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Seleção de alunos na Ufac para 2013

O tipo de seleção que a Ufac utilizou para escolher os novos alunos de graduação (calouros) para 2012 tem sido alvo de debates “acalorados” no seio da sociedade e na própria Ufac. Porém, existem dois grandes problemas que poucos comentam: o primeiro é a oferta de vagas ser menor que a procura, de modo que precisa ser adotado um processo de seleção; o segundo é que o  processo adotado, via de regra, privilegia os candidatos de famílias de melhor nível cultural e maior renda. Esta realidade repete-se em todos os Estados e é reflexo das iniquidades da sociedade capitalista.

Nos últimos cinco anos a Ufac ampliou as vagas anual de 1070 para 2050 devido à política de reestruturação e expansão das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes) do governo Lula, seguido pela presidente atual, possibilitando maior acesso e diminuindo esta iniquidade sem, contudo resolvê-la.

Dado à escassez de vagas se faz necessário estabelecer critérios para o preenchimento de vagas disponíveis. Para isto as Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes) adotaram como critério o mérito acadêmico dos candidatos, avaliados pelo vestibular ou pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que é um exame composto por quatro provas divididas em quatro áreas mais a redação, que tem como objetivo avaliar os alunos e escolas de ensino médio.

Recentemente o Enem tem sido utilizado para seleção no preenchimento das vagas no ensino superior das IFES e para acesso as bolsas do MEC para as vagas nas Instituições particulares de ensino superior – ProUni.
Quais as principais diferenças entre o ENEM e o vestibular?

As provas do Enem são compostas de questões contextualizadas na vida real e com abrangência mais ampla do currículo nacional do ensino médio. O vestibular focava as disciplinas no lugar das áreas e exigia muito a habilidade de decorar as formulas, fatos e datas.

Considerando que o principal objetivo da maioria dos alunos do ensino médio é o acesso ao nível superior, a agenda de estudo destes alunos eram os temas e questões do vestibular. Deste modo os conteúdos das provas do vestibular orientavam o ensino médio do Brasil e do Acre. O MEC apresentou o Enem como alternativa para corrigir esta distorção.

O Enem é realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – Inep/MEC que tem a competência instalada reconhecida para avaliação em larga escala, diferente da maioria das IFES, que tem dificuldades para atender as atividades de ensino, pesquisa e extensão, devido à carência de docentes e técnicos, o que dificulta os gestores das Ifes designar pessoas com dedicação exclusiva para esta função, sem prejuízos a outras atividades.

 Tanto o Inep quanto as Ifes encontraram dificuldades operacionais. Ultimamente o Inep tem celebrado parcerias com as Ifes para superá-las, como por exemplo: Os docentes, indicados pelas Ifes, estão trabalhando, a convite do Inep, para consolidar o banco de questões do Inep para as provas do Enem que estão próximas de 100 mil. Estas questões são classificadas por nível de complexidade, todas avaliadas e testadas por equipes do INEP com assessoria dos docentes das Universidades. Diferente da UFAC onde as provas eram elaboradas por disciplinas geralmente por um professor doutor.

EM 2012, OS CANDIDATOS APÓS SEREM AVALIADOS E, COM SUAS NOTAS E RESPECTIVA PONTUAÇÃO, CONQUISTADA PELA PARTICIPAÇÃO DO EXAME DO ENEM, PARTICIPARAM DE DOIS PROCESSOS SELETIVOS NACIONAIS: O Sistema seleção unificada (SiSu) gerenciado pelo MEC, no qual as Ifes oferecem vagas aos alunos que fizeram o Enem e o sistema seletivo da Ufac – que adotou outro procedimento.

O processo de seleção realizado pela Ufac para escolher os novos alunos de graduação para 2012 foi aprovado pelo Conselho Universitário (Consu), colegiado máximo da Instituição, composta de 87 representantes dos Centros, todos os coordenadores dos cursos, representantes dos alunos e técnicos, Reitoria e sociedade. No momento da decisão fundamentei posição conforme argumentações expressas neste artigo.

