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A pessoa é aquilo que fala

A grande dificuldade das pes-soas, hoje, reside no escrever de forma correta. No processo da comunicação oral há muita liberdade, mais do que no processo da escrita, que deve ser cuidadoso. Muita gente boa se perde na hora de escrever, porque a escrita é diferente da fala. Não se reproduz, na escrita, a fala tal qual acontece. O texto escrito é mais bem elaborado, melhor trabalhado, bem cuidado. É uma linguagem refletida, pensada, que deverá reproduzir os cânones gramaticais.

Diz o gramático Evanildo Bechara (1991, p. 15) “todas as variedades lingüísticas são eficazes na comunicação verbal e possuem valor nas comunidades em que são faladas”. Por isso, talvez, os sociolinguistas digam não existir um jeito certo ou errado de falar, nem um dialeto superior a outro.  Todavia, quando se fala da língua padrão, fala-se da norma culta, eleita entre as várias formas como aquela de bem falar a língua pátria. É esse padrão culto da língua portuguesa que é ensinado nas escolas, cobrado nos concursos públicos, no ENEM, no Vestibular etc. É essa forma linguística que permite à ascensão social das pessoas. Quem fala bem, por certo escreve bem e, com isso, consegue melhor posição na vida do trabalho e na vida social.

E como a língua é considerada reflexo da cultura e determinante de formas de pensamento, o código lingüístico não apenas reflete a estrutura de relações sociais, mas também a regula. O ser humano aprende a ver o mundo pelos discursos que assimila e, na maior parte das vezes, reproduz esses discursos em sua fala. Se a consciência é constituída a partir dos discursos assimilados por cada membro de um grupo social e se a pessoa humana é limitada por relações sociais, não há uma individualidade de espírito nem uma individualidade discursiva absoluta.

A organização que os interlo-cutores associam a um determinado discurso é um reflexo da forma pela qual o conteúdo é visto como coeso pelo ouvinte, ficando, assim, armazenado em sua mente. Outros fatores que contribuem para a representação mental que os ouvintes têm do discurso são os conhecimentos prévios de como as coisas acontecem no mundo real, juntamente, com as suas expectativas sobre o que o falante pretende dizer. As representações mentais não ficam limitadas apenas à compreensão do discurso, mas são instrumentos mais gerais e fundamentais à cognição humana.

Discurso, aqui, é o modo de “criar representações comparáveis àquelas que derivamos da nossa percepção direta do mundo” (JOHNSON- LAIRD, 1983, p. 397). O enunciador é o suporte dessas relações, vale dizer, de discursos que constituem a matéria-prima com que se elabora a fala. O dizer de cada pessoa é a reprodução inconsciente do dizer de seu grupo social. Não é livre para dizer, mas coagido, dessa forma, a dizer o que seu grupo diz. “O discurso é, pois, o lugar das coerções sociais” (FIORIN, 1988, p. 42). O indivíduo não pensa e não fala o que quer, mas o que a realidade impõe que ele fale. Assim a posição do falante no mercado lingüístico só modifica quando o seu discurso lhe conferir autoridade, poder e dominação.

A pessoa não é livre para dizer o que quer, mas é levada, sem que tenha consciência disso, a ocupar seu lugar em determinada formação social e enunciar o que lhe é possível a partir do lugar que ocupa. A sua fala revela mais do que o pensamento,  traduz, também, o seu nível cultural, a sua posição social, a sua capacidade de adaptação a certas situações, sua timidez, enfim, a sua forma de ser e ver o mundo. Dessa forma, falar mesmo, dizer o mundo, de nossas vidas, dos desejos e prazeres, dizer coisas para transformar, dizer do nosso sofrimento e lutas para fazer, mudar e vencer, é tarefa, ou melhor, é pré-requisito para uma sociedade mais justa e igualitária.

DICAS DE GRAMÁTICA SENÃO ou SE NÃO?

1. SENÃO – empregamos em quatro situações:
* do contrário
Ex.: Resolva isso agora, senão estamos perdidos.

* porém, mas sim
Ex.: Não era caso de expulsão, senão de repreensão.
* somente, apenas
Ex.: Não se viam senão os pássaros.

* defeito, falha
Ex.: Não houve um senão em sua apresentação.

2. SE NÃO – se + não (dá idéia de condição, hipótese)
Ex.: Se não chover, haverá jogo. (= caso não chova)

Luísa Galvão Lessa – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montreal, Canadá. Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Pesquisadora Sênio da CAPES.(colunaletras@yahoo.com.br“>colunaletras@yahoo.com.br)

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