Ícone do site Jornal A Gazeta do Acre

Importação de hortaliças aponta nova tendência do mercado regional

A chegada de hortaliças vindas do Peru, importadas pela maior rede de supermercados do Acre, aponta para o início de um redesenho nas relações econômicas regionais. Mas, a estrutura dos serviços públicos, atualmente, tem que mudar muito para oferecer a agilidade que o comércio entre países exige. Foram apenas 25 toneladas de cebolas que, segundo os importadores, ficaram seis dias aguardando o desembaraço na alfândega em Assis Brasil e em Epitaciolândia. É muito tempo.
Tomates1
As cebolas importadas vieram da região de Arequipa. Normalmente, de lá até Rio Branco, leva-se três dias. O tempo parado foi o dobro. Compreende-se a adequação que todos estão sujeitos com esse novo momento na geografia econômica regional, mas há algumas situações que independem da infra-estrutura de trabalho. Um dos técnicos que acompanhou a chegada da carga informou algo inusitado. “Houve dificuldade até para fazer cálculo de impostos”, relatou.

Como o volume de importação acreano é muito baixo, nem a Receita Federal, nem a Secretaria de Estado de Fazenda e nem tampouco a Suframa têm equipes específicas para atender às empresas que se interessam em importar. O Governo do Acre trabalha com a idéia de que existe uma tendência de mudança nessa situação. A concepção oficial assegura que o volume de comercialização na fronteira vai aumentar, com instalação de empresas importadoras e exportadoras de um lado e outro da fronteira.

Mas, agilidade é uma exigência que a iniciativa privada ainda não pode fazer ao poder público. As primeiras importações são importantes para constatar que, do jeito que está, o mínimo aumento na demanda pode tornar menos competitivo o comércio de importação. No mais, as empresas vão servindo de termômetro para os problemas serem ajustados.

Os hortifrutigranjeiros têm preços referenciados no dólar do dia. Se uma carga fica seis dias parada esperando ser desbaratada, o que era “um bom preço” no começo da viagem pode chegar aqui sem competitividade nenhuma em comparação aos similares do Mato Grosso e São Paulo.

“Nós fizemos uma expe-riência”, diferenciou o gerente de Marketing do Supermercado Araújo, Rodrigo Pires, um dos negociadores da importação. O gerente afirma que ainda não há números precisos sobre a redução no preço de venda. Mas, a diminuição de 15% no preço do frete já oferece uma referência importante para o consumidor do Acre. A gerência do Araújo não descarta a importação de outros produtos, mas não quis adiantar quais poderiam ser.

O que chama atenção nas cebolas peruanas é o padrão do produto: as unidades têm praticamente o mesmo volume e peso. Uniformidade que não se encontra nos similares nacionais.

Tomates2
Senador Jorge Viana, ainda quando era governador, liderou comitiva de empresários e políticos acreanos ao Peru para firmar parcerias

Importação é demanda que mistura economia e política
A aproximação institucional com o Peru começou a tomar a atual forma ainda na gestão do ex-governador Jorge Viana. O governador acreano, no início do governo, construiu a parceria com o presidente brasileiro, Fernando Henrique, e com o presidente peruano Alejandro Toledo. A relação foi mais fortalecida na gestão do ex-presidente Lula, que defendia o discurso esquerdista de “fortalecimento do comércio na América Latina”.

Jorge Viana aproximou relações diplomáticas com Lima. Fez viagens com parlamentares e empresários. A retórica, como é comum nesses casos, tinha o mote referenciado nos fatores culturais. Mas, a lógica dessa aproximação era, de fato, comercial. Nenhum problema. Hoje, importa-se a colheita dos frutos dessa aproximação.

O ex-governador Binho Marques não teve uma agenda muito focada para a consolidação na relação com os Andes. Não teve sorte, é bem verdade. Com o populista Alan Garcia no poder, Lima voltou-se para o Pacífico e esqueceu (ou, no mínimo, desprezou) o vizinho Acre.