Um dos procedimentos adotados pelo processo seletivo da Ufac que tem sido questionado, é a ponderação das notas por área. Por exemplo: para os candidatos aos cursos de engenharia ou matematica as questões da prova de matematica tem peso 3   e   questões da área de ciências humanas peso 1; o inverso ocorreria se o candidato estivesse inscrito para o curso de ciências sociais. Este procedimento é sustentado por um conceito tecnicista com pouca aceitação nos meios educacionais modernos.

Argumenta-se que é importante que os alunos ingressos tenha boa formação em todas as areas. O candidato ao curso de engenharia tenha tambem boa formação de área de humanas. Sem o uso da ponderação os candidatos serão estimulados a estudar com o mesmo interesse todas as disciplinas.

Para além do técnico queremos o cidadão culto e erudito.

É provável que a utilização das notas do Enem ou notas do Vestibular não seria tão diferente o acesso dos alunos de outros Estados à Ufac. A diferença é que no vestibular o candidato de outro Estado faria uma viagem para fazer a prova. No meu entendimento o grande problema foi a não adesão da Ufac ao sistema de seleção SiSu! neste sistema o aluno pode concorrer em duas opções. Alem destas duas opções puderam concorrer também às vagas da Ufac.

Exemplificando: um candidato ao curso de medicina, residente em Fortaleza, com bom nível de preparação, teve a opção pelo SiSu na UFC/Fortaleza e outra opção provável UFC/ Sobral ou outro local mais próximo da residência da família. Se a Ufac tivesse integrada ao SiSu dificilmente este aluno escolheria concorrer às vagas da Ufac, em função da distância. Como o Consu decidiu criar um sistema próprio, o referido aluno pode concorrer as duas vagas do SiSu mais a vaga da Ufac.

É provável também que uma proporção dos aprovados nesta primeira lista da Ufac sejam também aprovados nas vagas disponíveis pelo SiSu e nas Universidades públicas estaduais e façam opção para estudar mais próximo da família, abrindo novas chamadas na Ufac.

Para os candidatos residentes no Acre obterem mais sucesso aos cursos mais concorridos, em particular o curso de medicina, é necessário mais estudo e perseverança. Os alunos da medicina da Ufac, em sua maioria, fizeram Enem/vestibulares entre três a cinco anos para finalmente conseguir uma vaga na Ufac, estes alunos tem em média de 24 anos de idade. Participaram durante anos de cursos preparatorios com carga horária de 40 semanais. A sociedade  acreana não oferece estas oportunidades, geralmente buscam o caminho mais curto que é enviar os filhos para estudar no exterior.

Nas últimas décadas os acreanos conseguiram sucesso nas seleções das Universidades localizadas no eixo Rio/São Paulo, temos vários médicos nascidos no Acre estudaram medicina na UFRJ, USP, Santa Casa/SP, UFPA, Ufam, UFC, UFMT, Jundiaí, Rio Preto, UFRGS… Lembro do exemplo Dr. Adib Jatene, de Xapuri.  Esses médicos acreanos para obterem sucesso certamente “ralaram” muito e “malharam” pouco.

Reconhece-se o avanço do ensino básico do Acre, indicadas pelas avaliações externas dos indicadores educacionais realizadas pelo Inep/MEC. Cabe a Ufac a responsabilidade de formar mais e melhores professores. No campo cultural e educacional “Há muito o que se fazer pelo Acre e pelo país” Nossa esperança de colher mais e melhores  frutos  são os recentes investimentos da União na Educação basica, tecnologica   e superior.  A Ufac já colhe  alguns frutos desta politica quando apresenta vários cursos   muito bem avaliados pelo MEC, temos capacidade instalada de avançar muito mais se modernizar e descentralizar a gestão, consolidar a identidade amazônica, estabelecer o planejamento participativo, melhorar a auto-estima da equipe e ampliar a inclusão dos segmentos sociais estabelecendo politicas afirmativas. 
Que as diretrizes para a seleção 2013 seja discutida e aprovada o mais rápido possivel para orientar as escolas do ensino médio.

Rio Branco, 16 de janeiro de 2012.

* Pascoal Torres Muniz é professor associado do CCSD e atual vice-reitor da Ufac

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