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Distância atrapalha controle das hepatites na Amazônia

Na semana que marcou o dia Mundial da Hepatite, a Organização Mundial da Saúde (OMS) chamou atenção para o aumento de casos da doença. Hoje, 500 milhões de pessoas no mundo inteiro portam o vírus da B ou da C. No Brasil, o doutor Drauzio Varella viajou até uma região esquecida do nosso país que está pedindo socorro.

Justamente por causa da forma rara da doença, lá as pessoas são vítimas de um ataque duplo: dois tipos de vírus da doença, que juntos se tornam ainda mais violentos.

Dependendo da região do estado do Acre, 3 a 20% dos habitantes sofrem de hepatite B crônica. É a principal causa de morte em jovens de 15 a 25 anos. Para tornar a situação mais dramática, um em cada cinco portadores de hepatite B também está infectado pelo vírus da hepatite Delta. Os dois vírus, ao mesmo tempo, na mesma pessoa, causam uma doença muito mais grave.

Na região Norte, muitos portadores de hepatite B mudam para as capitais em busca de tratamento. Em Rio Branco, os ambulatórios estão lotados de pacientes como Antônio, de de 13 anos, que crescia em sua cidade, Boca do Acre, até apresentar os primeiros sinais de hepatite B crônica. No caso dele, para piorar, combinada com a hepatite D, também conhecida como Delta.

Cruzeiro do Sul, à beira do rio Juruá, está a 680 Km da capital do Acre, Rio Branco. A estrada entre duas cidades só é transitável no verão que dura, no máximo, 4 a 5 meses. A viagem de barco leva quase 30 dias. Exames laboratoriais, vacinas e medicamentos só disponíveis na capital dependem totalmente de transporte por avião. Apesar das distancias e das dificuldades, Cruzeiro do Sul dá exemplo de como devem ser enfrentadas as hepatites B e D na Amazônia. A floresta impede o acesso aos serviços médicos. O combate às hepatites B e Delta, na Amazônia, dependem da dedicação de profissionais da Saúde.

Drauzio Varella pergunta se com toda a experiência, a que a infectologista atribui a concentração de casos de hepatite B na região amazônica, especialmente, no Acre. “Eu creio que para nós, a transmissão familiar esteja muito vinculada a esse grande número de casos que nós temos aqui. Nós observamos o compartilhamento de muitos objetos pessoais, inclusive, escova de dente. Nós sabemos que no ato de uma escovação pode produzir o sangramento, e isso pode ser um fator de transmissão, lâminas de barbear. Então, é uma para a família inteira”, explica a infectologista.

Na Amazônia, as hepatites são uma epidemia difícil de controlar, porque as distâncias são enormes. Para atender as comunidades mais isoladas existem serviços itinerantes que viajam pelos rios. Nessas comunidades, muitos indígenas perdem a vida por causa das hepatites B e Delta.

A hepatite B é uma doença complicada que evolui no decorrer de muitos anos. Nesse período, o doente precisa de assistência médica, exames laboratoriais e tomar remédios que provocam reações indesejáveis. Mas veja o problema de quem mora em uma região como essa. Drauzio Varella saiu de carro de Cruzeiro do Sul, levou quase 4h para chegar no Rio Gregório, que é um afluente do Rio Juruá. Foi de barco e viajou 7h e meia pelo rio. E ainda falta uns 30 minutos para chegar na comunidade Yawanawá.

O médico pergunta à enfermeira da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) Cássia da Silva quantos portadores de hepatite B ela têm documentados na aldeia. “Documentados na aldeia, nos temos 54 casos de hepatite B”, revela. E de hepatites D, com vírus B e D “nove casos”. Na aldeia, vivem, aproximadamente, 600 pessoas.

O vírus da hepatite D é um vírus defeituoso, ele não se multiplica e nem consegue sobreviver se a pessoa não estiver também infectada pelo vírus. Agora, aqueles que adquirem os dois vírus costumam ter uma hepatite muito mais agressiva, uma doença que vem dar cirrose hepática muito mais cedo.

A hepatite B é uma tragédia na vida dos indígenas do Acre e do resto da Amazônia. A doença e complexa, o tratamento e difícil e as enormes distâncias entre as comunidades são enormes. Mas hepatite B tem vacina, que tem um complicador: a primeira dose é hoje, a segunda , daqui a 30 dias, e a terceira, daqui a seis meses. Vai exigir recursos e dá trabalho, mas a única saída é vacinar todos os indígenas: bebês, crianças, adolescentes, mulheres, homens, todo mundo. (Jornal de Floripa)

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