A chegada de OllantaHumala ao poder (representante da esquerda peruana), novamente reacende as possibilidades de retomada de relações diplomáticas e comerciais com mais eficácia. Aliás, essa é uma faceta que a atual gestão do governador Tião Viana, no plano político, ainda não disse efetivamente a que veio. Não que lhe falte perspicácia sobre o tema. Quando senador, Tião Viana foi um dos principais articuladores para que houvesse o passe livre entre os povos do Peru e do Acre. O problema é outro.

A equação que já se mostrou eficiente com Jorge Viana é a seguinte: primeiro atravessam a política e a diplomacia; depois se constroem pontes por onde passarão caminhões e empresários. Essa equação, na prática, ainda não foi lida pelo gabinete do governador Tião Viana. Certamente, três fatores contribuem para a timidez da agenda: o cenário de orçamento federal apertado; o tratamento institucionalizado e pouco politizado da presidente Dilma Rousseff para a região e a instabilidade no contexto econômico internacional.

Todos são motivos fortes, mas o Palácio Rio Branco não pode recuar nesse movimento de integração econômica com o Peru. O setor supermercadista já deu o primeiro passo. Resta ao governo construir a solidez dos próximos.


 Governo e entidades discutem demandas e desafios da qualificação de mão-de-obra
MAÍRA MARTINELLO

Educação para o trabalho, os desafios daindustrialização, demanda e oferta de empregos e as oportunidades e gargalos para o desenvolvimento da economia regional são alguns dos assuntos que serão debatidos, nos próximos dias 26 e 27 (quarta e quinta-feira), no II Encontro de Educação Profissional Científica e Tecnológica (EPCT), organizado pelo Fórum de Educação Profissional Científica e Tecnológica do Acre.

Tomates3
Marília Macedo destaca os avanços do setor de educação profissional do Estado

Secretaria Estadual de Educação, Instituto Dom Moacyr, Senai, Senac, Ifac, Senar e Senat estão entre as instituições que participam da organização do evento. Ao todo, quase 30 entidades governamentais e não governamentais ligadas à EPTC discutirão as novas demandas da educação profissional tendo como foco o anunciado desenvolvimento econômico do Estado.

A programação será composta por palestras, debates, mesas-redondas e salas temáticas. A palestra de abertura, no Teatrão, ficará a cargo do governador Tião Viana, que falará sobre “O cenário atual e as perspectivas para o desenvolvimento do Acre”. Serão abordadas também propostas relacionadas à erradicação da pobreza e possibilidades de inclusão social.

Para a gerente da área pedagógica e de currículo do Instituto Dom Moacyr (IDM), Marília Macedo, o II Encontro de EPTC permitirá que governo e instituições possam caminhar na mesma direção, definindo setores e territórios prioritários para investimento, modalidades de oferta e tecnologias que devem ser envolvidas.

“Com a política de desenvolvimento regional sustentável, foram surgindo novas demandas de aperfeiçoamento profissional, e o que vemos hoje é a exigência de uma formação cada vez mais sofisticada. Precisamos desenvolver tecnologias e qualificar mão-de-obra para que o processo de industrialização no qual começamos a entrar não fique só mecanização. Esse é o grande desafio da educação profissional do Acre atualmente”, explica.

Avanços e demandas
A gerente pedagógica e de currículo do IDM, Marília Macedo, faz questão de destacar os avanços do setor de educação profissional do Estado, desde o primeiro encontro, realizado em 2005. Naquela época, recorda ela, havia praticamente só o Instituto Dom Moacyr para oferta da educação profissional pública, além da forte ação do Sistema S.

“Neste últimos anos, evoluímos para o fortalecimento das políticas públicas de valorização da educação profissional como possibilidade efetiva de qualificação dos trabalhadores. Este segundo encontro é fundamental para analisar a mudança nesse cenário e para que possamos aproveitar as oportunidades que temos que pela frente. Precisamos estabelecer quem faz o quê, em que área e como deve ser feito. Porque, se não fizermos essa leitura de potencialização das oportunidades, corremos muitos riscos de fazermos todos a mesma coisa num setor e deixar outras áreas em expansão desatendidas”, avalia.

Marília dá exemplos de como o crescimento da cidade modificou o mercado e, consequentemente, a forma de trabalho das escolas profissionalizantes. Atualmente, segundo ela, uma área altamente demandada é a de mecânica de automóveis.

