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Fábrica de pisos ainda não se consolidou no mercado

No início de julho deste ano, a informação de que a Pisos Xapuri S.P.E Ltda., empresa que responde juridicamente pela Fábrica de Pisos de Xapuri, teria demitido os 78 funcionários teve impacto negativo na região. Um mês após a divulgação das informações equivocadas, o Acre Economia retoma o assunto. Na verdade, o que existe de fato é um rearranjo administrativo. Ninguém foi demitido. E ninguém vai ser demitido. Talvez haja mais contratações.

Em tese, as empresas Ouro Verde, detentora de 45% do capital do empreendimento, e Albuquerque Engenharia (com 25%) vão deixar de compor a sociedade com a Laminados Triunfo, que detinha 30% dos investimentos do grupo. Na prática, o desmembramento da sociedade ainda não se efetivou. Mas isso é questão de tempo e ajustes. Para o governo, o principal articulador do formato administrativo executado na unidade, os problemas de ordem política com o não-sucesso temporário do empreendimento são evidentes. O destaque: a Fábrica de Pisos ainda não se consolidou no mercado. Não é para menos.

Há problemas de ordem técnica e administrativa que está se tentando resolver. O maior drama para a Fábrica de Pisos é que a gestão é privada, mas as possíveis soluções passam pela chancela do poder público. Talvez seja por isso que a opinião pública identifique no empreendimento uma ação pública sobre uma empresa que é de responsabilidade do setor privado. Até agora, o governo investiu cerca de R$ 28 milhões.


Problemas de ordem técnica e administrativa ainda impedem que empreendimento deslanche no mercado interno

Ainda não se sabe ao certo quanto a iniciativa privada já investiu nos ajustes do projeto do maquinário e da logística. Ainda não foi divulgada a região que está em foco, após o anúncio de que o “mercado interno” é a prioridade de comercialização. Não se sabe também se, no novo desenho administrativo, a Triunfo pode ou não se associar a uma empresa estrangeira, como ficou sugerida na entrevista do proprie-tário JandirSantin, concedida ao jornal A Gazeta em 16 de junho deste ano.

Para o Governo do Acre, a prioridade é conceitual: “os comunitários”, designação a quem fornece a matéria-prima para a fábrica, devem participar dos lucros. Quando isso será uma realidade, com quais parceiros e para quais mercados são questões que ainda precisam ser resolvidas.

 


AMV Studio inicia prestação de serviços a empresas

Fortalecimento do setor privado no Estado incentiva empresas a cuidarem da forma como se apresentam ao público

 

ITAAN ARRUDA

Os empresários do Acre já dispõem de uma agência de imagens institucionais. O serviço pioneiro faz parte de uma das atividades do Studio AMV, um empreendimento dos fotógrafos Marcus Vicentti e Adonay Melo. O fortalecimento do setor privado na região força as empresas a cuidar da forma como se apresentam ao público. “A identificação vi-sual das empresas com tratamento profissional é algo que falta ao mercado local”, afirma Marcus Vicentti, fotojornalista há 18 anos.


Marcus Vicentti e Adonay Melo: parceria com inovação

Adonay Melo, sócio de Vicentti, trabalha com fotografia de eventos sociais (casamentos, formaturas) há 20 anos. Nas festas, o contato com os empresários despertou o interesse do fotógrafo em montar uma empresa que pudesse registrar as diversas cadeias produtivas. “Percebi que estávamos no momento certo para arriscar”, diz. “Daí, a união com o Marcus”.

Adonay Melo, com a preocupação estética própria da cobertura de eventos sociais, e Marcus Vicentti, com o ritmo próprio das redações, fazem do Studio AMV uma empresa singular na região. Mas, além das fotografias institucionais, a empresa também trabalha com a formação por meio da Escola de Imagens e também com a venda de imagens da região por meio do Banco de Dados.

Com dois meses no mercado regional, o Studio AMV já conseguiu efetivar duas parcerias importantes. Com a agência de publicidade MX Desing, os fotógrafos buscam apresentar material impresso diferenciado no mercado regional. Com a equipe do programa Acre S.A, coordenado pela jornalista e apresentadora de tevê Mirla Miranda, o Studio AMV atende às empresas que necessitam de material em vídeo.

