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“Política sem idealismo”

Mahatma Gandhi (1869-l948) líder, pacifista e pensador indiano dizia que os sete pecados capitais responsáveis  pelas injustiças sociais são: riqueza sem trabalho; prazeres sem escrúpulos; conhecimento sem sabedoria; comércio sem moral; religião sem sacrifício; ciência sem humanismo e; POLÍTICA SEM IDEALISMO.”

A política partidária brasileira é o protótipo da política sem idealismo em cuja entranhas ou bastidores, os padrões éticos representados na virtude da sabedoria, da coragem, da moderação e da justiça, não estão presentes. À primeira vista, pode parecer leviana essa afirmação, contudo basta uma simples olhadela nos noticiários da mídia geral ou fazer um exercício de memória a partir dos últimos acontecimentos, da última década, envolvendo ações políticas por grande parte de quem vive no “meio”, para constatar a veracidade dessa premissa. A política em vigência está na contramão da ética, sim. Parece que a classe política (ou seria categoria?) reza pelo mesmo manual de tirania que ensina a fazer tudo o que for necessário, independentemente de valores morais, para alcançar e conservar o poder, concebido como um fim em si mesmo. Aliás, essa premissa de alcançar e conservar o poder a qualquer preço, é o que mais me entristece, na condição de cidadão comum, no atual momento político brasileiro. 

Política sem idealismo, em sentido comum, é aquela sem engaja-mento e dedicação a uma causa nobre. Assim, nos dias atuais, neste ou em qualquer outro governo do passado,  vislumbrar uma política em-basada em ideais é uma verdadeira utopia, para não dizer de elevado conceito abstrato, isto é:  impossível à luz da experiência humana, porquanto política e ética,  que deve-riam andar lado a lado, estão  trilhando caminhos ambíguos, não tem nada a ver uma com a outra. Utopismo, na sua significação mais usual, refere-se à indiferênça quanto a possibilidade de suas propostas que caracteriza os idealizadores de utopias ou sociedades ideais.

Hoje, nos quatro cantos da nação, em qualquer  abordagem simplória sobre política se constata  o preconceito generalizado em relação à atividade política e os políticos. A maio-ria assevera que essa atividade é vista como prática pouco favorável a condutas regidas por princípios éticos, reforçando aquela concepção equivocada dos intérpretes de Nicolau Maquiavel de que ele teria situado para sempre a ética e política em domínios diferentes, até mesmo antagônico. Assim, mesmo que uma leitura mais detida de O Príncipe nos mostre a distinção entre uma moral pública e uma moral privada, não se pode refutar, diante de tantos escândalos, a idéia geral de que a ética e os valores morais se fazem ausentes na maioria das ações políticas institucionais.

Por outro lado, é notório e público a ausência, não só de idealismo, mas também de ideologia nos partidos políticos que estão à frente do poder instituido. É uma verdadeira miscelânea “ideológicas” revelando um caráter no mínimo vergonhoso, porquanto o que tem a ver em termos ideológicos, por exemplo, o DEM com o PT.

Pior, que tem! Pelo menos na ótica  da ética situacional da Executiva Nacional do PT, que decidiu aprovar e autorizar, em eleições passadas, parcerias dos petistas com o DEM para disputa à Prefeitura de Volta Redonda (RJ). Em Campinas, não faz muito tempo, o PT apoiou a candidatura à reeleição do prefeito do PDT, com o aval do DEM. Do mesmo modo, em Manaus, apesar dos apelos do PSB, o PT aprovou coligação com o PPS, partido que a exemplo do DEM fez ferrenha oposição ao governo Lula. Dá para entender, leitor, os homens do poder partidário? Cadê a ideologia partidária? Por exemplo: alguém sabe onde se escondeu a esquerda brasileira? Ainda está viva?  Se bem que a ideologia, hoje, dos partidos políticos, é a ideologia do status quo econômico financeiro, cuja principal bandeira é, como diziam os antigos, o poder de barganha.

Tal incoerência e amálgama partidário nos faz lembrar uma máxima folclórica, que em nível de política foi ressuscitada, em dias pretéritos, pelo falecido senador Jéferson Peres, político dos mais honrados, que certa vez, ao participar de uma CPI, dentre tantas, vividas por ele no Congresso Nacional, diante das tremendas “enroladas” dos envolvidos, saiu-se com essa: Isso aqui está parecendo “samba do crioulo doido”.

Do atual momento político brasileiro se destaca a  postura im-poluta e austera da senhora presidente Dilma Rousseff, no trato imediato dos problemas de impro-bidades em alguns ministérios. Austeridade que nos faz lembrar Tancredo Neves e, nos enche de esperança de que estamos à caminho duma ampla discussão e aprofun-damento teórico sobre a política no cenário  nacional e estadual, para possibilitar uma prática política mais eficiente e eficaz, que venha realmente de encontro com o verdadeiro sentido da política ou do político que é zelar, cuidar bem do patrimônio público, tendo em vista a justiça social e o bem comum de todos os cidadãos. Já que, o governante justo faz a cidade justa, diria Platão.

* Francisco Assis dos santos é pesquisador Bibliográfico em Humanidades.
E-mail: assisprof@yahoo.com.br“>assisprof@yahoo.com.br

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