A chegada do Via Verde Shopping muda a rotina do comércio varejista de Rio Branco. Não se trata de receber o empreendimento com deslumbre. A mudança de postura dos comerciantes locais é, antes, uma necessidade diante de um concorrente com projeto orçado em R$ 145 milhões, com 132 lojas-satélite e seis lojas-âncoras: ou o comércio “de rua” muda a qualidade do atendimento, ou vai sentir no caixa o preço por não se adaptar à nova realidade. Poucas são as lojas no Acre que o cliente não tem a sensação de estar pedindo favor quando ousa comprar um produto. Diferente de outros lugares, aqui, o cliente não é acolhido. A expectativa é de que o novo empreendimento traga uma mudança radical nessa tradição do atendimento de barranco.
O governo tem, nos 2,2 mil empregos gerados, o grande mote para comemorar. A seleção de 600 pessoas é resultado da reunião de informações em um único banco de dados com perfil profissional de quem se habilitou a trabalhar no shopping. As articulações para a vinda do consórcio de empresas liderado pela LGR Empreendimentos começaram ainda no governo de Jorge Viana. O lançamento da pedra fundamental do projeto ocorreu na gestão do ex-governador Binho Marques. Quatro invernos depois, totalizando efetivamente pouco mais de um ano de obras, o projeto chega a sua fase de conclusão.
Há uma razão indireta para que o governador Tião Viana entre no Via Verde Shopping com peito tão estufado quanto o diretor do consórcio empreendedor, Dorival Regini: a certeza de que o poder público ainda é o grande regulador de quem vai consumir naquele espaço. Se o salário do funcionalismo público atrasar um único mês, o brilho das vitrines já será ofuscado. É evidente que não se investe R$ 145 milhões às cegas. É óbvio também que o investimento médio das lojas-âncoras de R$ 7 milhões não é feito de forma leviana. Tudo se fundamenta em pesquisas: demanda e poder aquisitivo médio que sustente o negócio. No entanto, não nos iludamos: o projeto é privado, mas a sustentabilidade dele ainda é pública e com variantes políticas.
Há quem enxergue no empreendimento “a dimensão máxima do capitalismo” e que passe a defender, a partir de agora, as compras no Bazar Chefe como a última reserva da nossa expressão cultural. É fato que um shopping center exige consumo. É um ambiente sempre limpo; confortável; sem relógios à vista (quanto mais tempo se passar dentro, maiores possibilidades de compra) e supostamente mais seguro. Mas, ele só se sustenta se houver compra. Um aspecto que os lojistas de lá vão rapidamente perceber: no Acre, o integrante da classe “B” e “C” freqüenta os mesmos ambientes de quem é da classe “A”. No shopping, a diferença é que um vai comprar e o outro não. No máximo, um consumidor vai passear o dia todo pelos corredores com uma “maria-chiquinha” na sacola enquanto o outro desfila com várias roupas de grife.
Há também quem estranhe a inauguração com tão poucas lojas. O diretor do consórcio gestor argumenta que isso “é normal”. Ou se inaugura em março/abril ou em agosto/setembro. Como o inverno não permitiu agilizar as obras, inaugurou-se ontem, com 70% das lojas. Especula-se que havia previsão de multa contratual diária de até R$ 80 mil às lojas mais famosas, caso o consórcio não inaugurasse na data combinada no papel. A informação, “em respeito ao cliente”, não é confirmada pelo diretor Dorival Regini. São detalhes para um empreendimento que passa a ter uma função tão importante para o comércio regional. Ali, a partir de hoje, tudo é uma aposta. Com a palavra, o consumidor acreano.
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