundo das drogas e da marginalidade através da UDV? Isso já merece o reconhecimento. Muitas das pessoas que pertencem a UDV e de outras religiões tradicionais de uso da ayahuasca ajudam a formar o nosso tecido social”, salientou.

Quanto ao preconceito que ainda existe em alguns estratos sociais, Farias comentou: “todas as vezes que a gente traz à luz o debate e instituições como a Aleac reconhecem o papel dessas organizações a gente vai dando a oportunidade para que se conheça a religião e as incompreensões vão perdendo força. Na Aleac nós combatemos a intolerância religiosa não só das religiões ayahuasqueras, mas de outras com matrizes africanas ou evangélicas. Precisamos cada vez mais construir uma sociedade democrática, tolerante e inclusiva. Já participei de várias sessões da UDV e considero uma religião extremamente integrada a nossa sociedade”, apregoou.

O presidente da Aleac, deputado Élson Santiago (PP) justificou a sessão solene no momento que antecede o recesso parlamentar. “Temos ainda mais três sessões antes do recesso. Vamos votar as matérias na quarta e quinta. Uma entidade com mais de 20 mil seguidores merece o apoio da Aleac pelo que representa para a sociedade brasileira”, afirmou. Ney Amorim  (PT) também elogiou a atuação da entidade. “A UDV tem prestado um serviço social importante ao Acre resgatando pessoas que estavam perdidas. É um trabalho de união, de paz e de amor”, disse ele.

União direta com o Acre 
Um dos principais personagens do evento o Mestre Luiz Máximo gosta de lembrar que foi ele quem trouxe a UDV para o Acre. “Encontrei com Mestre José Gabriel da Costa, o criador dessa sociedade, em Porto Velho. Estive com ele de 69 até 71, mas pedi a licença para voltar à minha terra que é o Acre. Ele me concedeu uma garrafa de ayahuasca mesmo sem eu ser mestre na época. Quando cheguei era solteiro e bebia sozinho. Tive a felicidade de ter uma companheira que me ajudou e, em Rio Branco, temos atualmente três templos. No restante do Estado outros 20 templos que nasceram dessa garrafinha que ganhei do Mestre Gabriel”, relembrou.

Para Mestre Máximo a maior herança do Mestre Gabriel foi a religião UDV. “Assim todo mundo tem a oportunidade de se guiar para alcançar a paz. Milhares de famílias e jovens foram transformados na UDV. Não fazemos propaganda porque é uma religião silenciosa. As pessoas chegam e entendem o sentido espiritual dessa Doutrina”, completou.

Quanto aos preconceitos que ainda existem Mestre Máximo explica: “As pessoas criticam por falta de conhecimento. Pensam que as religiões ayahuasqueras trabalham com outras coisas e que é tóxico. Mas não é nada disso. Na realidade é um chá abençoado por Deus que transforma o homem e traz a saúde e a paz. Fico feliz que a Aleac nos conceda a homenagem. Aquele que alcançar os 100 anos vai ver um crescimento dez vezes maior da UDV no mundo inteiro. Nós todos devemos se unir num só pensamento que é Deus”, preconizou.

Um dos fundadores da UDV, José Roberto Souto Maior, também comemorava a sessão solene. “Me sinto feliz porque o nosso Mestre Gabriel já anunciava isso. Quando a UDV tiver o apoio das autoridades a nossa dinâmica vai brandir no mundo todo. Os políticos e as autoridades que estão retribuindo o bem que fazemos à sociedade. Pertenço há 43 anos a UDV com o apoio das autoridades teremos mais facilidade de trabalhar em benefício do homem para encontrar um caminho mais claro e digno para que possam viver na luz da paz e do amor”, refletiu.

Já para o Mestre Gastão Menezes de Cruzeiro do Sul a UDV completa 50 anos de uma luta pela paz. “Esse foi o objetivo principal do Mestre Gabriel. Também no Juruá estamos continuando o trabalho do Mestre para que possa haver uma expansão da paz que o mundo necessita. Mas temos feitos trabalhos em prol da comunidade com o atendimento de consultas médicas, odontológicas e cabeleireiros, além dos nossos núcleos na alfabetização, o Luz do Saber, que tem dado a oportunidade para as pessoas buscarem uma formação escolar”, finalizou.

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