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Ponte do rio Madeira: mudança na conjuntura econômica obriga a articulação política

A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Rondônia estima que, em 2010, os prejuízos econômicos causados pela ausência da ponte sobre o rio Madeira alcançaram R$ 30 milhões, somente com perda de mercadorias perecíveis(ler entrevista).No Acre, o maior transtorno, no curto prazo, é o isolamento e o consequente desabastecimento que a seca no rio Madeira causa.Com uma ressalva de natureza econômica: empreendimentos acreanos, que dependem da BR-364 para escoar a produção, também são diretamente atingidos com a restrição do trânsito na Ponta do Abunã.Para entender o que motiva a mobilização política acreana e rondoniense pela construção da ponte,atualmente, é preciso observar um aspecto: o fortalecimento das bases econômicasregionais.

Há evidentes diferenças na aplicação de modelos de desenvolvimento entre os dois Estados. Mas, o sistema de transporte intermodal, implantado na região justamente para dinamizar o comércio, é incompatível com a situação vivida por quem é obrigado a usar uma balsa para transportar produtos.E isso prejudica as duas regiões. É evidente que, no mercado internacional, as commodities que tanto o Acre quanto Rondônia produzem têm baixo valor agregado comparado a outros produtos. Mas, os avanços pontuais ocorridos nos dois Estados, nas últimas décadas, reestruturaram de tal forma o desenho da economia regional que torna qualquer gargalo de infraestrutura uma ameaça à sobrevivência de dezenas de empresas.


Senadores Jorge Viana e Aníbal Diniz apresentam argumentos para ação emergencial do Governo Federal na região do rio Madeira

No Acre, investimentos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), do Banco Mundial (Bird), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do próprio Governo Federal perdem impacto com a inexistência da ponte sobre o rio Madeira. E isso acendeu uma luz de emergência no âmbito político. Por dois motivos: pelos cortes nos gastos públicos e pelas incertezas quanto a 2014. “O ministro dos Transportes é o interlocutor ideal para apresentar à presidente Dilma as razões da urgência dessa obra”, revelou o coordenador da bancada federal do Acre, senador Aníbal Diniz (PT). Na última terça-feira, ele e o senador Jorge Viana (PT/AC) alertaram o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos,para os riscos imediatos de desabastecimento. O deputado federal Taumaturgo Lima (PT/AC) também fez articulações com o ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, relatando o problemacom argumentos econômicos. O ministro Carvalho não anunciou nenhuma providência prática.

O ministro dos Transportes Paulo Sérgio Passos enviou um grupo de técnicos do Ministério para a região da Ponta do Abunã, para que houvesse uma avaliação de emergência. Até o fim da tarde de sexta-feira, a assessoria do Ministério dos Transportes não informou quais providências emergenciais serão adotadas.


Veículos se acumulam na BR-364 para tentar travessia

Exportações ficam comprometidas


Nos últimos 12 anos, houve o esforço do poder público do Acre pela reestruturação do setor produtivo, com prioridade para a valorização da indústria vinculada à economia florestal. Mais do que em qualquer outro lugar, a iniciativa privada acreana veio a reboque dos investimentos do governo. Fatores externos que dificultem a harmoniado binômio governo/empresassão muito mais sentidos aqui do que em Rondônia.”Qualquer interrupção neste trânsito gera aumento de custo dos produtos e possibilidade de desabastecimento na cidade de alguns bens”, reclama o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Acre, Leandro Domingos.

O isolamento rodoviário, em Rondônia, não está vinculado à Ponta do Abunã. A questão prioritária lá não é abastecimento. É comercial. Sem a ponte, há menos comercialização com empresas acreanas. As exportaçõespela Transoceânica (que tentam se estruturar) ficam comprometidas.” A ponte sobre o rio Madeira, para nós, é fundamental”, revelou o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Rondônia, Raniery Coelho.


Acre e Amapá tiveram o pior desempenho na geração de empregos em microempresas
ITAAN ARRUDA

De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, vinculado ao Ministério do Trabalho e Emprego, cresceu a geração de empregos entre as microempresas em todos Estados do país. Acre e Amapá cresceram, mas registraram o pior desempenho. As microempresas do Amapá criaram 1,8 mil empregos e o Acre, 1.093. Estima-se que as micro e pequenas empresas respondam por 99,6% dos empreendimentos comerciais no Acre. Praticamente todas.


