Ícone do site Jornal A Gazeta do Acre

O JOIO E O TRIGO?

col3Nossa sociedade costuma dividir as pessoas em grupos e rotula esses grupos de forma que um seja considerado certo e o outro errado.

O direito à liberdade de pensamento está intimamente ligado ao direito à vida pois, do contrário, seríamos todos robôs. Então, por que temos a mania de rotular as pessoas com adjetivos boa/ruim, certa/errada, inteligente/não inteligente, competente/incompetente, honesta/desonesta conforme o grupo a que imaginamos que pertençam?

Costumamos julgar nossos semelhantes e, para justificar, por comodidade, indicamos como responsáveis por essa separação joio/trigo diretores de escola, prefeitos, governantes. Será que essas pessoas têm tanto poder para conseguir entrar em nossas mentes, dizer-nos quem está certo e quem está errado, quem devemos confiar e qual a versão é a verdadeira?

Cada pessoa tem seu modo de pensar, qualidades, defeitos e, imaginando um universo de 100 pessoas, dividindo-as em dois grupos, utilizando-se o critério da religião, por exemplo, certamente o grupo que segue a uma religião se sentirá mais próximo de Deus, pela fé e doutrina que vive e poderá, até inconscientemente, imaginar que o outro grupo enfrentará mais dificuldades na vida,  imaginar que talvez não alcance o céu, pela ausência dessa fé.

O segundo grupo pode até nem ter a noção do quanto a religião (denominação religiosa) poderia influenciar sua vida e nem saber o que o primeiro grupo pensa dele. Porém, em atitudes, em dignidade, vontade de viver, crescer,  de ajudar os outros pode ser idêntico ao outro grupo, ter propósitos também verdadeiros, e principalmente, também acreditar em Deus.

Os indivíduos nascem, tornam-se crianças, adolescentes, adultos e velhos. Estudam, apostam numa profissão, lutam pela família, pela continuidade da espécie, pelo pão de cada dia, e cada um tem o seu pensar no que tange à política, religião, diversão, entre outros. Somos todos iguais nisso, nos anseios.

Já presenciei pessoas discutindo sobre partidos políticos, onde cada uma se dizia dona da verdade e menosprezava a posição da outra – quase se agarraram . Quando se faz isso, esquece-se que as pessoas são livres para pensar e não podemos obrigá-las a pensar como queremos.

Nesse momento de divergências, ambas esquecem as qualidades profissionais e humanas  da outra. A taxação “de esquerda”, “de direita” surge como verdade exclusiva e apocalíptica. 

E isso acontece nas comunidades, bairros, escolas, universidades, trabalho, mídia… Pes-soas que antes se conheciam passam umas pelas outras e “viram” a cara para o outro lado. Encontram-se em praças, restaurantes, na porta da escola onde os filhos estudam e fazem um grande esforço para fazerem de conta que não viram ou, do contrário, fazem questão de mostrar o desprezo que sentem. Os filhos dessas pessoas são influenciados por essa realidade e, muitas vezes, acabam seguindo o caminho, o exemplo de seus pais e também passam a ignorar crianças e adolescentes pelo simples motivo destes menores serem filhos de “alguém” que os pais não gostariam que tivessem relações de amizade. E essa realidade parece que contamina pois os amigos dos amigos, por solidariedade, acabam agindo da mesma forma. E assim vão-se formando os grupos.  

Bom seria se todos entendêssemos que podemos e devemos votar em quem nossa consciência indica, respeitar esse direito nos outros e, passada a fase eleitoral, todos pudéssemos crescer juntos.

Para um bairro, vila,  município, estado, país crescerem  é necessário contar com a capacidade de trabalho, criatividade, competência de todos, pois do contrário teríamos diversos países dentro de um só, com lutas internas que impediriam a nação de se desenvolver.

O mais engraçado é que esse pensamento de rivalidade pode ser invertido anos depois, quando vemos aqueles que discutiam no passado fazendo parte do outro grupo e fazendo de tudo para não serem reconhecidos no que foram. Tudo bem que mudaram de idéia, mas será que é justo querer esconder um passado? Com isso se esconde nossa própria humanidade, nossa liberdade de pensamento.

Talvez seja difícil para o homem, quando está no poder, este visto como posição de liderança em qualquer setor, esquecer o subjetivismo e tratar as coisas com mais racionalidade. Se vai necessitar de um corpo técnico para a realização de determinado trabalho, os critérios competência, determinação, honestidade deveriam  ser considerados e a lealdade que tanto se exige deveria ser vista e entendida como lealdade à administração pública, à empresa… e não lealdade a pessoas. Este tipo de leal-dade lembra os termos “favores”, “acordos”, “benesses” . Pressupõe obediência em tudo, no certo e no errado.

Em empresas privadas acredito ser mais fácil a utilização dos critérios acima citados pois vislumbram o crescimento, o desenvolvimento, a melhora na prestação dos serviços/atendimento, aumento dos lucros; acreditam numa perspectiva para o futuro, pensam na empresa no hoje e num futuro bem distante.

Os pontos aqui levantados não pretendem ser verdades aceitas por todos. Limito-me a fazer-nos refletir sobre nós mesmos.

Como nos deixamos influenciar por “achismos”, pelo que meu amigo diz pensar do outro, quando então esse outro passa a ser amado ou antipatizado por nós. Isso nada mais é do que a não autonomia de pensamento, a não ética, a ausência de valores morais básicos.

* Wânia Lília Maia Viana, é formada em Letras, Direito e Sociologia, todos pela Ufac Pós Graduada em Segurança Pública.  MBA em Gestão Pública com Ênfase em Controle Externo.
Delegada de Polícia Civil.

Texto já publicado em  jornais locais, há anos atrás.
(penso que sempre é atual e se faz necessária a lembrança constante, para não esquecermos)

 

 

Sair da versão mobile