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A água na torneira e o Código Florestal

Para muita gente pode ser difícil perceber que as perdas de florestas decorrentes das mudanças no Código Florestal vão afetar nosso bem estar. Estou falando das perdas fundamentais, como a água dos ambientes naturais superficiais: açudes, lagos igarapés. 

O desmatamento nas áreas de nascentes, cursos d’água e açudes põe em risco a disponibilidade de água, e a tendência é que isso aconteça de forma exponencial se o Código Florestal sofrer as mudanças em discussão.

Vamos exemplificar mostrando amiúde a situação do açude construído no igarapé Redenção, afluente do rio Acre pela margem esquerda. O açude construído com a finalidade de represar, tratar e distribuir para a população de aproximadamente 18.000 habitantes, consumidores da cidade do Bujari e o fluxo de pessoas  que utilizam diariamente as dependências do Aeroporto Internacional de Rio Branco – Adalberto Sena.

A construção de grandes açudes para muitos gestores, é visto como ação estratégica para garantir abastecimento humano no período de longa estiagem na região. Vez que os afluentes do rio Acre por força do contínuo desmatamento, nas últimas décadas estão secando, é o caso dos igarapés: Chicão e Mutum. Essa reserva de maneira geral, tem um custo social alto: primeiro a estrutura da barragem não garante o estoque de água de grandes chuvas, segundo, se ocorrer o rompimento da barragem pode afetar a infra estrutura da cidade e  causar  danos a população; terceiro, erradica a mata ciliar da drenagem, facilitando o acesso de detritos para o interior do açude; terceiro, altera o curso fluvial e por fim o balanço hidrológico da bacia.

Por força dos impactos mencionados na drenagem do igarapé, mesmo regido pela proibição de desmatamento. Reduz de forma aritmética o estoque de água e a população se sente prejudicada pelo abastecimento de água em dias alternados.

Aproximadamente 42% das terras no entorno da bacia hidrográfica do Igarapé Redenção são ocupadas por remanescentes da floresta amazônica. Percentual limite para propiciar condições ambientais favoráveis a produção de água na bacia hidrográfica do igarapé Redenção e por extensão o estoque no açude  O agravo ou a oferta do abastecimento de água para a população dessa região está nas mãos dos Senadores, votar ou não as mudanças prevista no código Florestal.

O desmatamento, se permitido legalmente pelas mudanças propostas no Código Florestal, causará um efeito direto no manancial como o aumento do carregamento da sedimentação para o leito do açude, a expansão rápida da colmatação, a redução do volume de água, o espaço para estocar água, ameaçar a quantidade e a qualidade de água disponível.

Desde que o açude foi construído as pressões tem aumentado, me parece um exemplo local com a riqueza natural, com enormes desafios sociais que da a impressão de que para ter progresso é preciso destruir a natureza.

Mas o mundo mudou e os valores ambientais precisam ser atualizados para que haja chances de se obter um futuro de bem estar para todos. A natureza neste contexto, não deveria ser computada “sem valor na equação econômica”. Se o Código Florestal for alterado, os desmatamentos serão permitidos, desta forma por Lei e trarão impactos que incluem a água produzida em todas as bacias hidrográficas, em espacial a bacia do Igarapé Redenção e a vida de toda região padecerá com a escassez,  justamente quando mais vamos precisar de água.   

*Claudemir Mesquita, professor, geógrafo especialista em planejamento e uso de bacias hidrográficas. 

 

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