Novidades da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas foram anunciadas em Fórum realizado no Teatrão

A informação reforça a importância da aprovação unânime por parte do Congresso Nacional do aumento do teto de faturamento para os microempreendedores individuais, para as microempresas e para as empresas de pequeno porte (ver tabela). A mudança na Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas é uma prioridade para o Palácio do Planalto. Segue para o Senado e deve ser aprovado também sem mudanças. A sanção presidencial é questão de tempo. O projeto de aumento do teto de faturamento tem o aval da própria presidente Dilma Rousseff.

Os novos limites passarão a vigorar a partir de 2012, mas as empresas que excederem esse limite no faturamento de 2011 irão pagar adicional de 20% conforme a tabela do Simples especifica, mas não serão excluídas do sistema. O parcelamento dos débitos de tributos atrasados não excluem as empresas do Simples nacional. A saraivada de boas notícias foi anunciada durante a realização do 2º Fórum sobre Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas ocorrido no Teatro Plácido de Castro na última quarta-feira.

Prefeituras que regulamentaram a Lei Geral

Cruzeiro do Sul
Rodrigues Alves
Mâncio Lima
Porto Walter
Tarauacá
Manoel Urbano
Sena Madureira
Bujari
Porto Acre
Brasileia
Epitaciolândia
Assis Brasil
Rio Branco
Senador Guiomard

Faltam regulamentar
Plácido de Castro
Acrelândia
Xapuri
Capixaba
Feijó
Jordão
Santa Rosa
Marechal Thaumaturgo

Prefeituras não valorizam as pequenas empresas


A Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas foi aprovada no Congresso Nacional em 2006. Passados cinco anos, ainda faltam oito municípios para regulamentar a Lei Geral. Sem a regulamentação, não há como implantar as mudanças previstas em lei. O Gestor de Políticas Públicas do Sebrae/AC, Francisco Bezerra, é um técnico tarimbado no setor. Percorre cidade a cidade tentando convencer os prefeitos a valorizarem as mudanças que beneficiam os pequenos empreendedores. “É difícil convencer”, reconhece, ao se referir aos prefeitos do interior do Acre. “É praticamente um descaso”.


Francisco Bezerra, gestor de políticas públicas do Sebrae/AC, denuncia o descaso: “é difícil convencer…Os prefeitos não valorizam a Lei Geral”

As prefeituras que ainda não regulamentaram a Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas são Plácido de Castro, Acrelândia,Xapuri, Capixaba, Feijó, Jordão, Santa Rosa, Marechal Thaumaturgo.

Há quem entenda que em cidades muito isoladas como Santa Rosa, Jordão e Marechal Thaumaturgo ter ou não ter regulamentado a Lei Geral não traz consequências, tal é a dependência da cidade ao poder público. O fato é que sem o crivo das prefeituras, por menores que sejam as cidades, não há mecanismos de escape para as raras iniciativas privadas que possam surgir. Caso surjam, terão que arcar com uma pesada carga tributária. “O desafio maior é a implementação, a aplicação efetiva dos avanços que a Lei traz”, afirma o analista técnico do Sebrae nacional, Israel Alves Jorge de Souza.


Projeto de Lei pode incentivar adesão à ZPE
ITAAN ARRUDA

Projeto de Lei de autoria do senador Jorge Viana (PT/AC) de aumentar o limite da receita bruta com venda para o mercado interno de 20 para 40% pode ser um atrativo às empresas brasileiras que queiram se instalar na Zona de Processamento de Exportação (ZPE). A expectativa de técnicos do Governo do Acre é de que a alteração na lei que rege a ZPE seja apreciada pelas Comissões de Economia e Finanças e de Constituição e Justiçado Senado e nem vá a plenário.


Jorge Viana explica que PL ajuda a equilibrar “desequilíbrios regionais”; Edvaldo diz que proposta é “atrativa”

“A proposta tem tudo para ser avaliada como mais atrativa pela iniciativa privada”, afirmou o secretário de Estado de Desenvolvimento, Indústria, Comércio, Serviços, Ciência e Tecnologia, Edvaldo Magalhães.

A mudança é ideal para os empresários com pouca experiência em comércio exterior e oferece uma alternativa de comercialização interna quando a flutuação do câmbio não for interessante para exportações. Com um mercado interno aquecido, vender para o próprio Brasil é uma segurança que pode ser consolidada se o projeto de lei do senador acreano for aprovado.

