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Número de ciclistas cresce e exige investimentos em infra-estrutura

Existe um desenho viário invisível para os olhos da maioria da população. São linhas pintadas pontos de concreto fixados no asfalto de dezenas de ruas e avenidas de Rio Branco e que são vistas por milhares de pessoas que usam a bicicleta todos os dias no ir e vir de suas casas, trabalhos, escola, lazer.

Ao disputar espaço dentro da complexa estrutura do trânsito das cidades, muitas dessas pessoas sequer sabem que conduzem um veículo que além de trazer as vantagens de ocupar menos espaço nas vias e em estacionamentos, de não ser poluente e de oferecer mais qualidade de vida e saúde é responsável por gerar uma discussão em favor da facilitação dessa mobilidade. O grave é que grande parte desses condutores desconhece as regras de trânsito e as medidas de segurança de qualquer outro condutor.

Este é o ponto fraco do sistema viário que inclui a bicicleta como meio de transporte alternativo a carros e motos para viabilizar um trânsito mais fluente e seguro. O debate sobre a reordenação urbana para acolher um fluxo de bicicletas é nova. Tem cerca de 10 anos em todo o mundo e há menos de cinco no Brasil. O Código de Trânsito Brasileiro dispõe de um artigo que contempla o condutor de bicicletas com regras, que na opinião do engenheiro de trânsito e diretor do Rbtrans, Ricardo Torres, são inaplicáveis. Entre elas, a que prevê multa e apreensão do veículo.

Educar o usuário para o trânsito seria, na opinião do diretor, uma das ações ação emergentes que precisam do envolvimento de gestores comprometido, com o aval de toda a sociedade. O Plano Diretor de Transportes e Trânsito de Rio Branco prevê novos investimentos na construção de ciclovias e ciclofaixas em toda a Capital. Atualmente existem 60 quilômetros de vias destinadas ao trânsito de bicicletas que ligam vários pontos em quase todas as regionais, mas que ainda são insuficentes para interligar toda a cidade como estabelece o projeto. Com convênio assinado e projetos em fase de aprovação, o Deracre planeja a ampliação da rede de ciclovias com a implantação de quase 13 quilômetros com alargamento e adequação das ruas nos primeiro e segundo distritos da cidade. O valor do investimento com recursos dos governos estadual e federal é da ordem de R$ 4,3 milhões.

O foco serão o centro e os bairros Bosque, Sobral, Nova Esperança, Placas, São Francisco, Aeroporto Velho, Triangulo, Quinze e Seis de Agosto. O diagnóstico do Plano Cicloviário indica que as bicicletas têm relação estreita com o sistema viário e que apesar de possuir uma malha extensa interligando área central e bairros apresentam problemas que resultam em elevado número de acidentes causados pela falta de infraestrutura e descontinuidade da malha. Topografia e vias cicláveis são, segundo o Deracre, caminhos naturais dos ciclistas sendo necessário dotá-los de segurança. O projeto inclui a implantação de mais ciclovias, a requalificação que já existem, sinalização de todo sistema e realização de campanhas institucionais para divulgação do sistema.

Ciclofaixas são usadas como estacionamento –

Reginaldo de Oliveira, trabalhador da construção civil, sobe a ladeira do Bola Preta todos os dias empurrando a bicicleta desde sua casa na baixada da Sobral até o Centro da cidade. Se não bastasse o esforço físico que precisa empreender para o trajeto, redobra a atenção para desviar de carros nas ruas ou invade calçadas, onde há, para seguir seu caminho. Ele diz que é comum encontrar carros estacionados ao longo de ciclofaixas ou ciclovias como no ponto onde a reportagem o encontrou, em frente à secretaria Estadual de Educação, local em que dois carros bloqueavam a ciclovia.  “É ruim porque a gente fica desviando deles em todo o percurso. Os motoristas não respeitam mesmo”, diz.

É esta intervenção que deverá ser feita na malha viária da capital com a ampliação das vias e faixas para bicicletas e um projeto de construção de passarelas com recursos do BNDES ligando o bairro Aeroporto Velho ao Segundo Distrito da Capital. O Detran informou que desenvolve campanha com distribuição de material “Ciclista Consciente” e adesivos reflexivos. A ação iniciou em Tarauacá e será estendida a todos os municípios do Estado. O Rbtrans também pretende realizar campanhas educativas no ponto de maior fluxo de pessoas em Rio Branco, o Terminal Urbano onde o volume de pessoas que passam nas catracas atinge os 2 milhões por mês.

Não há estimativa de quantas bicicletas circulam em Rio Branco. Por ser veículo de fácil uso e comercialização e ter preço acessível, a tendência é que este número possa subir ainda mais. “Essa cultura é evolutiva”, explica Ricardo Torres lembrando que a discussão é recente e precisa do envolvimento mais efetivo de gestores para planejar uma cidade que permita o acesso de todos incluindo ciclistas e pedestres.

Mudança de vida sobre duas rodas
O acaso levou o jornalista Gilberto Lobo a adotar a bicicleta como veículo há 6 meses. A idéia era formar um grupo do qual participavam 7 pessoas para percorrer trilhas, mas um problema no carro da família fez com que experimentasse uma nova forma de se locomover de casa para o trabalho. Conseguiu no período economizar R$ 400 por mês de combustível, perder 11 Kg sem fazer qualquer dieta e ter a certeza de que a prática ainda é arriscada.

Ele reconhece também que deixa de fazer a sua parte ao não usar o capacete e teve sorte de não se machucar gravemente no acidente em que colidiu com uma motocicleta. “É muito arriscado, principalmente com as motos que invadem os acostamentos e não respeitam as ciclovias”, avalia. Mesmo depois da experiência, o jornalista que agora usa ônibus e mototáxi para ir ao trabalho planeja consertar a “magrela” equipada para qualquer terreno, até para as ruas de uma cidade com trânsito agitado.

 

O que é?
Ciclovia – Espaço delimitado na via para a circulação de bicicletas dividido do resto da via por obstáculos como blocos de concreto.
Ciclovia – Espaço identificado nas vias com sinalização horinzontal.

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