“Olha o trânsito da cidade como está, a quantidade de carros, a sofisticação dos veículos que rodam no Acre. Temos muita carência de profissionais nessa área. Isso antes não era nem imaginado e realmente nos surpreende”, diz.

Outro desafio é desenvolver tecnologias de piscicultura e manejo florestal sustentável.

“Precisamos alinhar as ações das instituições com as atuais políticas governamentais de desenvolvimento regional. Os investimentos no setor são altos e devem ser aproveitados da melhor forma possível”, enfatiza.


 Adiada a inauguração do frigorífico Anassara
ITAAN ARRUDA

A inauguração do frigorífico de abate de ovino Anassara foi adiada. O evento estava marcado para a próxima sexta-feira (28/10), mas, por incompatibilidade de agenda com o gabinete do governador Tião Viana, o empresário Adalberto Moreto, proprietário do empreendimento. A participação do Governo do Acre é direta com a cessão do terreno de 15 hectares de área e incentivos fiscais concedidos pela Comissão de Incentivo à Política Industrial (Copiai), após análise do plano de negócio fornecido pelo empreendedor. A planta industrial tem 730 m² de área com sistema de abate praticamente todo automatizado.

O abate inicial foi planejado em 100 cabeças por dia e a prioridade de Moreto é formar público consumidor da carne de carneiro aqui mesmo no Acre. Mas, a capacidade de abate instalada é de quatro vezes mais, com geração de 20 empregos diretos.
A região do Vale do Acre é a que tem maior capital instalado e melhor infraestrutura de comercialização. Além de possui o maior mercado consumidor também. O programa de incentivo à produção de ovinos executado pelo Governo do Acre amplia os criadores de ovinos em todo Estado. Mas, na prática, os que têm condições de dar escala ao abate são poucos.

Estima-se que em um hectare de terra seja possível criar 1,5 boi. Na mesma área, é possível criar (até em sistema consorciado) até 30 ovinos. A ovinocultura de qualidade exige muito investimento e manejo mais criterioso do que a pecuá-ria. Para o pequeno criador, sem qualificação, é uma dificuldade adicional. O início dos serviços do Unissara aponta para uma tendência de formação de público consumidor e aumento na produtividade do setor porque vai exigir escala.

Pará é o maior produtor de ovinos da região Norte
De acordo com a última aferição feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o estado do Pará é o que tem maior produção, abocanhando 38% do mercado regional. Em segundo lugar está Rondônia, com 18% do mercado. Tocantins está classificado em terceiro lugar com 81.897 cabeças.


 Empresa de Santa Catarina quer se instalar no Estado

Representantes da empresa Leme Comércio Exterior, com sede na cidade de Itajaí (SantaCatarina) se reuniram com técnicos da Secretaria de DesenvolvimentoEconômico, Indústria, Comércio, Ciência, Serviços e Tecnologia (Sedict) paramanifestar interesse de se instalar no Acre. A conclusão da Transoceânica, aliada as possibilidades de comercialização de produtos via Peru para outros países, são fatores de atração de investimentos.
Tomates4
Empresários discutiram alternativas de exportação com técnicos da Secretaria de Indústria e Comércio

Os empresários Ademar Dagnoni e Nei Araújo revelaram que atuam no mercado há quase 20 anos e pretendem comercializar madeira, carne, castanha, açaí e outros produtos. “O Acre tem muitas riquezas e está localizado num ponto estratégico. Com a conclusãodaTransoceânica. Temos certeza que criaremos oportunidadespara realizar bons negócios apartir daqui”, explica Ademar Dagnoni.

Eles também revelaram interesse na Zona de Processamento de Exportação (ZPE). Ostécnicos da Sedict explicaram todos os procedimentos para a apresentação da carta deintenção para a instalação na ZPE. “Temos que pensar no futuro. A ZPE do Acre está muito avançada e, com certeza,representa uma excelente oportunidade para negócios. Vamos estudar a possibilidade detambém se instalar na Zona”, informa.

Objetivo é atrair as empresas do Brasil e de outros países
Em 2008, os empresários saíram de Santa Catarina para o Acre, depois de três dia e meio de estrada e quase quatro mil quilômetros. Na época, eles fizeram questão de ir até Assis Brasil e Inãpari, para conhecer a conclusão da primeira parte daTransoceânica.