“Para cumprir as funções de desequilíbrios regionais”, diz o senador Jorge Viana na justificativa da proposta da mudança legal, “é preciso levar em conta as peculiaridades de cada localidade”. De acordo com os argumentos do senador Viana, caso prevaleça uma única regra a regulamentar as Zonas de Processamento de Exportação em todo país, a concentração de investimentos vai continuar. Para Viana, o atual modelo “acaba por limitar a possibilidade de interesse de empresários em investir numa ZPE situada na faixa de fronteira da Região Norte”.


Meta do Governo do Acre é formalizar o alfandegamento da ZPE até o final deste mês de setembro

Conselho Nacional das ZPEs vem ao Acre no próximo dia 13

Integrantes do Conselho Nacional das Zonas de Processamento de Exportação vem ao Acre no próximo dia 13 de setembro. Eles fazem uma visita técnica ao espaço onde funcionará a ZPE e avaliam o cumprimento dos processos para concluir o alfandegamento. A meta do Governo do Acre é formalizar o alfandegamento no fim do mês de setembro. Caso isso ocorra, o Acre terá a primeira Zona de Processamento de Exportação alfandegada, entre as atuais 23 existentes no país.


Endividamento atinge 75% das famílias acreanas em agosto
MAÍRA MARTINELLO

O nível de endividamento das famílias acreanas ficou em 75,1% em agosto, segundo a Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), apurada pela Confederação Nacional do Comércio (CNC). O resultado representa um aumento de cinco pontos percentuais em relação a julho (70,1%), mas está estável na comparação aos meses anteriores do ano, que oscilaram entre 75% e 84% (este maior índice, registrado em janeiro). Apesar disso, o patamar ainda é mais de 10 pontos superior ao registrado no mesmo período de 2010 (64,4%) e também à média geral do país, em agosto deste ano, que foi de 62,5%.


Comerciantes sentem impacto do alto índice de endividamento: 21% das famílias não conseguirão quitar contas este mês

De acordo com a pesquisa, 24% das famílias do Estado fecharam o mês de agosto com contas ou dívidas em atraso. Em julho deste ano e agosto de 2010, o percentual foi de 28%. No entanto, destas somente 5% declararam que não teriam condições de quitar seus débitos, um percentual estável em relação aos 8% apurados em julho e uma queda considerável em relação aos 10% de agosto de 2010.

“A melhora na percepção em relação à capacidade de pagamento confirma uma deterioração em ritmo moderado, compatível com a desaceleração gradual da economia brasileira”, afirma a economista Marianne Hanson.

Para o economista-chefe da CNC, Carlos Thadeu de Freitas Gomes, “a primeira pesquisa feita após a crise mostra que os brasileiros estão mais propensos a pagar suas dívidas em dia, provavelmente com medo de que a crise aumente no futuro”.

Do total de inadimplentes do Estado, 21% afirmaram que não terão condições de pagar as dívidas neste mês de setembro. Mas 43,7% disseram que pagarão “em parte” e 29,4% quitarão todos os débitos nos próximos 30 dias.

Sobre o tempo de comprometimento com a dívida, 38,5% dos entrevistados com contas em atraso declararam que estarão endividados por mais de um ano. 26,5% terão dívidas ainda nos próximos três meses; 22% entre três e seis meses e 10,9%, entre seis meses a um ano.

24%
das famílias do Estado fecharam o mês de agosto com contas ou dívidas em atraso. Em julho, o percentual foi de 28%

Carnês e cartões de crédito lideram as dívidas
Os cartões de crédito e os carnês motivaram as dívidas para 49,1% dos consumidores acreanos. Em seguida, vieram os débitos com créditos consignados (14,1%), financiamento de carro (10,6%) e crédito pessoal (9,5%). O cheque especial foi apontado por somente 1,9%. 

38,5%
dos inadimplentes disseram que estão endividados por mais de um ano. 26,5% terão dívidas até os próximos três meses


FECOMERCIO/RO

Ponte sobre o Rio Madeira, para nós, é fundamental”, diz presidente

A reestruturação da polêmica BR-319 entre Manaus/Porto Velho valoriza ainda mais a região do Abunã. Por ali, aos poucos vai se consolidando o sistema de transportes intermodal com mercadorias, saindo dos portos de Belém e Manaus e chegando aos portos peruanos via Estrada do Pacífico. Mas, para que esse sistema funcione e mantenha aquecida também a economia de Porto Velho, gargalos como a ausência da ponte sobre o rio Madeira atrapalham o crescimento das empresas locais. “É inadmissível essa situação”, relata o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Rondônia, Raniery Coelho. E admite. “A ponte sobre o rio Madeira, para nós, é fundamental”.


