No próximo dia 9 de dezembro, às 9h, no auditório da Firb/FAAO, o Ministério Público do Estado do Acre (MPE) lança a campanha “O que você tem a ver com a corrupção”.
O mote é instigante e remete ao que pode fazer o cidadão para colaborar com a redução dos números relativos à corrupção no Brasil.
Os promotores Waldirene Lima Cordeiro e Vinicius Menandro coordenam a campanha no Acre. Quando se pensa em corrupção, a primeira ideia que surge tem a ver com algemas, processos criminais, juízes e habeas corpus. Mas esses são aspectos relativos à repressão à corrupção, que é, sem dúvida, importante.
Importante também é a prevenção, que se materializa no controle social. E controle social é voto consciente e, principalmente, participação na vida política. A parcela de contribuição de cada um no combate a essa mazela mundial, na opinião da promotora de justiça Waldirene Cordeiro é um passo decisivo no combate a Corrupção. “ Boas práticas e bons exemplos e honestidade, não somente para com a coisa pública, mas no trato social, individual, são preponderantes para vencer esse mal” diz ela.
Veja a entrevista na íntegra:
O que é a campanha “O que você tem a ver com a corrupção”?
Waldirene Cordeiro – A Campanha Nacional ‘ O que você tem a ver com a corrupção?’ foi a forma que o Ministério Público Brasileiro encontrou para conclamar a sociedade brasileira para juntos – instituição e sociedade – tentarmos resolver essa situação, esse problema que afeta todos os setores, que é a CORRUPÇÃO e que, infelizmente, é uma mazela mundial a ser enfrentada e somente através da educação, das boas práticas e dos bons exemplos e, claro da honestidade, não somente para com a coisa pública, mas no trato social, individual, haveremos de vencê-la.
O que pode fazer o cidadão para colaborar com a redução dos números relativos à corrupção no Brasil?
Waldirene Cordeiro – Fazendo o resumo numa palavra: SEJA HONESTO, NÃO DEIXE SEQUER AFLORAR EM VOCÊ, OU EM SEU VIZINHO AQUELE CHAMADO ‘JEITINHO BRASILEIRO’, para tratar da coisa pública ou da vida cotidiana; denuncie filme, registre, porque o corrupto, o desonesto ainda teme duas coisas: ser visto na tv e não ser (re)eleito;
A inclusão dos estudantes integra essa nova etapa da campanha, encabeçada pelo MPE. Qual o objetivo disso?
Waldirene Cordeiro – A educação, pensamos, é a mola-mestra para o desenvolvimento de toda Nação. Nosso objetivo e marcharmos juntos com a educação e com todos aqueles que pretendem ver o Brasil livre dessa doença chamada corrupção; Investir em educação não é somente edificar espaços bonitos e arquitetonicamente perfeitos, mas é também colocar seres que pensem e reflitam sobre onde pretendemos chegar, se é com ETICA em nossas condutas, com RESPEITO aos nossos VALORES. O desafio é: instruir nossos jovens/estudantes parar e perceber as consequências nefastas dos atos de corrupção; para perceber que as boas práticas são as que contribuem para o desenvolvimento da sociedade, repito, somente com cidadãos comprometidos com a ética, com a moral, a cidadania e a honestidade, poderemos (re)construir uma sociedade livre da corrupção.
Em que medida a senhora avalia os impactos ao país e à sociedade trazidos pelos atos ilícitos socialmente aceitos – dentre eles a própria corrupção, a pirataria e a sonegação?
Waldirene Cordeiro – Os atos de corrupção trazem um enorme prejuízo à economia brasileira. Um último estudo feito pela FIESP apresentou resultado que 50 a 84 bilhões de reais são desviados dos cofres públicos, é quase um PIB da Bolívia. Isso é dinheiro público que poderia ser aplicado em beneficio da nossa gente, da população, indistintamente e que, no seu caminho, encontrou algum espertalhão que acreditou que lhe pertencia por inteiro. Mas o problema do Brasil, em particular, é que nós estamos nos acostumando com os pequenos ‘deslizes’, ou com as ‘faltas ‘socialmente aceitas’. Exemplo: subornar o guarda de transito para que o mesmo não multe-o, não deve ser considerado tão grave, assim como levar alguns bens públicos para casa, se depois, descoberta essa subtração eu devolver, se eu comprar cd/dvd ‘pirata’, porque no comercio ‘legal’ é ‘tão caro’, sonegar imposto, porque o meu vizinho, por sua empresa, sonegou e nada lhe aconteceu, e por ai segue; a questão disso tudo é, afora o mau exemplo que estamos passando para os nossos filhos, o que fomenta esse mundo ilícito: trabalho análogo ao de escravo, prostituição, tráfico de pessoas e entorpecentes, mas isso não é divulgado porque o comum’ é dizer que corruptos são os políticos, são os agentes públicos… que muitas vezes são, mas nós também temos nossa parcela de colaboração nisso tudo, enquanto cidadãos e isso precisa mudar para que o País cresça sadio.
Porque a corrupção se alastra? Falta controle social sobre os gestores da coisa pública?
Waldirene Cordeiro – Em verdade eu não acredito que a corrupção está se alastrando, mas sim que ela está sendo mais divulgada e daí decorre essa sensação; a sociedade vem diuturnamente cobrando sanção efetiva aos maus gestores e esse movimento vem crescendo, mas somente cobrar punição não resolve, deve haver o engajamento nesse combate, deve haver a adoção de boas práticas também por parte da sociedade e não somente por parte daqueles que estão vestidos com as ‘vestes’ públicas.
Em sua visão, o Brasil adota as medidas necessárias para combater a corrupção e ilícitos relacionados? Se não, quais medidas deveriam ser encaminhadas?
Waldirene Cordeiro – O ano vindouro – 2012 – será um ano de mudanças, eis que será de eleições municipais (Vereadores/Prefeitos).
Certamente o eleitor que, ao depositar seu voto num candidato que sempre contribuiu com o desenvolvimento de sua coletividade, nunca se envolveu em questões nebulosas com a Justiça, já dá o primeiro passo para com a ética, a moralidade e a honestidade. Todo eleitor deveria, antes de votar, refletir quanto a ‘ficha limpa’ de seu candidato, independentemente das questões pendentes perante os Tribunais Superiores, acerca da aplicação nesta ou noutra eleição, da legislação que trata desse assunto, porque para ser honesto não é necessário que nenhum tribunal venha nos dizer.
O nosso Pais, através de suas instituições de controle (MPF, MPE’s, Controladorias Gerais, PF, PRF, e outros) tem se esforçado bastante para combater esta mazela cognominada corrupção – que como dito pelo Barão de Montesquieu, numa tradução livre, é só dar poder ao Homem que você o conhecerá – mas muitas são as dificuldades encontradas. Enfrentar a corrupção no Brasil é muito mais do simplesmente processar políticos e empresários desonestos, denunciar maus gestores públicos, é buscar mudar o comportamento de toda uma cultura, de toda uma sociedade acostumada ao chamado ‘jeitinho brasileiro’; Sair desse lado repressivo e passar para o lado preventivo, somente ocorrerá através da educação de nossos jovens e, por eles, certamente, conseguiremos alcançar nosso objetivo, que é sanear a vida pública. VAMOS VESTIR ESSA CAMISA. DIGA NÃO A CORRUPÇÃO. (Assessoria)