A Leme é uma empresa especializada em logística de transporte e seguros para exportação de produtos como grãos, alimentos, têxteis e madeiras. A intenção é atrair empresários brasileiros e de outros países, apresentando as oportunidades de negó-cios que podem ser feitas através da Transoceânica.

“Temos certeza que a conclusão dessa estrada, que nos leva até o Pacífico, vai garantirinúmeras facilidades e oportunidades para empresas do Brasil e de outros países. Alguns negócios já estão sendo feitos e a tendência é aumentar ainda mais. Com certezateremos uma redução de custos e mais lucros para as empresas”, disse.

Para o diretor de Comércio e Integração da Sedict, Jair Santos, a vinda de empresas desse ramo para o Acre é prova que a Transoceânica trará muitos benefícios para o Estado, garantindo a geração de emprego e renda.

Ele lembrou que o Governo do Estado vem trabalhando em comunhão com as autoridades e empresários perua-nos para garantir as condições necessárias para que a comercialização de produtos pela Transoceânica seja intensificada cada vez mais.
No Acre, há inclusive, um comitê, formado por representantes da Polícia Federal, Receita Federal, Ministério da Agricultura, Governo do Estado e outros órgãos que se reúne periodicamente para avaliar as condições dos negócios feitos pela Transoceânicae buscar soluções para os problemas.

NOTAS ECONÔMICAS

De boa intenção…

A Câmara dos Deputados aprovou a medida provisória 541/11 que trata de benefícios fiscais para micro e pequenas empresas exportadoras. A MP faz parte do Plano Brasil Maior elaborado pela presidente Dilma Rousseff. A intenção é boa, mas, no Acre, quando se analisa o impacto no chão de fábrica, vê-se que terá pouco efeito.

Em tempo
O projeto agora segue para apreciação do Senado. Se tiver alguma emenda (e certamente terá), volta para votação na Câmara e, na sequência, entra na agenda para apreciação presidencial.

Quantas?
A aprovação na Câmara tem que ser destacada, sem dúvida, mas fica a pergunta: aqui no Acre, quantas são as empresas pequenas e micro que exportam com regularidade? Quais setores pode-riam ser beneficiados?

Transparência
O Sebrae/AC tem mais uma missão importante: informar como será efetivado na região os recursos do Fundo de Financiamento à Exportação, previsto na medida provisória. Como ter acesso a esse fundo? Quais critérios a empresa deve seguir? Haverá setores específicos que serão beneficiados? Estima-se que, inicialmente, o fundo já comece com R$ 1 bilhão em caixa para todo país.

Nem tu, Brutus?!
Até para regulamentar a Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas os prefeitos têm que ser mimados. Não compreendem o valor desse setor para a economia regional. Um prefeito é um líder por excelência que está mais próximo dos problemas da comunidade. Se nem esse líder se empolga com as pequenas e microempresas, aí tudo fica mais difícil.

Exceção
À exceção de Rio Branco, que possui política específica para o setor, não se há informação de mais nenhuma outra prefeitura que incentive as micros.

De novo, o manejo
A mobilização pró-manejo feita em frente ao Palácio Rio Branco e à Aleac, é claro, não pode ser desprezada. As frases de efeito tipo “manejar é conservar” guardam lá a sua dose de impacto. Mas, não respondem às críticas feitas ao instrumento de exploração. Ninguém questiona a importância econômica do manejo: ele, de fato, gera uma cadeia produtiva que emprega muita gente e movimenta milhões.

Justamente isso
É justamente em função dessa grande quantidade de dinheiro manejado de forma concentrada e os impactos no meio ambiente que se fundamentam as críticas. Já se relatou aqui nesse espaço e se reforça: esse debate deveria ser o mais técnico possível.

Varejão
Se se embarcar na polarização natural da política, ninguém vai se entender. E o tempo passando! Em tese, o que deveria estar acontecendo era concentrar esforços no refinamento do texto do Novo Código Florestal. O ideal era apreender o espírito da função do varejão para o ribeirinho: ir fundo para empurrar o barco na direção que os navegantes querem.

Sair da versão mobile