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Cuida que o filho é teu!

maira2Minha empregada, a Nazaré, me contava, outro dia, sobre a reunião de pais, na escola onde estuda a filha dela. “Aquilo ali é um depósito de meninos”, descreveu. “Mas o pior é que não é culpa da escola, não. A maioria dos pais é que não está nem aí para o que os seus filhos estão fazendo ali”, disse-me ela.

“Arretada” que é, ela detalhou as reclamações dos professores sobre as reações muitas vezes agressivas daqueles pré-adolescentes: as brigas, os xingamentos, o desrespeito para com os mestres e os colegas, a falta de limites e até mesmo os hábitos de higiene precários.  E, ao final, desabafava sobre as preocupações em relação à criação da filha de 11 anos.

Como milhões de brasileiras, a Nazaré é uma batalhadora. Cria a menina sozinha, sem ajuda do pai ou dos parentes. Passa praticamente o dia todo fora e se desdobra para se manter uma mãe presente. Não é fácil… Se não é para mim, que tive e tenho infinitas oportunidades a mais, imagino, então, para ela.

Educar um ser humano é, sem dúvida, a tarefa mais difícil e desafiadora que alguém pode ter na vida. É a que demanda mais responsabilidade, sabedoria, amor, dedicação e, muitas vezes, mais sorte também. Porque, por mais que se faça, muitos são os fatores externos que podem interferir no “resultado final”.

Concordo que é difícil definir e, mais ainda, seguir receitas pré-estabelecidas. Aliás, detesto as hipocri-sias da maioria das convenções sociais. “Pode isso, não pode aquilo”… Falta-me paciência e sobra-me senso crítico para esse tal de “olha o que as pessoas vão falar”. Entretanto, se existe uma “regra” que acho válida é a da presença, do acompanhamento e, sim, também da cobrança. E isso significa muito mais do que estar perto fisicamente. Também não é algo que pode ser construído do dia para noite. Exige uma relação contínua de tempo, de familiaridade (no sentido mais amplo da palavra) e de confiança.

Não é raro ouvirmos histórias de pais que sabem quase nada sobre a vida dos seus filhos. Não conhecem seus amigos, não sabem para aonde vão ou para aonde deixam de ir. Não sabem o que fazem na escola; nas noites à frente do computador… Não sabem quem são os seus filhos. E o resultado está aí: nas escolas como “depósitos de meninos”, e na vida como depósito de gente ruim.
Tudo isso pode parecer meio clichê. Estou aqui, agora, até me perguntando que bagagem tenho eu para estar discutindo sobre educação de filhos?! De fato, tenho pouca. Mas, acho que como toda mãe que ama imensuravelmente seu filho, tenho em mim a inquietação constante para desempenhar bem o meu papel. Para fazer o que for necessário para criar uma pessoa de bem.

Recebi, outro dia, um bom artigo que falava bem sobre o assunto. O texto, intitulado “Pais maus, filhos bons” era creditado a um psiquiatra chamado Carlos Hecktheuer. Um dos trechos dizia assim: “Um dia, quando meus filhos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e mães, eu hei de dizer-lhes: amei-vos o suficiente para ter perguntado aonde vão, com quem vão e a que horas regressarão… Amei-vos o suficiente para vos deixar assumir as responsabilidades das vossas ações, mesmo quando as penalidades eram tão duras que me partiram o coração. Mais do que tudo, eu amei-vos o suficiente para dizer NÃO, mesmo quando eu sabia que poderiam me odiar por isso”.
Que sejamos, então, pais maus (e não maus pais).

* Maíra Martinello é jornalista.
mairamartinello@gmail.com

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