X

Falar bem o idioma pátrio é um dever cívico

O idioma é um símbolo de identidade de uma nação. Seu uso determina a origem de pessoas que nasceram num país e o escolheram para ali viver. Há países que usam mais de um idioma em seu território, determinando-os como língua oficial, o que pode dificultar a comunicação entre seus habitantes. O Brasil tem como língua oficial o idioma português falado em todo o seu imenso território.

Todo o cidadão tem o direito e o dever de falar corretamente a sua língua materna. No caso da língua portuguesa – com muitas regras e exceções que dificultam o seu uso adequadamente – é indispensável que cada cidadão faça esforço para bem se comunicar, garantindo, assim, a unidade nacional do idioma pátrio. O Governo Brasileiro deve ter uma preocupação com o ensino vernacular, oferecendo-o como ferramenta de ascensão social e sucesso profissional. O bom uso do idioma é imprescindível desde as conversas informais na família e na sociedade, objeto de estudo apurado nas escolas, onde os alunos devem aprender, oficialmente, o idioma como disciplina obrigatória.

Todavia, observa-se, nos últimos tempos, um falar descuidado entre camadas sociais e os veículos de comunicação. Fica a parecer que ninguém respeita o idioma pátrio. Há muita gente boa dizendo: “boa noite a todos e a todas – ao invés: Boa noite Senhoras e Senhores”; “Assisti o jogo na Arena da Floresta – ao invés: Assisti ao jogo no Arena da Floresta”. De modo que o falar negligente tornou-se comum entre as pessoas de qualquer camada social, fato que prejudica o aprendizado de crianças e de jovens que não se preocupam com este valor nacional. O mais preocupante é observar que professores também não primam pelo bom uso da língua portuguesa. Esquecem-se que ensinar uma disciplina passa, necessariamente, pelo uso da língua pátria, pois não se aprende que não seja por meio das palavras. É a linguagem que traduz todas as ciências, todos os saberes.

Este tema tem primordial importância, por isso deveria ser discutido com maior frequência nas instituições educacionais. Estas deveriam priorizar o ensino do português como dever cívico, como mola propulsora para a compreensão das ciências, da vida, da natureza, dos seres humanos.

Aliás, se há preocupação do governo em oferecer educação de qualidade, este será um princípio básico para educar o cidadão brasileiro. Para isto, é imprescindível que todos os envolvidos com educação estejam apaixonados pelo seu trabalho, pois da paixão nasce o desejo de realização, buscando caminhos, estratégias, recursos para alcançar os resultados esperados. Somente assim as ações educadoras se difundirão para além dos muros da escola, levando os pais a se tornarem parceiros dos professores e se interessar pela educação dos filhos, mostrando o valor dos conhecimentos da língua portuguesa para a vida futura.

Comunicar-se é próprio do ser humano, mas falar bem a língua pátria é valorizar a terra, o civismo, a profissão, o país. É, por fim, defender a boa empregabilidade, o sucesso profissional. Escuta-se, com pesar, uma tendência ao falar descuidado, com “erros” de concordância, regência, sintaxe. Ouve-se muito: a terceira pessoa do verbo com a segunda, como “tu gosta”, “tu faz” e assim por diante. Há também outros vocábulos pronunciados de qualquer forma, como se o falar descuidado fizesse parte do linguajar do povo e as pes-soas acreditassem que é assim que o povo entende. Observam-se, lamentavelmente, políticos que usam esse pretexto para praticar demagogia nos discursos empolgados, tentando atrair adeptos, crentes de que eles falam a língua do povo. Um presidente da República que não preza a Língua Nacional está negando sua importância como idioma pátrio, desvalorizando um dos princípios básicos da cidadania. Já dizia o grande jurista e político Rui Barbosa que “falar bem a sua língua é um dever e um direito do cidadão”.

A responsabilidade paira entre os mais cultos e, principalmente, entre aqueles que atuam como liderança no cenário nacional, dando exemplo de cidadania, fazendo com que o povo aprenda, corretamente, a falar seu idioma nativo, evitando vocábulos chulos e palavras de baixo calão, assim também os vícios de linguagem como o tal “tipo assim”.

Se há um órgão que pode mudar este estado de coisas, esta displicência do falar, com certeza, é o Estado, que também precisa se apaixonar pelos resultados que serão obtidos, oferecendo condições dignas ao trabalhador da educação, oportunizando uma formação adequada e salário justo, compatível com a responsabilidade que lhe é determinada.

Deve-se primar pelo bom uso da língua mãe, de um vocabulário rico, cantado pelo grande poeta brasileiro, Olavo Bilac, em “A última flor do Lácio”, tendo o cuidado de falar corretamente, fazendo dessa prática um gesto que dignifique a pátria onde nascemos.

DICAS DE GRAMÁTICA
PROFESSORA, EXISTE DIFICULDADES  NA CONJUGAÇÃO DOS VERBOS VER E  VIR?
– Sim, muitas dificuldades: Ontem eles vieram e eles viram = pretérito perfeito do indicativo; Se ele vier, se ele vir (“vir”, do verbo ver) = futuro do subjuntivo; se ele viesse, se ele visse = pretérito imperfeito do subjuntivo.
A segunda dificuldade, em relação a ver e vir, também é referente à conjugação, mas agora o problema são palavras semelhantes: vir, vimos…

“Vir” tanto pode ser o infinitivo do verbo vir quanto o futuro do subjuntivo do verbo ver: “Se você o vir (verbo ver), diga-lhe para vir (verbo vir) até aqui. O mesmo se sucede com todas as pessoas: “Se vocês os virem, digam-lhes para virem até aqui”.

“Vimos” tanto pode ser a primeira pessoa do plural do presente do indicativo do verbo vir quanto a primeira pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo do verbo ver: “Nós vimos aqui vê-la porque ontem nós vimos o que aconteceu contigo”.

Luísa Galvão Lessa – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montreal, Canadá. Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Pesquisadora Sênio da CAPES. ( colunaletras@yahoo.com.br)

Categories: Luísa Lessa
A Gazeta do Acre: