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Ciúme e traição caminham juntos?

A literatura mundial que trata do ciúme é abundante, e as divergên-cias de opinião acerca do assunto também o são. Embora o conceito de ciúme tenha uma dimensão pluralística, no sentido de admitir a coexistência de vários princípios na tentativa de explicá-lo, é freqüente que os autores se respaldem na definição fornecida, em 1981, pelo autor Gregory White, por contemplar um número maior de fatores e por ser menos contraditória em relação a todas as outras que lhe sucederam. É por essa razão que neste artigo busca-se esboçar um breve panorama como o ciúme e a traição são compreendidos, a fim de que se possa aproximar de uma padronização conceitual, ao menos para os nossos objetivos.

Numa perspectiva mais ampla, que remonta há aproximadamente vinte e quatro séculos atrás, Aristóteles (2001) definia o ciúme como o desejo de ter o que outra pessoa possui, isto é, originariamente ele era concebido como uma qualidade boa e se referia ao desejo de imitar uma nobre atitude característica de outra pessoa. Nesta acepção, o filósofo pensava o ciúme em termos de uma nobre inveja.

Mais tarde, encontram-se nas referências bíblicas ilustrações que denotavam como o ciúme já tinha sido concebido como algo belicoso à boa vivência do amor. Salomão, em seu livro “Cântico dos Cânticos”, acreditava que o amor era forte como a morte e o ciúme, concebido enquanto uma paixão, era cruel como um túmulo.

 Treze séculos depois, o escritor clássico e moralista francês François de la Rochefoucauld reconhecia no ciúme uma tendência egocêntrica ao dizer: “há no ciúme mais amor-próprio do que amor”. Este autor ainda identificava o amor como substrato para a gênese do ciúme: O ciúme nasce sempre com o amor, mas nem sempre morre com ele. Rochefoucauld (2006) ainda associa o ciúme às grandes mazelas humanas, em suma, para ele, o maior de todos os males.

No século XIX, na Alemanha, o ciúme, era concebido por Freud como um estado emocional. Segundo Freud (1922/ 1976), “O ciúme é um daqueles estados emocio-nais, como o luto, que podem ser descritos como normais” (p. 271). No texto Alguns mecanismos neuróticos no ciúme, na paranóia e no homossexualismo, o autor faz uma distinção entre três tipos de ciúmes, o competitivo ou normal, o projetado e o delirante.

Assim, para Freud, o ciúme poderia estar associado, no próprio ciumento, com as suas próprias traições. Então, é o desejo e a possibilidade virtual de trair o parceiro que faz brotar em cada pessoa o próprio ciú-me. E esse ciúme já é algo ruim, perverso, que não traz nenhuma felicidade ao ser humano.

Para Stendhal (França,1999), o ciúme tinha uma conotação negativa e estava atrelado à vaidade quando dizia que o que tornava a dor do ciúme tão aguda era a vaidade que não contribuía para nos ajudar a suportá-la. Enquanto a traição, que destrói e anula relacionamentos, está envolta em engano e hipocrisia.

De outro lado a ciência etologia afirma que o ciúme é um sentimento universal, e sua existência pode ser constatada nos mais diferentes povos e raças. Apesar das diferenças na sua forma de manifestação, essa universalidade sugere um componente genético. Dessa forma, alguns autores abordam o ciúme do ponto de vista evolutivo e dizem que ele é uma manifestação biológica inata, que tem a função de garantir a propagação dos genes e, conseqüentemente, a perpetuação da espécie, um provedor para a prole, no caso do gênero feminino, e, sobretudo, a garantia da paternidade para o gênero masculino.

Enquanto a traição é um ato de vilania, pode ser abstrata (ver, sentir, omitir, esquecer) ou concreta (conjugal, carnal, infidelidade no agir, atraiçoar alguém). A fidelidade não é obrigação é escolha. E desta escolha pode nascer à satisfação ou a frustração das pessoas. E, na vida, é fundamental, antes de tudo, respeitar as pessoas, sob todos os prismas e formas. O respeito é a âncora de uma vida harmônica. Por isso ciúme e traição não são antagônicos, caminham de mãos dadas, povoam a mente, o caráter, o coração, os pensamentos das pessoas, fazendo-as seres inferiores, portanto, sofredoras e infelizes.

DICAS DE GRAMÁTICA

O JOGO ACONTECERÁ NO ARENA DA FLORESTA ou O JOGO ACONTECERÁ NA ARENA DA FLORESTA?

– Arena da Floresta é um Estádio de Futebol, palavra masculina. Portanto o jogo acontecerá no Estádio Arena da Floresta. Por elipse de estádio, “o jogo acontecerá no Arena da Floresta”, por favor!

ESCREVE-SE JUNTO OU SEPARADAMENTE?

AFIM = Igual, semelhante. Ex.: Temos estilos afins.
A FIM DE = para. Ex.: Saiu a fim de divertir-se.

Luísa Galvão Lessa – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montreal, Canadá. Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Pesquisadora Sênio da CAPES.

 colunaletras@yahoo.com.br

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