Presidente da Fecomercio/RO, Raniery Coelho: “É inadmissível essa situação”
 

ENTREVISTA

Acre Economia- A ponte sobre o rio Madeira é importante para a iniciativa privada de Rondônia?
Raniery Coelho
– A ponte sobre o rio Madeira, para nós, é fundamental.

AE – Por que?
RC
– Os projetos de desenvolvimento em todo país sofrem com a falta de infraestrutura, que é uma obrigação do Estado. Uma região para se desenvolver deve ter os problemas de infraestrutura minimizados. Essa situação da ausência de uma ponte sobre o rio Madeira que dinamize a ligação rodoviária entre Acre e Rondônia é exemplar. É uma situação inadmissível. É demonstração de falha das políticas de Estado. É falha do Governo.

AE – Quais setores da economia de Rondônia são mais prejudicados?
RC – Agronegócio, sem dúvidas. Nossa economia está fundamentada nisso. Estimamos que o prejuízo que tivemos, no ano passado, pela ausência dessa ponte alcança 30 milhões de reais. Isso, sem contar os negócios que nem chegam a ser cogitados (ou são diminuídos) por causa desse gargalo na infraestrutura rodoviária.Outro ponto importante e de difícil contabilidade são os custos sociais, que são dramáticos.

AE- O que explica só agora haver uma articulação coesa (e com publicidade) sobre a necessidade da construção da ponte?
RC
– As articulações acontecem há muito tempo. Desde 1995, aqui em Rondônia, nós falávamos da necessidade dessa ponte sobre o Madeira. Desde o governo de Fernando Henrique Cardoso, com o plano Brasil 2025, essa obra já estava em pauta. Esse plano não foi dado sequência nem no governo Lula e muito menos no da presidente Dilma. O diferencial é que agora nós temos uma economia se fortalecendo por aqui. A economia, os preços dos produtos devem ser regulados pela dinâmica do mercado e não pela falta de infraestrutura: um produto que chega ao Acre não pode estar mais caro porque demorou a chegar lá por causa da ausência de uma ponte.

AE – Alega-se que o projeto tem problemas de superfaturamento identificados pelo TCU e deve ter adequações em função das obras das hidrelétricas…
RC
– Desconheço esses dois fatores.

AE – Na sua avaliação, qual o gargalo que a Política não está conseguindo resolver?
RC
– Não sei te dizer exatamente. O que não entendo é por que o BNDES investe dinheiro no Chile e não consegue construir uma ponte sobre o rio Madeira? Há investimentos no Chile, na Bolívia, no Peru, no Uruguai… e não se consegue construir uma ponte?! Difícil entender.[com o argumento de que “fortalecer a economia do Brasil é fortalecer a economia da América do Sul”, o então presidente Lula construiu uma agenda de investimentos do BNDES nos países do cone Sul.

AE – Essa semana, articulações políticas foram feitas em Brasília junto ao Ministério dos Transportes. O senhor acredita em uma solução a curto prazo?
RC
– [pausa] Eu, sinceramente, não sei o que acontece ali naquele Ministério dos Transportes. Há um esfacelamento do Ministério dos Transportes que ninguém sabe quem é que manda ali. Recentemente, fizemos dois encontros aqui na Fecomercio de Rondônia, reunindo nove instituições federais (incluindo o MPF e o 5º BEC que não compareceram). Não há coesão das ações. Eu não vejo solução a curto prazo para solucionar o problema.


ARTIGO

ZPEs, um desafio do Acre e do Brasil
Jorge Viana*

Viver em uma das regiões mais ricas e cobiçadas do Planeta não é tão simples assim. Refiro-me à Amazônia. E numa parte tão especial da região, como é o Acre, ainda é mais complexo. O Estado está localizado nas cabeceiras de rios e no ponto mais distante em relação à costa do Atlântico.

A ocupação dessa região foi uma verdadeira epopéia. Os negócios funcionavam baseados em viagens aos grandes centros, como o Rio de Janeiro, que levavam um ano e eram feitas de barco. Apesar de todas as dificuldades, o Acre foi ocupado e colaborou como maior produtor do terceiro principal item da nossa balança comercial: a borracha. Cem anos depois, o nosso desafio é fazer essa região tão especial se reinserir na economia brasileira e mundial. Se o surgimento do Acre e a das atividades econômicas do Estado se deu em função de duas árvores – produtoras de borracha e castanha -, um século depois podemos estabelecer uma nova economia baseada no uso sustentável dos recursos naturais.

