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Polícia retira famílias de terreno no Belo Jardim

Beco da Solidão. Bairro Belo Jardim, periferia de Rio Branco. A rotina da comunidade foi quebrada no início da quente manhã de ontem pela presença de duas oficiais de Justiça, acompanhadas de alguns poucos policiais. O objetivo era garantir o cumprimento do mandado de reintegração de posse assinado pela juíza de Direito, Ivete Tabalipa, da 2ª Vara Cível da Comarca de Rio Branco. A presença da imprensa não foi compreendida e houve um princípio de desentendimento entre os integrantes da Justiça e os jornalistas. Chama-se reforço policial, um grupo maior do que os três sugeridos no mandado.

Acalmados os ânimos, iniciaram o cumprimento da ordem judicial. Retiradas dos móveis, recolhimento das roupas, fogão, colchão. A presença dos policiais é seguida do choro das crianças. À medida que as paredes de madeira caiam e eram retiradas, a revolta entre os moradores aumentava. A casa de Jackeline Cristina da Silva recebeu a visita de um grupo de assistentes sociais do Governo do Estado. Teve a garantia de que a casa dela não seria incluída no mandado de reintegração de posse. Por esse motivo, permitiu que uma família que seria atingida pela ação judicial morasse em sua casa. Jackeline foi mal informada. A casa dela estava na área a ser reintegrada. A amiga, Crislane Gomes da Silva, 21 anos e grávida do terceiro filho, também teve os poucos móveis colocados no meio do Beco da Solidão.

Foi nesse momento que entrou em cena uma nova dupla de Oficiais de Justiça. Demonstrando mais experiência que os colegas que iniciaram o trabalho, os ânimos entre os moradores ficaram mais exaltados. Aos colegas, a oficial Adriana Luckese não escondia a essência no trato durante o cumprimento da ordem judicial. Falava em tom alto de maneira que todos os que estavam próximos pudessem ouvir. “Eu não tenho emoção e nem pena”, orgulhava-se. “A senhora está desacatando a autoridade e, se continuar assim, eu vou lhe dá voz de prisão”. A ameaça foi dirigida a Crislane Gomes que, nesse momento, já estava com praticamente todos os móveis na rua.

A ordem da juíza de Direito Ivete Tabalipa não foi cumprida em um aspecto apenas. Na última página da ordem judicial está explícita a orientação. “Determino assim, a expedição do competente mandado de reintegração de posse, que deverá ser cumprido com ponderação e calma pelo Sr. oficial de Justiça, podendo, se necessário, requisitar o auxílio de força policial”.

“Eu gostei foi da reintegração de posse do Calafate: em 2 horas todos estavam na beira da estrada”, lembra, orgulhosa, a oficial de Justiça, Adriana Luckese.

O problema – O drama da reintegração de posse do bairro Belo Jardim começou em junho deste ano quando Dilma Maria do Nascimento, proprietária da área, procurou a Justiça para ter a área de volta. Nascimento alega que precisa da área para fazer uma horta e ajudar no orçamento familiar. A área é pequena. Pouco menos de 2 hectares. Três casas (2 de madeira e 1 de alvenaria) foram erguidas em 3 meses. Tentou-se uma negociação entre os moradores. Não houve acordo. Por isso, buscou-se a Justiça.

 

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