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“O Legislativo acreano é um Poder enfraquecido”, afirma cientista político

A produção Legislativa e o relacionamento do Poder Legislativo com o Executivo nos últimos anos é tema de uma pesquisa coordenada pelo doutor em Ciências Políticas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), Nilson Euclides, coordenador do Núcleo de Estudos Políticos e Democráticos da Universidade Federal do Acre (Ufac).
Nilson
O objetivo é fazer uma avaliação da atuação dos deputados e da relação da Assembleia Legislativa com o Poder Executivo, levando em conta a influência que o Governo do Estado exerceu e exerce sobre os parlamentares. Participam ainda da pesquisa duas acadêmicas do curso de Ciências Sociais da Ufac.

A pesquisa ainda está ini-ciando e a expectativa é que seja concluída até o final do próximo. A meta é que, ao final, a população tenha acesso a informações sobre a produção dos parlamentares e a forma como os projetos são avaliados e votados na Casa.  

“Ainda estamos começando a pesquisa, não temos muitos dados. Mas posso afirmar que o Legislativo acreano é um Poder enfraquecido”, afirmou.

No Acre há mais de 20 anos, Nilson Euclides acompanha de perto a política acreana e, em entrevista ao jornal A GAZETA, ele faz uma avaliação da atual legislatura, destacando o papel da oposição e do bloco de apoio ao Governo, comenta o projeto que prevê a realização de sessões de segunda à sexta e fala sobre a atuação dos parlamentares na Aleac.

Um Poder enfraquecido
Para Nilson Euclides, assim como em outros estados, o Poder Legislativo do Acre não cumpre seu papel e os parlamentares deixam muito a desejar. “A Aleac é uma instituição vazia, sem lideranças. Essa é uma triste realidade, porque é um Poder extremamente importante para nossa sociedade”, disse.

Entre outras coisas, Nilson Euclides cita com um problema, a estrutura dos gabinetes dos parlamentares, que segundo ele é formada por pessoas ligadas aos deputados e que, muitas vezes, não tem capacidade de ajudar na produção parlamentar.
“Já tivemos parlamentares mais coerentes e atuantes. Hoje os partidos pequenos estão cada vez mais enfraquecidos. Temos ausência de lideranças políticas. Encontramos gabinetes vazios ou ocupados por pessoas que são ‘apadrinhados políticos’. O Poder Legislativo é um espaço totalmente vazio”, assegurou.

Atuação parlamentar
O cientista político Nilson Euclides afirma a Aleac não tem uma liderança significativa e que possa se destacar. Para ele, há um processo de alienação por parte dos deputados que não conseguem cumprir seu papel de legislador.

“A tribuna é um espaço de exercício de vaidades de alguns e para que outros puxem o saco do Governo, com discursos vazios. Na oposição temos um ou outro discurso mais incisivo, mas depois se perdem”, ressaltou.

Para Euclides o grande problema é que alguns perderam suas identidades e estão cada vez mais enfraquecidos, com seus quadros fragilizados. “Se não temos partidos, não podemos ter bons deputados. O pior é que eles se acham importantes e tem uma falsa consciência que são representantes do povo e que isso é o suficiente”, explicou.

O cientista político analisa com tristeza a atual legislatura afirmando que não tem nenhuma esperança de melhoria no Poder Legislativo. “Não tenho mais esperança com essa legislatura. Gostaria de ter lideranças, mas infelizmente não temos”, lamentou.

 

Sessão de segunda à sexta
Explicando que o espaço de trabalho do deputado não se resume apenas a Assembléia Legislativa, que segundo ele deve ser utilizada para decisões, onde os parlamentares devem defender idéias, o cientista político se posiciona contrário ao aumento do número de sessões.   

“Se fossem duas vezes por semana para a Aleac e trabalhassem de verdade, seria perfeito. Agora não dá para ficar apenas conversando e não cumprir seu papel. Temos que entender que a tribuna é um espaço de decisão. O deputado não precisa ficar ali todos os dias, ele tem é que produzir”, disse.

Nilson Euclides afirma que o grande problema é que os deputados nem sempre cumprem o seu papel de caminhar ao lado das bases, conversando com a população, na busca de solucionar problemas.

“Nem podemos dizer que eles trabalham três vezes por semana. Eles vão à Assembléia três vezes por semana. Mas vale lembrar que o bom deputado tem um espaço de trabalho que vai além das estruturas físicas do Legislativo. Eles precisam se aproximar mais de suas bases”, destacou.

Oposição e situação
Avaliando a postura dos parlamentares da oposição e da situação, Nilson Euclides defende mais independência e atuação por parte dos deputados. “Aqueles que são da base do Governo cumprem um papel de apenas defender o Governo. Eles se limitam a isso e não procuram ter uma visão mais crítica, que é fundamental. Uma coisa é apoiar um projeto, outra é ser obediente”, disse.

Para o cientista, a oposição ainda está desarticulada, com os partidos fragilizados e sem lideranças. “Não percebemos a unidade na oposição. Você olha para a Assembléia e não consegue identificar os deputados. Ali tem muitos deputados de um mandato, que vão entrar, sair e ninguém vai nem perceber”, concluiu.

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