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Madeireiros ameaçam fiscais e fazem churrasco para celebrar no Amazonas

Madeireiros armados ameaçaram servidores da Funai, do Ibama e policiais militares para evitar que seus equipamentos fossem apreendidos no Sul do Amazonas. E comemoraram o desfecho do caso com uma churrascada noite adentro, mostrando que o Governo Federal, por lá, não manda muito.

“Chegaram caminhonetes e motos do meio do mato e nos cercaram rapidamente. Deviam ser uns 60 ou 70 madeireiros. Não estavam todos com armas aparentes, mas todos deviam ter armas. Todo mundo anda armado aqui, o pessoal do Ibama, inclusive, tem porte de arma, e muita gente da Funai anda com arma por conta própria.

Eles chegaram, nos cercaram e não queriam que levássemos os equipamentos apreendidos. Falavam em entrarmos em acordo para ‘evitar o pior’ ”, contou um dos servidores públicos presentes no incidente que começou na última sexta (12) à tarde na região de Humaitá/AM.

Na divisa com Rondônia, Humaitá possui uma grande população Tenharim. Quem atua para proteger esses indígenas e suas terras está acostumado ao contato pouco amistoso com os madeireiros. Na tarde da última sexta, a coisa estava bem mais quente do que o habitual. A Funai, junto de Ibama e de 8 policiais do Amazonas, haviam apreendido máquinas usadas para cortar madeira de terras indígenas de forma ilegal. E, como era de se esperar, os madeireiros não estavam dispostos a deixar o material apreendido (2 tratores e 1 caminhão, além de 50 toras cortadas) sair dali. Custasse o que custasse.

O impasse e a negociação armada girava em torno de quem seria o fiel depositário do material. Funciona assim: quando Ibama e Funai apreendem veículos/ máquinas, alguém tem que ficar responsável por eles até que a Justiça defina seu destino final. Muitas vezes, quando o fiscal não é rigoroso, o próprio dono do equipamento ou algum amigo fica de fiel depositário. Nesses casos, assim que a equipe vira as costas, tudo volta a funcionar como era antes. Na situação ideal, uma pessoa ou entidade interessada na preservação do meio ambiente deve ser a responsável.

Os madeireiros sabem bem como funciona esse jogo. E por isso bloquearam a pequena estradinha de terra que era a única saída para a clareira onde estava a equipe composta por 5 funcionários da Funai, os 3 servidores do Ibama e os 8 PMs que tentavam dar uma destinação adequada ao maquinário apreendido.

Em outras palavras, os madeireiros fizeram os funcionários públicos de reféns. Alertavam que “o pessoal da vila pode ficar revoltado”, sendo que “o pessoal da vila” eram eles mesmos. Também não aceitaram que as coisas fossem levadas para um posto do Ibama na região ou que a negociação continuasse na cidade. Ameaças surgiram: “Pô, você é do Ibama e tá querendo apreender. Depois vai ter que voltar aqui pra trabalhar, como é que vai ser?”

Essa cena toda ocorria em uma clareira próxima ao ‘180’, como é conhecido o distrito de Santo Antônio do Matupi, vila de 5 mil habitantes entre os municípios de Humaitá e Apuí, cuja economia gira toda em torno da extração ilegal de madeira e da criação de gado nos locais já desmatados. (O Jornal Alagoas)

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