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Hatianos confessam à polícia do AM que já há quadrilhas de ‘coiotes’ agindo dentro do país

Alguns haitianos enfim quebraram o silêncio e decidiram prestar alguns detalhes à polícia amazonense sobre os esquemas e estratégias dos traficantes que os trouxeram ao Brasil, os chamados ‘coiotes’. As revelações reafirmam, mais uma vez, que a atuação dos ‘coiotes’ é maciça nas fronteiras brasileiras e, assim como o processo migratório dos haitianos em pelo menos 3 rotas para o país (pelo Peru/Acre; pela Colômbia e Peru/Tabatinga; e pelo Paraguai/Paraná), segue um ritmo cada vez maior de ascendência e organização.

O grupo revelou que a maioria dos ‘coiotes’ está escondida na porta do aeroporto internacional de Lima, que é o ponto de entrada principal dos haitianos no continente sul americano (eles vêm de avião da Capital do seu país, Porto Príncipe, ou de Santo Domingo, República Dominicana). Lá, os ‘coiotes’ não adotam tal nome. Eles se passam por ‘agentes’ de viagem e turismo, extorquindo os imigrantes que se arriscam a passar pelo Peru sem visto.

Mas este é só um lado do problema. O lado externo. Dentro do Brasil, os haitianos revelaram que já há quadrilhas dos traficantes de pessoas ‘estruturadas’ para transportá-los por várias rotas de região Norte. As principais delas são do Acre para Rondônia; e de Rondônia para Manaus. Mas este tipo de tráfico não pára por aí. Da região Norte, os ‘coiotes’ já estão estendendo suas rotas, ‘agenciando’ o transporte de haitianos para a Guiana Francesa, passando pelo Amapá e pelo Pará. O país em questão atrai estes imigrantes pela facilidade do idioma (o francês) e a maior oferta de trabalho. 

Ante a presença dos ‘coiotes’, a Polícia Federal (PF) tenta ‘desbaratar’ suas quadrilhas, mas não consegue pistas pertinentes sobre seu modus operandis e seu poder na região devido à falta de informações. Os únicos que poderiam ajudá-los a achar tais traficantes seriam os haitianos, mas eles se recusam a ajudar, devido a sua situação vulnerável no país. As poucas pessoas ligadas a ‘coiotagem’ que são presas pela PF acabam sendo inocentadas pela Justiça, por falta de provas (uma vez que os haitianos não testemunham contra elas).   

Um dos haitianos que prestou detalhes sobre os ‘coiotes’ à polícia do Amazonas é Anite Antoine, de 30 anos. Ele e o seu filho entraram no Brasil pelo Acre, numa caravana de 22 haitianos clandestinos. Do seu país, ele relata que seu grupo veio até o Peru e de lá ficou escondido por um dos ‘coiotes’ durante 5 dias, em Iñapari, cidade  na fronteira do Peru com o Acre, a cerca de 330 Km de Rio Branco. Eles cruzaram a fronteira ‘pelo mato’, segundo Anite, ficaram os 5 dias reclusos e depois foram levados pelo ‘agenciador’ até Brasiléia. Aqui no Acre tiraram visto e foram trabalhar em Porto Velho. De Rondônia, Anite e o filho foram, há poucos dias, a Manaus, onde está recolhido num abrigo da Igreja.

Ao tomar conhecimento destas novas rotas internas de ‘coiotes’ na região, a polícia do Amazonas prometeu fazer reuniões com as demais instituições de segurança do Estado para abrir uma investigação mais detalhada sobre o caso.     
Efeitos colaterais da restrição – A restrição para a entrada de 1,2 mil haitianos no Brasil por ano (resolução do Cnig, de 13 de janeiro) foi uma medida que, na teoria, foi feita para coibir a prática dos ‘coioteiros’ e para conter a vinda em massa destes imigrantes a cidades com pouco aporte para abrigá-los. Porém, a notícia de barreiras no Brasil motivou caravanas e mais caravanas de haitianos ao país. Centenas dos que já estavam a caminho do Brasil se apressaram e, até mesmo, recorreram aos ‘coiotes’ para chegar logo aqui.

A mentalidade dos haitianos é resumida nesta afirmação de um deles: “viemos para trabalhar e não temos como voltar para o nosso país. Não temos outra escolha. Se não nos deixarem entrar legalmente, vamos encontrar outras formas”, disse um imigrante.

No Acre, a proibição fez com que um grupo de mais de 160 haitianos ficassem retidos na ponte binacional entre Iñapari e Assis Brasil. A PF os impediu de entrar e o governo peruano não os deixou ficarem no país vizinho. Assim, muitos ficaram dias passando fome por lá. O governo brasileiro, e especialmente do Acre, está se mobilizando para intervir em prol deles, mas a situação ainda aguarda um desfecho definitivo. (Com informações do Jornal A CRÍTICA de Manaus)

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