Mas não se pode fazer isso sem a construção de uma logística que dê competitividade aos nossos produtos. Daí a prioridade para dois projetos: o da BR 364, integrando o Acre e abrindo a possibilidade de ligação com o Peru com a construção de uma ferrovia através de Pucalpa, e o da BR 317, que liga Boca do Acre, na foz do rio Acre com o Purus, um porto importante, com Assis Brasil, via Rio Branco e Senador Guiomard, e com a rodovia que chamamos Estrada do Pacífico.


Como fruto desse planejamento, o Acre tem hoje vantagens comparativas enormes.  Criamos uma nova geografia econômica, que oferece ao Estado a possibilidade de ser grande fornecedor para o enorme mercado brasileiro e também uma logística invejável via os portos do Peru, com a conclusão da estrada do Pacífico. Isso nos abre a possibilidade de estabelecer relações comerciais com a costa oeste dos Estados Unidos, parte de um dos mercados mais ricos do mundo, e com os mercados mais dinâmicos da Ásia, especialmente o da China.

O nosso projeto de desenvolvimento sustentável para o Acre está focado na melhoria de indicadores socioambientais, com prioridade na educação, saúde e serviços públicos de qualidade e na implantação de uma infraestrutura que nos permita tirar o máximo de proveito de nossas riquezas naturais, de forma sustentável.
Por isso, o projeto das Zonas de Processamento de Exportações (ZPEs) é estratégico para o que se pensou para o Acre. Nosso Estado tem vantagens comparativas em relação aos outros estados: tanto pode importar produtos vindos do Peru e de outras partes do mundo para abastecer a Amazônia brasileira como também é estratégico para as exportações brasileiras.

A ZPE é um dos instrumentos mais importantes para o Acre aproveitar essa nova geografia econômica. Esse modelo nasceu na Irlanda nos anos 60, ganhou força e se espalhou pelo mundo nas décadas de 80 e 90 e foi determinante para que vários países da Ásia pudessem crescer e se transformar em base de produção e exportação e dominar parte dos mercados do mundo.

Lamentavelmente, no Brasil, apesar da implantação da Zona Franca de Manaus, não instalamos nenhuma Área de Livre Comércio nem uma única das vinte e três ZPEs já criadas. O ex-governador Binho Marques estabeleceu a ZPE do Acre como uma das prioridades de seu governo e, com o envolvimento direto do então senador Tião Viana, minha colaboração e o apoio de várias lideranças, inclusive a Federação das Indústrias, o projeto ganhou corpo. A ação decisiva do então Secretário de Planejamento, Gilberto Siqueira, deu à nossa ZPE embasamento técnico sólido e a inseriu diretamente no projeto de desenvolvimento sustentável que estamos implantando no Acre. Mais importante ainda foi a decisão do ex-presidente Lula de bancar o projeto. Por conhecer bem nossa região e a seriedade dos nossos esforços, ele, no ano passado, assinou a lei de criação de nossa ZPE, transformando-se em padrinho da iniciativa.

O desafio, agora, não é só do Acre, mas do Brasil, de implantar as ZPEs. A nossa está sendo implantada graças à determinação do governador Tião Viana e também à atuação marcante do Secretário de Indústria e Comércio, Edvaldo Magalhães. O próximo passo é identificar e implementar empresas que possam aproveitar bem essa logística, que é nossa vantagem comparativa. É uma tarefa enorme, mas essencial para que o Acre possa ter uma base sólida de geração de empregos e, ao mesmo tempo, seja a base de empresas com produção centrada em tecnologia e alto valor agregado.

Como parte dessa proposta geral, apresentei, há poucos dias, projeto de lei que cria vantagens para ZPEs na Amazônia, nas áreas de fronteira. Hoje, a lei em vigor exige que as empresas instaladas em ZPEs exportem, no mínimo, 80% de sua produção. Só que o Brasil, graças a ação do ex-presidente Lula e da presidente Dilma, transformou-se em um dos mais cobiçados mercados consumidores do mundo, justificando minha proposta de redução da exigência de exportação para 60%, no caso de ZPEs em áreas fronteiriças da Amazônia. Entendo que isso ajudaria a atrair empresas para nossas ZPEs e criaria um diferencial produtivo no mercado interno. Minha intenção, com essa proposta, é também ajudar o governador Tião Viana a completar a última etapa do projeto de desenvolvimento sustentável do Acre, que é a parte de consolidação comercial e industrial do Estado.

