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À custa de quem?

maira2Mal cheguei de viagem e fui surpreendida por uma notícia envolvendo o secretário estadual de Floresta, João Paulo Mastrangelo, em um conflito na Floresta do Antimary, onde, durante uma discussão, ele teria agredido fisicamente um policial. Recebi, primeiro, a nota do governo em solidariedade ao secretário, e fiquei me perguntando o que teriam feito ao João Paulo para ele ter se envolvido em uma confusão como aquela…

Digo isso porque o conheço desde criança. A irmã dele, Marcela, é minha melhor amiga desde o primário. E, claro, a minha visão sobre ele e sobre a família dele é totalmente parcial. Acompanhei de muito perto a rigorosa formação moral e intelectual que esses amigos receberam. Talvez, por isso, num primeiro momento, eu tenha ficado tão perplexa ao ver o nome do João Paulo enredado numa polêmica apimentada com atos de violência. Nada disso combinava com a imagem que eu sempre tive do irmão mais novo da minha melhor amiga. E não combina mesmo com a pessoa que ele é. Basta conhecê-lo minimamente para reconhecer isso.

Após me informarmelhor sobreo episódio e sobre os motivos que o levaram a sair do seu equilíbrio, compreendi, de imediato, o que, de fato, ocorreu. Mais uma vez, nutri pela família Mastrangelo, na figura do João Paulo, a empatia e a compaixão que nos ligaram durante toda a vida. Mas não vou defender que o João Paulo estava certo em partir para briga com quem quer que seja… Também não estou aqui para justificá-lo, até porque ele nem precisa disso. Pela boa criação que teve,sem dúvida, ele foi o primeiro a se sentir envergonhado e arrependido pelo que aconteceu. E, certamente, o tempo irá mostrar que existe muito mais caroço naquele angu do que o que baixa política e o mau jornalismo quiseram fazer acreditar.

Recentemente, meu pai também foi alvo de ofensas gratuitas e cruéis e julgamentos injustos, após a veiculação de uma notícia boba, porém equivocada e maldosa, envolvendo o seu nome. Considero-me uma pessoa ponderada e pacífica, mas, juro por Deus, não sei qual teria sido minha reação, naquele dia, se eu encontrasse qualquer um dos responsáveis por aquelas agressões.

Essas e outras situações que tenho visto e vivido, nos últimos tempos, têm me feito refletir muito sobre os rumos que as relações humanas vêm tomando, sobre a crise ética vivida pela nossa sociedade.
Já perdi muito da minha ingenuidade. Também estou longe de ser santa (graças a Deus!). Mas ainda me lamento ao imaginar que vamos descambar de vez nessa grotesca “Era do Vale Tudo”.

Vale tudo para atingir o alvo, vale tudo para subir na vida, vale tudo para ganhar visibilidade. À custa de que? À custa de quem? Infelizmente, à custa de qualquer um… Vale ferir a honra de gente viva e de gente morta… Vale passar por cima de pais, irmãos, amigos ou inimigos, na busca incessante de se fazer notado ou de parecer “alguém”.

E o mais impressionante é que as pessoas parecem se regozijar com isso. Porque o que dá “ibope” é mesmo a picuinha, os insultos, as críticas sem embasamento, a chacota, a maledicência… É o sádico alimentando a doença do egocêntrico. E vice-versa.

Pergunto-me se há caminho de volta para esse canibalismo moral que presenciamos diariamente. E, no auge do meu pessimismo existencial, a única resposta que encontro é a clássica: “salve-se quem puder!”.

Maíra Martinello é jornalista.
mairamartinello@gmail.com

 

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