Visitei, na semana passada, o Hospital de Saúde Mental do Acre (Hosmac), acompanhando uma pessoa querida que ficou uns dias internada lá. Um problema de saúde desta natureza é, por si só, difícil e doloroso. Mas, aliado isso, deparei-me, de forma dura e bem clara, com outros obstáculos (tão cruéis quanto) para aqueles que enfrentam as mazelas das doenças psiquiátricas: a ignorância e o preconceito.
A caminho do hospital, peguei-me receosa com o que encontraria pela frente. Imaginei, de imediato, um local sujo, cheio de grades e precárias condições de higiene. Era essa a minha referência de um hospital psiquiátrico público, influenciada por imagens de filmes e documentários. Recordei-me, depois, de uma matéria que eu havia lido há pouco tempo… Falava sobre a visita do governador ao local e destacava as melhorias do espaço, a beleza do jardim, a humanização no atendimento e os avanços no setor.
A realidade que encontrei não foi nenhuma, nem outra. Do ponto de vista “físico”, o hospital é, de fato, melhor do que eu idealizei. Razoavelmente organizado e limpo, embora com instalações antigas e ainda bem feias e dani-ficadas.
O atendimento também foi razoável. Apesar de algumas dificuldades iniciais com alguns funcionários mais mal-humorados, com jeitinho e paciência foi possível obter uma recepção satisfatória que minimizou, dentro do possível, o sofrimento de ver um ente querido enfrentar dias difíceis como aqueles.
Ainda assim, a visita foi bastante impactante. Deparar-se com aquela realidade nua e crua – com as diferenças e limitações daquelas pessoas – é algo que exige muito equilíbrio, sabedoria e resignação.
Minha total ignorância sobre o assunto, somada aos muitos estigmas impostos às doenças mentais, fizeram-me imaginar, naqueles poucos minutos de espera, inúmeras situações estapafúrdias que poderiam ocorrer ali. Eu e minhas doidices… Enfim, cada doido com a sua mania!
Uma enfermeira simpática sentou-se ao meu lado e, talvez, atentando para a minha expressão de ansiedade e receio, disse-me, baixinho: “eu também senti medo as primeiras vezes que vim. Pode ficar tranqüila”. Não consegui responder nada, acho que muito pela vergonha de ter sido flagrada, ali, em meio aos meus preconceitos e sentimentos mais contraditórios.
Naquele momento, enxerguei a dificuldade que eu e muitos de nós temos em lidar com o desconhecido e, mais do que isso, com tudo aquilo que não se adequa aos padrões “desejados”. Frutos de uma sociedade narcisista, que exige perfeição e “igualdade” (no mau sentido), nós, as ditas “pessoas normais”, ainda temos um longo caminho a percorrer para superar as loucuras e agruras da vida real.
Maíra Martinello é jornalista. [email protected]