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Nota do Enem é uma coisa; ser classificado pelo edital da Ufac é outra

A nota de classificação do processo seletivo da Ufac não é a nota do Enem. Entender essa diferença é fundamental para o estudante não se confundir. A nota do Enem serve como uma referência para um cálculo usado na classificação dos aprovados na Universidade Federal do Acre. A fórmula desse cálculo está presente no edital do concurso da instituição.
COLETIVA-UFAC-LISTA---FReitora Olinda Batista reconheceu “equívoco” no registro de pesos em algumas disciplinas
“Houve equívocos no registro do peso de algumas disciplinas de um curso que estavam sendo registrados para outro”, reconheceu a reitora Olinda Batista, durante entrevista coletiva realizada ontem pela manhã. “Mas, isso foi corrigido”.

A explicação da reitora serviu para rebater as críticas que a instituição recebeu durante o fim de semana. Opiniões desinformadas de parlamentares e até de integrantes da própria Ufac nas redes sociais forçaram a reitoria a explicar novamente como se realiza o processo seletivo.

“Esses ‘pesos’ dados às diferentes disciplinas para os diferentes cursos fazem parte de uma escolha do Conselho Universitário”, explica o vice-reitor, Paschoal Muniz. “A prova do Enem é uma prova nacional e que serve de referência assim como o vestibular poderia servir”.

O Conselho Universitário é composto por 43 integrantes e representa todas as decisões acadêmicas. É ele quem define qual importância uma determinada disciplinaterá para seleção de um determinado curso.
Os estudantes que se sentirem prejudicados pelo processo seletivo da Ufac têm até quarta-feira (11/01) para entrar com recurso na instituição.

É um direito previsto no edital. Respondidos todos os recursos, o resultado definitivo da Ufac deve ser divulgado até o fim de janeiro. O resultado preliminar deve ter novas modificações porque nem todos os aprovados de outros estados devem efetivar as matrículas.

Informalmente, técnicos da Ufac acreditam que “nem 50 por cento dos aprovados de outros estados” efetivem a matrícula.

Reitora expõe contradições do Conselho Universitário
Durante a entrevista coletiva realizada ontem, reitora da Universidade Federal do Acre, Olinda Batista, expôs alguns pontos de discordância internas do Conselho Universitário.

“O Conselho não é consensual. Até aí tudo bem. Mas o que ocorre é que algumas pessoas trabalham contra”, disse. A frase saiu comoum desabafo aos questionamentos internos que a direção da Ufac tem em relação ao processo seletivo.

Sobre cotas – A “cota para acreanos”, ideia surgida após apenas um acreano ser aprovado para o curso de Medicina, por exemplo, não é rechaçada pela reitora. Ela não se posicionou claramente sobre o tema, mas ressaltou que essa é uma decisão que cabe ao Conselho.

“Ser acreano não é critério avaliativo
O estudante André Lucas Buruti de Melo, 16 anos, foi aprovado em 7º lugar para Direito na Universidade Federal do Acre. Entre os acreanos aceitos no curso, está em segundo lugar. Conseguiu média para ingressar em Medicina ou tentar outra universidade por meio do Sisu.
ANDRE-UFAC---FAndré, de 16 anos, passou em 7º lugar para Direito na Ufac
Integrante de família simples, não tem condições de estudar fora. Vai cursar Direito para seguir carreira diplomática. Aluno da Escola Estadual José Rodrigues Leite (mais conhecida como Etca), estudava de quatro a cinco horas por dia, em média em uma pequena mesa que mantém no quarto recém construído no bairro Nova Estação.

Sobre a ideia de criação de “cotas para acreanos” para defesa de vagas no ingresso à federal acreana, Buriti é enfático. “Ser acreano não é critério avaliativo”, rebateu. “Até onde eu sei, nenhum acreano foi impedido de estudar em outra universidade por ser acreano”.

E o jovem estudante continua as críticas em relação à ideia de criação de cotas. “O que deve haver é maior conscientização e criação de mecanismos de incentivo ao estudo”, disse, antes de concluir já buscando um tom mais diplomático. “No mínimo, essa ideia deveria ser mais debatida”.
Buriti de Melo participou este ano do projeto Parlamento Jovem Brasileiro, uma tentativa da União Nacional das Assembleias Legislativas de todo país e do Congresso Nacional de aproximar o legislativo da comunidade estudantil.
O jovem acreano elaborou um projeto de lei que tratava da inclusão do Direito e da Cidadania como disciplinas da grade curricular do ensino público.
Também conquistou uma das melhores notas da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica, uma disputa que envolveu 800 mil alunos de toda rede pública brasileira.Nessa olimpíada, recebeu o prêmio “Sou da Ciência”.

TABELA

Professor defende “meritocracia”
De acordo com o professor de Língua Portuguesa João Bosco de Sousa, que coordenou o Pré-Enem em 25 escolas estaduais, a ideia da criação de cotas para acreanos “não tem sentido”. O Pré-Enem é uma atividade que compõe o programa Mais Educação no Acre.

No currículo de João Bosco, 20 anos em cursos pré-vestibulares. A expe-riência do professor com estudantes egressos do Ensino Médio referenda os argumentos. “A instituição que não prima pela meritocracia vai ter problemas. O que vale é o mérito do aluno”, avalia

“Essa proposta de cota para acreanos é tão sem sentido que deve guardar relação até com o complexo de inferioridade que alguns estudantes têm: ‘de achar que não têm condições de ser competitivos’”.
Bosco assegura que os estudantes das escolas públicas aprovados no processo de seleção da Ufac “têm uma rotina de estudos diferenciada da maioria”.

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