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Problema Insolúvel – II

(Os direitos da mulher e o banquinho eletrônico)

Numa de minhas estadas no Centro-Oeste brasileiro, li, num diário de uma grande cidade, que, oito mulheres foram pegas, tentado burlar a vigilância durante a visita a penitenciária estadual. As mulheres traziam consigo celulares, drogas, carregadores e fones de ouvido para os aparelhos. O fato em si não tem nada de inusitado, pois que em todo o Brasil é comum que visitantes tragam drogas, armas, serras, entre outros objetos, para os presos. O que causa náuseas é o fato dessas mulheres terem usado a vagina para transportar o material. Fico a pensar, nas minhas vãs cogitações, no que pensaram aquelas pobres mulheres, espíritos medíocres, ao introduzir na vagina objetos que supostamente serviriam aos seus parceiros encarcerados.

O salutar em todo esse vexame é que a descoberta dos objetos ocorreu sem aquela prática humilhante, usada pela maio-ria dos sistemas prisionais espalhados por esse mundo de meu Deus. Prática com requintes do antigo nazismo, que faz com que a revista em mulheres, irmãs, mães, filhas e esposas de presos, sejam feitas de forma aviltante. Há denúncias de que os agentes do Instituto Nacional de Administração Prisional (Inap) exigem que as mulheres, moças e velhas, fiquem nuas, examinam a vagina delas, trocam o absorvente quando elas estão menstruadas e até pedem a retirada de dentaduras e próteses.

Abro parêntese, para dizer que o método, infelizmente, ainda existe, é uma afronta, além de vexatório e humilhante, repito o que disse no primeiro artiguete, à conquista que a mulher dos nossos tempos, com muita luta, conseguiu obter até aqui. Uma degradação humana sem limites cometida contra, na maioria dos casos, mulheres honestas cujo pecado capital, é ser parente de um detento, ter origem social humilde e, por causa dessas “ovelhas vermelhas” mulheres, que já perderam todo e qualquer resquício de dignidade, pagam o pato.

Mas, dizia eu, a descoberta deu-se em razão de um “ban-quinho eletrônico” que detecta a presença de corpos estranhos no organismo, sem que a pessoa sofra traumas ou vexames. Esse equipamento está sendo utilizado pela penitenciária Aldemir Guimarães em Apa-recida, Estado de Goiás, já faz alguns meses ou anos.

Penso, pela ótica da boa vontade, que a crise nos presídios por este Brasil afora, eternamente sem solução para os problemas carcerários, prisionais, penitenciários, seria grande-mente minimizado se exemplos inteligentes como esse do “banquinho eletrônico” fosse copiado pelas demais penitenciárias desse Brasil Continental. Afinal é uma idéia tão simples e, provavelmente, bem módica, em termos financeiros; um investimento de alguns centavos que nada significaria para governos estaduais que vivem arrotando projetos que envolvem milhões de R$. No mínimo a programo do “banquinho eletrônico” evitaria, nos presídios, procedimentos ultrapassados durante a revista, notadamente, de mulheres.

Nesta presente hora em que efervescem, de todos os lados, discussões em cima de temas  voltados para os direitos da mulher, creio que seria salutar que políticos e outras entidades que se arvoram defensores da mulher, dessem uma olhadinha, nos dias de visitas à penitenciária local, para constatar como são recebidas as mulheres que visitam seus presos; pois que, diz-se por aí, além de ficarem totalmente nuas, passam pelo constrangimento de realizar o tão famoso “agachamento” numa série de mais de dez agachamentos em cima de um espelho colocado no chão  enquanto são observadas por funcionárias da casa. Não constatei in loco, mas conforme informação de fonte fidedigna essa prática arcaica ainda existe por aqui. Com a palavra o Iapen, uma vez que essa  é uma questão que não quer calar!

Na hipótese das categorias representativas irem à luta em prol dos direitos da mulher, que tal começar pelo tal “banquinho eletrônico”. Afinal nem só de licença maternidade vivem as mulheres.

Categories: Francisco Assis
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