Vale ressaltar que a modelagem da indústria e comércio é muito apropriada para reduzir a pressão sobre nossas florestas e recursos naturais. É possível ter uma ZPE já dentro do espírito de uma economia de baixo carbono e adequada ao século XXI. Esse mecanismo é mais uma arma na nossa luta para que os indicadores sociais, ambientais e econômicos do Acre transformem esta terra promissora em referência em qualidade de vida na Amazônia e no Brasil e em um dos endereços da sustentabilidade no mundo.

* Jorge Viana, ex-prefeito, ex-governador e senador pelo PT do Acre 


 

NOTAS ECONÔMICAS

Mais atrativa
A proposta do senador Jorge Viana (PT/AC) de aumentar de 20 para 40% o percentual de comercialização interna para as empresas que se instalarem na Zona de Processamento de Exportação pode atrair mais empresas. A antiga proporção de 20% para comercialização no Brasil e 80% para o mercado externo não é de todo ruim, mas está adequada às grandes empresas já acostumadas ao concorrido e burocrático comércio exterior.

Mais atrativa II
A lei 11.508, assinada pela presidente Lula, trata do regime de tributação cambial e administrativo da ZPE e já sofreu diversas alterações. Com a modificação proposta pelo senador acreano, por meio de um Decreto de Lei, deve passar pela sanção da presidente Dilma Rousseff.

Características regionais
Manter a relação de 20 para 80% está adequado às regiões Centro-oeste e Nordeste, com atuação de grandes empresas e conglomerados industriais. A alteração na lei proposta pelo senador do Acre tenta adequar os benefícios previstos na Zona de Processamento de Exportação à realidade das empresas locais. É um estímulo a mais para os poucos empresários da região com espírito empreendedor.

Machadiano
O sorriso do senador Jorge Viana (PT/AC) saiu ao estilo machadiano (dentes trincando e lábios espremidos) com o aparte do presidente do Senado, José Sarney (PMDB/AP) “se solidarizando” com a proposta do petista de mudança na lei que rege a ZPE. Como na arena política a luta nunca para, a solidariedade foi recebida com a cordialidade que o decoro exige. Mas, no fundo, no fundo, quase se lia na testa do parlamentar acreano: “Então, tá”.

Celebrar
Há um erro de concepção nas festas temáticas regionais (pirarucu, em Manoel Urbano; mandi, em Sena Madureira; castanha, em Brasiléia; açaí, em Feijó). Nenhum município do Acre (nenhum!) pode se dar ao luxo de gastar R$ 800 mil com despesas em apresentações artísticas. Isso é de uma irresponsabilidade que, normalmente, está a cargo das prefeituras. As festas são, antes, uma celebração que relaciona a cultura regional com tradicionais atividades produtivas locais.

Coroamento
Outro erro de concepção evidenciado nas festas desse ano apontam as festas com fim em si mesmas. Elas servem para finalizar um ciclo. Antes da festa, tem muito trabalho, muito planejamento, muita discussão. Só falta, agora, o bolo da festa do abacaxi em Tarauacá ser enfeitado com a fruta enlatada em São Paulo.

Economia Solidária
Vai até quarta-feira, dia 7 de setembro, a 8ª edição da Feira Municipal de Economia Solidária. O evento ocorre na praça do Novo Mercado Velho, sempre a partir das 4 da tarde. Com 16 empreendimentos a menos que o encontro do ano passado, os organizadores vão ter que se esforçar para superar os R$ 203 mil contabilizados em 2010.

Constrangimento
Constrangedora é a situação da classe empresarial de Rondônia e do Acre. Porto Velho sedia um encontro da Câmara de Comércio Exterior agora em setembro com um problema tão elementar de infraestrutura como a falta de uma balsa sobre o rio Madeira.

Errata
O suplemento Acre Economia cometeu um erro de informação na edição do último domingo. De forma equivocada, noticiamos que o site de compras coletivas regatao.com foi o primeiro a ser criado no Estado. Não é verdade. De fato, desde novembro do ano passado já está no ar o site www.megaown.com.br. O diretor de relacionamento do site, Leandro Brito, reclamou a autoria do pioneirismo. Com razão. Feita a correção, acompanhado do pedido de desculpas aos leitores e aos empreendedores.

 

 

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