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Governo rebate metodologia aplicada pela pesquisa Fieac

fotos sergio_vale_264864465A pesquisa da Federação das Indústrias do Estado do Acre, que aponta redução da atividade industrial na construção civil, foi duramente criticada pelo Governo do Estado. Ontem, após solenidade oficial no gabinete de trabalho, o governador Tião Viana se pronunciou sobre o assunto. “É uma pesquisa cuja metodologia não seria aprovada nem na escola mais elementar de estatística”, disse. “São números que não têm o mínimo amor pelo Acre”, emocionou-se.

Como forma de rebater a pesquisa, a articulação do Palácio Rio Branco, por enquanto, se limitou à construção de um artigo do professor da faculdade de Economia da Ufac, Orlando Sabino. No texto (transcrito a seguir), Sabino contesta o método utilizado pelo colega de profissão, o outro professor de Economia da Ufac e que assina a pesquisa, Carlos Estevão.

O desempenho do setor industrial do Acre em 2011

Econ. Orlando Sabino da Costa Filho*
Os jornais escritos locais do dia 16/ 12/2011, publicaram matérias sobre o nível da atividade industrial acreana em 2011, ambas baseadas nos resultados de pesquisas feitas pela Federação das Indústrias do Estado do Acre – Fieac. As pesquisas fazem parte de um balanço anual da atividade industrial no Estado. No que se refere aos dados divulgados, achamos oportuno tecermos algumas considerações sobre os seus conteúdos.

Primeiramente, é importante destacar e louvar a iniciativa da Fieac em acompanhar o desempenho da indústria acreana para avaliar e traçar as estratégias de atuação do setor. Porém, é importante discutir os seus resultados a luz da sua metodologia, a luz do novo perfil da indústria acreana e, principalmente, a luz dos programas que o governo Tião Via-na, com muita velocidade, esta implementando em todo o Estado.

Pelas matérias, podemos observar, embora não muito claramente, que o setor industrial acreano apresentou um crescimento expressivo, na casa dos 9% (a expectativa é que o setor no Brasil cresça pouco mais de 1% neste ano). Porém, comparando com o ano passado, os números acusam uma queda no ritmo de crescimento em 3,84 pontos percentuais para 2011, em relação ao ano de 2010.
Vamos aos questionamentos: quanto aos aspectos metodológicos da pesquisa, o que pude apreender é que a amostra do estudo da geração de emprego da Fieac está baseada nas 40 maiores empresas do setor da construção civil que mais utilizam mão-de-obra formal no Acre.

Sobre este ponto, faço dois comentários. Primeiro, será que empresários da construção civil podem representar o universo dos empresários industriais do Acre? A nosso ver não. Segundo, somente a geração de empregos do setor da construção civil é suficiente para definir o ritmo de crescimento do setor industrial do Acre? A nosso ver, também não. A análise de desempenho de um setor industrial tem que levar em consideração outros elementos (volume da produção, capacidade instalada, etc.), além nível de emprego, claro.

Inquieto com a matéria fui ao site da Fieac, além de ligar para técnicos daquela conceituada instituição.

Pude constatar que ela produz seis boletins mensais, dentre eles, um sobre emprego na construção civil e outro sobre indicadores industriais. Fiquei na dúvida a qual pesquisa as matérias jornalísticas estavam se referindo, acho que sobre as duas. Não pude conferir, pois o último mês de publicação sobre os indicadores industriais que consta no site é o mês de junho de 2011.

 
Vamos imaginar que os resultados da queda da velocidade de crescimento tenha se verificado na pesquisa dos indicadores industriais. Pela metodologia, podemos perceber que ela envolve o fornecimento mensal de informações por uma amostra de empresas formada por 67 (sessenta e sete) estabelecimentos industriais. Os elementos pesquisados são: vendas indus-triais, emprego, custo com pessoal, dias trabalhados e capacidade instalada. Os gêneros pesquisados atualmente são: Madeira e Móveis, Produtos Alimentares, Gráfico, Minerais não-metálicos, Confecções, e Outros. Faço também algumas observações sobre alguns aspectos da metodologia da pesquisa.

Em primeiro lugar, pergunto: levando-se em consideração o grande investimento do governo na indústria cerâmica (pela metodologia, incluído no gênero dos minerais não-metálicos), em função do programa Ruas do Povo, qual o peso que este gênero representa na atual metodologia? Não deveria a Fieac, dada esta nova realidade, rever o seu peso no âmbito do índice? A meu ver sim, a final ele passa a ser um dos mais representativos dentre os demais, neste novo perfil industrial acreano.

A demanda institucional criada pelo programa Ruas do Povo foi expressiva, foi consumida, de janeiro até agora, aproximadamente 14.000 milheiros de tijolos, fora o consumo de meio fio, que também é um produto industrial. Isto é um adicional substancial às vendas do dia a dia das empresas. Mais de15 cerâmicas acreanas duplicaram suas capacidades de produção, ensejando novos investimentos e contratação de mais mão-de-obra.

Em segundo lugar, pergunto: Nesta amostra de 67 estabelecimentos indus-triais, quantas estão localizadas em Rio Branco e quantas estão em outros municípios? Será que as empresas selecionadas não estão excessivamente localizadas em Rio Branco? Acredito que sim. Aí me parece outro aspecto a ser relevado. Uma marca forte da atual política industrial do Governo Tião Viana é a democratização das oportunidades industriais em termos territoriais. A abertura em definitivo da BR-364 até Cruzeiro do Sul cria uma nova geografia industrial no Estado.

Em Cruzeiro do Sul são 25 empresas instaladas no distrito industrial, além do que estão se criando distritos industriais em Tarauacá, Feijó, Sena Madureira e Acrelândia. São investimentos significativos. Portanto é chegado o momento de rever a amostra da pesquisa para que ela possa representar, com mais fidedignidade o comportamento das indústrias acreanas.

Será que não seria o momento de incluir as micros e as pequenas empresas não sindicalizadas na amostra. Afinal elas representam mais de 98% dos estabelecimentos empresariais do Acre. Elas também são as que mais empregam e estão a margem dos sindicatos patronais ligados a Fieac. O governo Tião Viana criou uma Secretaria de Pequenos Negócios que deu um novo significado a este importante segmento econômico no nosso Estado.

O artigo cita ainda que uma forte causa para a diminuição do ritmo de crescimento foi a “mudança de governo” que requer um tempo para se planejar novas ações. Também tenho a minha opinião e permitam-me discordar. Tenho 54 anos de idade, como técnico e cidadão, nunca vi o início de um governo tão frenético como este de Tião Viana. Rapidamente as ações saem do planejado para o executado. A impressão que tenho é que o ritmo dos investimentos públicos não declinou no período e, mesmo que tenha ocorrido, setores industriais importantes, como o cerâmico, o moveleiro e o madeireiro, inseridos em vários programas do governo, foram incentivados, o que permitiu uma alavancagem de todo o setor industrial.

Portanto, incorporar um rigor técnico mais consistente e mais compatível com a realidade nas pesquisas, em qualquer campo, nos traz a segurança e melhor compreensão e avaliação de onde estamos, como estamos e onde queremos chegar.

Mestre em economia, professor adjunto do curso de economia da UFAC e Assessor Especial do Governo Tião Viana.

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