A vice-ministra de Relações Exteriores da Noruega, Ingrid Ffiskaa, disse anteontem que o mundo está com olhos voltados para a Amazônia. Ela veio visitar comunidades indígenas que moram e atuam nas regiões da fronteira binacional Brasil/Peru (Acre-Ucayali-Madre di Dios e Brasil/Amazonas-Javari/Tapiche). Também participou do último dia da reunião do Programa Amazônia, “Gestão Sustentável de Grandes Territórios Contíguos na Amazônia com Bases no Cumprimento de Direitos Humanos e dos Povos Indígenas”, realizado na sede Comissão Pró-Índio (CPI). O encontro contou com a presença de líderes de 12 terras indígenas dessa área de fronteira.
A região habitada pelos povos indígenas é alvo do interesse do capital nacional e estrangeiro. Rica em petróleo e gás natural, ouro, madeira e biodiversidade, a área é alvo constate de saques e de gradativos extermínio das populações tradicionais. O encontro é uma iniciativa da Fundação Rainforest (RNF), da Noruega, que recebe apoio do governo norueguês.
Um dos participantes do encontro, Benk Pianko Ashaninka, que mora no Rio Amônia, a 25 Km da fronteira com o Peru, denuncia a invasão na região por madeireiros peruanos. “Estão roubando a nossa madeira e tirando a harmonia da convivência na aldeia”, disse ele, que entoou cantos de seu povo para recepcionar a vice-ministra e sua comitiva. “Queremos, em primeiro lugar, agradecer a natureza, depois à Noruega pela cooperação e, por último, aos irmãos índios que resistem bravamente”, complementou o índio Nilson Sabóia Huni Kui, que presenteou a comitiva com adornos.
“O momento é de suma importância pela proposição de que sejam ouvidas as comunidades locais, especialmente as indígenas, na perspectiva da integração binacional que vem desconsiderando estas populações na implantação de seu modelo de desenvolvimento econômico. Pensar a economia macro é importante, mas para quem se destina? Para qual setor da sociedade estão sendo idealizadas as grandes obras de infra-estrutura já em andamento? Essas e outras ameaças à integridade de nossas culturas foram debatidas e suas resoluções estão sendo entregues à vice-ministra”, declarou o índio peruano Josué Franquin, do povo shipibo conibo.
A Fundação RFN visa a implantação de modelos e práticas sustentáveis de gestão das florestas tropicais, que se baseiam no respeito e efetivação dos direitos dos povos que vivem nestas florestas. Tem se desenvolvido, desde 2007, e realizado ações através de projetos e iniciativas políticas da sociedade civil em 5 estados da Amazônia (Bolívia, Brasil, Equador, Peru e Venezuela). Desde 1992, a fundação é parceira da CPI e da Organização dos Professores Indígenas do Acre.