As empresas Plasacre, que trabalha com produção de mourão e telhas de plástico com insumo reciclado, e a Transterra, empresa de terraplanagem, já são clientes do Studio AMV.
O esforço dos dois fotógrafos pode antecipar uma tendência que já é rotineira em mercados das regiões Sul e Sudeste. “O futuro do trabalho dos fotógrafos, mesmo nos jornais, é terceirizar os serviços”, anuncia Vicentti. “Esse tempo já chegou aqui no Acre”.

 

 


 


Crise na produção da macaxeira compromete produtividade das Casas de Farinha

ITAAN ARRUDA

O Acre vive um problema estrutural na produção de macaxeira. O projeto 102 Casas de Farinha, lançado há três anos, não previa a cadeia produtiva desestruturada da atua-lidade. Hoje, falta macaxeira, o insumo básico, para abastecer as unidades padronizadas que têm capacidade operacio-nal de beneficiar até 400 quilos por dia. Pensado pelo então senador Tião Viana e financiado em parceria com a Fundação Banco do Brasil, o projeto foi dividido em três etapas. A primeira delas teve início em outubro de 2008, com construção de 30 unidades, em dez municípios do Acre.


No ramal Novo Horizonte, 25 famílias sobrevivem basicamente da produção da macaxeira e da farinha

A estimativa do projeto é gerar, aproximadamente, quatro mil postos de trabalho em todo Estado. O projeto se justifica e tem identidade com a cultura regional. Só há um problema estruturante: falta produção de macaxeira que o sustente em toda a capacidade.

Problemas rotineiros das obras feitas na região amazônica atrasaram a construção das unidades padronizadas e, com isso, o cronograma dos trabalhos. Em 2009, ainda havia unidades da primeira etapa sendo edificadas por três empresas. Em junho do ano passado, iniciou-se a segunda etapa do projeto com a construção de mais 42 casas de farinha. A atual baixa produtividade de cada unidade tem uma explicação que mistura conflitos de natureza técnica com critérios conceituais entre diferentes equipes de governo. Em tempo: cada unidade tem custo estimado em torno de R$ 50 mil.

“Os critérios que foram adotados não são os critérios que hoje o atual secretário adota”, justifica a gerente da Cadeia Produtiva da Macaxeira da Secretaria de Estado de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar, Palmira Cruz, mestre em Produção Vegetal pela Universidade Federal do Acre. Traduzindo o que diz a gerência da Seaprof: algumas casas de farinha foram construídas em regiões sem produção que justifique a existência de uma unidade de beneficiamento. “Tem que haver plantio de mandioca  nos locais onde forem construídas as casas”.

A falta de critério técnico já trouxe resultados complicados para o governo. No início do ano, houve desabastecimento do produto na região do Vale do Acre. O que, ao menos em tese, não deveria acontecer se a execução do projeto tivesse seguido critérios técnicos rígidos, sem concessões de ordem política.

O que são as boas práticas previstas no projeto 102 Casas de Farinha

O projeto 102 Casas de Farinha prevê uma mudança no processo de beneficiamento da macaxeira. Não apenas pelos critérios da produtividade, mas, sobretudo pela questão sanitária, as mudanças são as seguintes:

# Ambiente com telas para evitar entrada de insetos;
# Área de torrefação, prensa e empacotamento da farinha isolada na área de recebimento da macaxeira;
# Torrefação feita com uso de tocas, luvas, avental e protetores de boca e nariz;
# “Área molhada”para recebimento e descasca da macaxeira higienizada;
# Proibição do trabalho infantil.

Mecanização prevê 84 mil toneladas de macaxeira

Uma saída emergencial encontrada pela Secretaria de Estado de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar foi intensificar a mecanização agrícola em áreas de até dois hectares próximas às casas de farinha. As associações de produtores custeiam o combustível e o Governo do Acre subsidia a mecanização. Em Rio Branco, existe a parceria técnica para mecanização com a Secretaria Municipal de Agricultura, reativada há oito anos pelo atual prefeito, Raimundo Angelim. Nessa ação emergencial, já foram mecanizados mil hectares. A previsão é que, até dezembro deste ano, 2,8 mil hectares sejam mecanizados em todo Acre.


Higiene e disciplina para unidade que pode beneficiar até 400 quilos de macaxeira

A mecanização acontece na casa de farinha do ramal Novo Horizonte próximo à rodovia AC-40. Ali, 25 famílias sobrevivem basicamente da produção da macaxeira e da farinha. E, o que é melhor, sem o uso do fogo. Antes da construção da unidade de beneficiamento, produziam mensalmente entre 500 Kg a 1 tonelada e até 400 Kg de goma. Hoje, alcançam 15 toneladas de farinha e até 20 toneladas de goma por mês: uma mudança radical na qualidade do produto e da vida dos integrantes da associação de produtores.

A meta da Secretaria de Estado de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar é manter a média de 2,8 mil hectares mecanizados para produção de macaxeira, o que equivale à média aproximada de 84 mil toneladas. Essa quantidade de macaxeira deve garantir o beneficiamento de 21 mil toneladas de farinha.

Triangulação com Rondônia não está descartada

O setor de comercialização da farinha é outra ponta frágil na cadeia produtiva da macaxeira. Técnicos do próprio governo não descartam a possibilidade de estar havendo “triangulação” com armazéns de Rondônia.


Comercialização da farinha é outro setor com problemas

É real a possibilidade de que a farinha saia de Cruzeiro do Sul (ou mesmo da região do Vale do Acre e Purus) e seja comercializada diretamente com Rondônia. Isso possibilita que, no pe-ríodo de baixa oferta do produto no mercado acreano, a farinha daqui seja comprada dos armazéns rondonienses.

Um contra-exemplo

No assentamento Triunfo, localizado às margens do Km 80 da rodovia AC-40, entre Rio Branco e Plácido de Castro, existe um exemplo de como a execução do projeto não foi bem acompanhada. Há dois anos, a comunidade cobrou do prefeito de Plácido de Castro, Paulinho Almeida, a construção de uma casa de farinha. A articulação política foi feita junto ao gabinete do autor do projeto, o então senador Tião Via-na. Até aí, nada de anormal.


Dois anos após inaguração, unidade não é utilizada

O problema foi que as articulações políticas e a consequente construção da casa de farinha no local solicitado se anteciparam à organização dos trabalhadores da região. “O que deveria ter servido para unir os trabalhadores acabou de serventia para a desunião”, lamenta o agricultor Gerson Gomes da Costa, um dos que mais cobrou a construção da unidade no projeto de assentamento. A casa de farinha, inclusive, foi edificada em uma parte de sua propriedade.


Agricultor construiu outra casa de farinha nos fundos de sua residência, para garantir o sustento da família

Dois anos após a inauguração, a casa de farinha está praticamente intacta. “Nunca vi essa casa de farinha funcionar”, diz uma dona de casa que mora ao lado da casa de farinha. Desentendimentos,falta de organização dos trabalhadores e ausência de uma política de preços são fatores apontados pelos agricultores como “desestimulantes” à produção de macaxeira.

O agricultor Gerson Gomes da Costa disse que a dificuldade para usar a estrutura para beneficiar a macaxeira “era tão grande” que ele radicalizou. Construiu, com os poucos recursos que tinha, outra casa de farinha nos fundos da residência. “Com a farinha que eu faço aqui, ajudo na renda extra da minha família”.

Diálogo: ‘Detinho’, da casa de farinha do Novo Horizonte, dá dicas ao colega Gerson, do assentamento Triunfo, para unir trabalhadores e melhorar empreendimento

Seaprof tenta reverter o quadro
A Secretaria de Estado de ExtensãoAgroflorestal e Produção Familiar tenta reverter a situação. Com quadro reduzido, fez um concurso público para contratação de 79 técnicos agrícolas. É uma medida emergencial. A gerência da cadeia produtiva da macaxeira não possui nem 40 técnicos para acompanhar o ciclo da produção em todo Estado.

Há investimentos em destocas e gradagens (semana passada, uma equipe esteve, inclusive, no projeto de assentamento Triunfo) e recursos da ordem de R$ 3 milhões para melhoramento dos ramais. Em depoimento ao repórter de A Gazeta (4/08), Jorge Natal, o secretário de Estado de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar, Lourival Marques de Oliveira Filho, assegurou que essas ações “demonstram que o governo prioriza a agricultura familiar”.

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