Ícone do site Jornal A Gazeta do Acre

O Brasil atolado na Bolívia

Embora o Itamaraty garanta que não, é delicada a situação do Brasil em suas relações com a Bolívia, onde o autoritário presidente Evo Morales se encontra atualmente em crise com a população.

Por inspiração do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, maravilhado pela ascensão do índio Evo à presidência de seu país em dezembro de 2005 (‘Ele é a cara da Bolívia’, dizia Lula, fascinado), a diplomacia brasileira desenvolveu um arriscado envolvimento com as autoridades bolivianas. Em outra vertente, aberta por algumas de nossas maiores empreiteiras e pela Petrobras, também foi envolvido o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Hoje, o problema de contornos mais evidentes é a estrada que corta reservas indígenas, numa região que os bolivianos têm como verdadeiro santuário cultural e ecológico. É uma obra que está sendo tocada por uma empreiteira brasileira, com financiamento garantido pelo BNDES, que na verdade interessa à Bolívia, mas talvez interesse ainda mais ao Brasil. Esse dado leva a outro problema, de contornos menos evidentes: a consolidação de um sentimento anti-Brasil que se alastra por outros países sul-americanos e, no momento, incendeia o nacionalismo boliviano.

Embora o Itamaraty garanta que não, a verdade é que essa estrada que corta a Amazônia boliviana fere a legislação local e, mais agudamente, fere o orgulho local. Por causa da estrada, comunidades indígenas se rebelaram contra o governo do índio Evo, que reagiu com truculência extrema. Foi tão absurda a violência do índio presidente contra os índios cidadãos, que alguns ministros renunciaram. Em seguida, o protesto indígena recebeu o apoio do principal sindicato da Bolívia, a COB (Central Operária Boliviana).

Existe, no fundo da alma boliviana, um ressentimento contra o Brasil. Num de seus primeiros pronunciamentos de presidente recém-empossado, Evo Morales ressuscitou e deu projeção internacional à antiga lenda de que o Acre foi dado ao Brasil em troca de um cavalo. Na ocasião, em vez de responder com veemência em defesa de um dos maiores feitos diplomáticos do pilar da diplomacia brasileira, o Barão do Rio Branco, o nosso Itamaraty preferiu pôr panos quentes. A mesma reação leniente viria semanas depois, quando o governo de Evo Morales nacionalizou instalações da Petrobras que haviam custado cerca de 200 milhões de dólares.

De leniência em leniência, o Brasil foi se atolando naquela areia movediça em que se converteu a Bolívia sob o comando de Evo Morales, esdrúxula mistura de cacique índio, líder cocalero, socialista que presta vassalagem ao “bolivarianismo” do chefete Hugo Chávez, da Venezuela. O pior é que, com as informações equivocadas que o Itamaraty divulga, não estamos fazendo força para sair, mas para nos atolarmos ainda mais. (Diário de S. Paulo)

Sair da versão mobile