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Para diretor, a produção teatral exige nova postura de dramaturgos e atores

F.-VICTOR-AUGUSTO-002Gil Camargo: “o teatro está muito mais amparado”Roberto Gil Camargo é parte da constelação de estrelas que integra o VI Festac. Diretor de teatro desde a década dos setenta no interior de São Paulo, volta a Rio Branco surpreso com o que viu. “A cidade cresceu e se modernizou”, reconhece.E o teatro nesse período? Também se modernizou? Gil avalia que o contexto da produção teatral exige uma nova postura dos dramaturgos, atores, diretores e cenógrafos. Seja no Acre ou em São Paulo.

“Há um evidente problema, um descompasso de linguagens”, avalia o diretor. “Para uma sociedade contemporânea, é obrigatório termos um teatro transformador que permita maior intervenção do público na forma de fazer teatro”.

“Vai chegar a um ponto”, defende o diretor, “que o espectador vai ter condições de poder interferir no cenário”. Nessa busca por um palco mais “permissivo”, Gil entende que a procura pela beleza pode tornar o teatro mais próximo das pessoas. Com possibilidade de ser mais fiel ao jogo dramático da vida real.

Em uma rápida visita à redação, o diretor entusiasmado com a estrutura do Teatro Plácido de Castro falou à equipe de A GAZETA.

A GAZETA  – Você tem a impressão de que a produção teatral era mais participativa do que agora? Havia uma ‘efervescência’, uma atuação mais emotiva na produção teatral, mesmo sem os espaços e mecanismos de incentivo? Isso é geral ou é só aqui no Acre?
Gil Camargo – Isso não é exclusividade do Acre. É geral. Há 30 ou 40 anos, havia menos espaços e menos mecanismos de apoio. E havia mais efervescência. Hoje, a gente tem mais espaços; temos leis de incentivo; temos editais; temos um maior apoio governamental. O teatro está muito mais amparado. Agora, os tempos mudaram. No geral, há um número maior de grupos, mas não há um ‘movimento’. Talvez porque os grupos eram mais amadores. Hoje, eles são mais profissionais porque concorrem a prêmios de leis de incentivos; eles precisam ter uma estrutura profissional e isso faz com que eles sejam mais itinerantes, trabalhem mais na produção e talvez nem dê tempo de acompanhar o trabalho do outro ou fomentar outros trabalhos.

A GAZETA – Fazendo essa comparação entre dois tempos diferentes, qual a lição que se tira disso?
Gil Camargo –  Até os anos setenta, havia uma ideia de ‘tea-tro de grupo’. A partir daí, o teatro de grupo se dissolve e começa a surgir uma produção mais profissional. A gente chama de ‘amador’, mas, na verdade, era uma coisa mais intuitiva: os grupos produziam mais por intuição e viviam mais da amizade. Nesse sentido, as coisas mudam e me parece que não só no Acre, mas em outros estados também. A ideia de ‘grupo’ deixa de existir. Começam a aparecer os ‘coletivos’, ‘companhias’.

A GAZETA – O essen-cial do teatro está preservado? A relação intimista com o público…
Gil Camargo – Eu acho que sim. A principal consequência de tudo isso que estamos falando foi o teatro ter saído do palco fechado e ter ido para as ruas. Eu não faço teatro de rua e muita gente da minha geração não faz teatro de rua. E tem muita gente que já passou para esse modelo de teatro em que você tem apoio financeiro do governo e vai lá atrás do público. E isso faz com que não se fique ao palco italiano.

A GAZETA  – Para formar plateias o uso de novas tecnologias é uma saída? Você é defensor de uma cenografia mais sofisticada?
Gil Camargo – Sinceramente, eu acho que o teatro está a exigir uma revolução, uma mudança na sua aparência. E essa mudança deveria ocorrer assumindo a realidade atual. Nós temos uma vida contemporânea, mas não temos um palco contemporâneo; não temos uma cena contemporânea. A nossa cena ainda é uma cena voltada para o que já foi feito. Há um ou outro trabalho que tem a ousadia de ser mais contemporâneo. Falta repensarmos sobre o mundo que estamos vivendo… de conexões, de redes sociais, de internet, de acesso direto à informação… temos que saber trabalhar essas questões no palco. Porque senão vamos ficar de lado. Já existem grupos que fazem tea-tro na internet. La Fura Dels Baus, por exemplo, já faz teatro digital [grupo de teatro espanhol, da Catalunha].

A GAZETA – E conseguem emocionar?
Gil Camargo – Sim. Porque a atual geração é muito visual. Estão vidrados na internet dia e noite. Para eles não é muito diferente. É uma variação do cinema, do vídeo, da animação. Precisamos ter consciência dessa digitalização e trazer para o palco. Temos que fazer um teatro que seja compatível com o mundo. O desafio é fazer um teatro que esteja na frente do que é a televisão e do que propõe a digitalização. Atualmente, há um evidente problema, um descompasso de linguagens. Para uma sociedade contemporânea, é obrigatório termos um teatro transformador que permita maior intervenção do público na forma de fazer teatro.

Festac apresenta 2 espetáculos hoje
O-Dilema-do-Paciente-007Rio Branco recebe de braços abertos desde o dia 14 de janeiro vários Estados Brasileiros representados por Grupos de Teatro que estão participando do VI Festac (Festival de Teatro do Acre)

O Festival, que tem caráter nacional, tem sido a grande alegria da cidade durante toda a semana. Os espetáculos têm agradado a platéia e o que se ouve em todos os cantos da Capital são as enxurradas de elo-gios, sobretudo pelos especialistas convidados.

Desde sábado, mais de 4 mil pessoas já compareceram ao VI Festac que tem acontecido no Novo Mercado Velho com os espetáculos de Rua e no Teatrão com espetáculos de palco. Os ingressos (para o teatrão) estão a preço acessível a toda a população. Inteira R$ 10,00 e Meia R$ 5,00.

Hoje, nesta quarta, temos mais 2 espetáculos imperdíveis. O primeiro é “O Dilema do Paciente” do Grupo Teatral Manjericão, do Rio Grande do Sul. Trata de uma trupe de artistas de circo que exibe seus números em uma praça e que durante tais apresentações, percebe que um dos componentes está cheio de manchas azuis pelo corpo, que não encontrando cura na primeira doutora procura outro médico que quer aplicar-lhe um golpe. Este espetáculo será às 18h na Praça do Novo Mercado Velho com classificação Livre.

Logo após, teremos o segundo espetáculo da noite, também no Mercado Velho. “O Filhote do filhote de Elefante”, do Grupo Esquadrão da Vida, do Distrito Federal,  encena um espetáculo dentro do espetáculo ao mostrar o cotidiano de uma trupe que tenta finalizar uma montagem, oferecendo ao público uma mostra do processo de um trabalho artístico. Também com classificação Livre.

Maiores informações no Blog da Fetac: fetac.blog spot.com ou pelo telefone: 3244-2554 (Assessoria)

Gil Camargo: “o teatro está muito mais amparado”

 

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