X

Parceria no risco tecnológico

 

Desde a fundação da Protec, há quase dez anos, vimos afirmando, fundamentados na lógica empresarial do benefício, que a indústria brasileira não inova de modo sistêmico e ofensivo porque na inovação há sempre o risco do insucesso que se soma ao risco econômico presente em todo empreendimento.

O risco tecnológico é a barreira para o investimento da empresa em inovação já que uma agregação de valor decorrente da inovação será apropriada principalmente pelo Estado, com a carga fiscal média de 34%, enquanto o retorno da empresa é apenas o lucro presumido em 8%, quando houver. Por isso, terão sempre resultado próximo do nulo as exortações para que as empresas assumam sozinhas esse risco, seja através de discursos com apelos cívicos ou de exemplos de terceiros. O exemplo do sucesso dos outros infelizmente não mitiga o risco de cada um.

Temos afirmado que o modo de motivar as indústrias a incorporarem a inovação como a sua estratégia de crescimento, há que ser econômico. Ou seja, é essencial que o Estado, o maior beneficiário do sucesso da inovação na dura proporção de 4:1, ou mais, em relação à empresa, compartilhe o risco tecnológico com a indústria que inova. Isso está consagrado internacionalmente, pois o artigo 8º do acordo que criou a OMC (Rodada do Uruguai, 1994) aceita esse compartilhamento, a que chama de subsídio, até a proporção de 3:1 em relação aos investimentos totais da empresa no desenvolvimento de inovações tecnológicas.

Assim foi em todos os países que se industrializaram após a segunda guerra mundial – Japão, Coreia e Taiwan – e os que o estão fazendo agora como China e Índia. O Brasil jamais assumiu essa opção porque temos uma cultura que rejeita como natural a parceria entre Estado e indústria, mesmo para gerar tecnologia. Somente quando tivermos essa parceria de modo sistêmico e universal, o país assumirá uma posição competitiva no cenário mundial e, por conseqüência, a indústria passará a ter o protagonismo do desenvolvimento tecnológico, inclusive nos investimentos, como ocorre nos países centrais.

Essa última condição ficou ainda mais clara em um estudo recentemente divulgado pela Área de Pesquisas Econômicas do BNDES, assinado pelos economistas Antonio Marcos Hoelz Pinto Ambrozio e Filipe Lage de Sousa, e denominado de “Desafios do apoio público à inovação no Brasil” (http://www.protec.org.br/publicacoes.php). Após analisar muitos países, o estudo conclui que “países dispondo de maior apoio governamental têm maior nível de gastos privados em P&D.” Ou seja, mostra que o compartilhamento do risco tecnológico induz uma ação mais ofensiva da empresa, elevando os seus investimentos.

Principalmente nas ações iniciais de fomento à inovação a ampla, corajosa, sistêmica e universal parceria no risco tecnológico entre Estado e indústria é indispensável para colocar os investimentos privados do país no nível necessário e caracterizar a inovação como a propulsora estratégica do desenvolvimento. Enquanto não assumirmos essa atitude e decisão, a inovação pouco passará de exemplos pontuais e um discurso de boas intenções.

Roberto Nicolsky, diretor geral da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica – Protec, físico e Pró-Reitor de Extensão do Centro Universitário Estadual da Zona Oeste – Uezo.

Categories: Espaço do Leitor
A Gazeta do Acre: