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A diversidade de frutas comestíveis nativas em florestas do entorno de Assis Brasil

Assis Brasil é um município localizado no extremo leste do Acre, na zona fronteiriça do Brasil com a Bolívia e o Peru. Dista cerca de 330 km de Rio Branco, com acesso pela BR-317, e possui área de 2.875 km². Sua população é de 6.075 habitantes (densidade de 2,11 hab./km²), dos quais 44,7 % estão na zona urbana e 55,3 % na zona rural.

Afora o setor de serviços, que congrega atividades predominantemente urbanas, as principais atividades econômicas do município são o extrativismo, a agricultura de subsistência e a pecuária e na atualidade, a maior parte da produção oriunda da zona rural é comercializada localmente ou nos vizinhos municípios de Brasileia e Epitaciolândia.

Este panorama poderá mudar em razão da pavimentação da ‘Carretera Interoceânica’, que liga o Acre aos portos peruanos no Oceano Pacífico. Esta estrada representa uma grande oportunidade de desenvolvimento das potencialidades agrícolas e florestais de Assis Brasil, que poderá exportar sua produção a um custo relativamente baixo para outros países do continente americano e da região Ásia-Pacífico.

Dentre as potencialidades agroflo-restais relevantes para o município, o desenvolvimento da fruticultura, seja por meio de plantios ou a intensificação do extrativismo de frutos florestais, merece ser avaliado com espe-cial atenção tendo em vista o poten-cial que a atividade tem de gerar empregos, renda, segurança alimentar e contribuir para a conservação de extensas áreas florestais ricas em espécies frutíferas nativas passíveis de exploração sustentável.

Foi para verificar a diversidade das espécies frutíferas comestíveis existentes em florestas das proximidades da cidade de Assis Brasil que uma equipe do Inpa realizou levantamentos em três propriedades rurais localizadas a não mais que 10 km do Centro da cidade. Antes da visita às propriedades rurais, a equipe percorreu mercados, estabelecimentos comerciais e feiras da cidade para conhecer a diversidade de frutas à venda e obter informações sobre possíveis locais de ocorrência de espécies de frutíferas nativas.

Nas propriedades rurais visitadas foi realizada entrevista com um extrativista reconhecido como grande conhecedor dos recursos florestais locais, ocasião em que foi elaborada uma lista com nomes vulgares e características gerais das frutíferas nativas existentes na floresta do entorno da propriedade. Depois disso a equipe de pesquisa realizou uma incursão pela floresta na companhia do informante para identificar todas as frutíferas ao longo de uma trilha pré-existente, geralmente caminhos usados para a exploração de seringueira. Todas as espécies localizadas até 10 m de distância de ambos os lados do eixo da trilha foram identificadas. Em cada trilha foram percorridos aproximadamente 6 km, resultando em uma área avaliada de aproximadamente 12 hectares em cada propriedade.

Nas três propriedades levantadas foram identificadas 44 espécies frutíferas nativas pertencentes a 33 gêneros e 18 famílias botânicas. Os nomes populares Apuí (Ficus spp.), jenipapo (Genipa spp.) e Pama (Pseudolmedia spp.) referiam-se, segundo os extrativistas, a pelo menos duas espécies distintas. O nome maracujá (Passiflora spp.) referia-se a mais de duas espécies. Dessa forma, o número de espécies existente nas áreas estudadas é provavelmente maior. As famílias botânicas que apresentaram maior número de espécies foram Moraceae, com 10 espécies, Arecaceae, com 8, Annonaceae, com 5, e Sapotaceae, com 3. No que se refere ao hábito, 59,1% das espécies eram árvores de grande porte, 18,1% árvores de médio porte, 2,3% árvores de pequeno porte, 18,2% eram palmeiras, 2,3% lianas. Segundo informação dos extrativistas, a maioria das espécies (63,6%) frutifica durante o período chuvoso, que se estende entre meados de setembro e meados de abril.

As áreas florestais estudadas nas cercanias de Assis Brasil apresentem uma grande variedade de frutíferas nativas comestíveis, muitas delas consumidas pelos extrativis-tas e suas famílias na zona rural. Entretanto, nenhuma das espécies identificadas durante o estudo estava à venda nos mercados e feiras da cidade de Assis Brasil.

Este foi um resultado inesperado, pois considerando que um número significativo de moradores da zona urbana migrou da zona rural do município, era de se esperar que o hábito de consumir frutas nativas tivesse sido incorporado por essas pessoas ao chegar à zona urbana, garantindo mercado para algumas das espécies frutíferas existentes apenas nas áreas florestais.

A falta de oferta de frutos da floresta na zona urbana de Assis Brasil pode ser decorrência da dificuldade de trazer os mesmos até o mercado. Por um lado grande parte dos frutos é do tipo carnoso e se deteriora poucos dias após serem colhidos. De outro, a safra da maioria das frutas nativas ocorre no período das chuvas, que tornam as estradas locais praticamente intrafegáveis.
Uma nova etapa do estudo sobre as frutíferas nativas comestíveis existentes nas florestas do entorno da cidade de Assis Brasil deve priorizar a caracterização físico-química e o desenvolvimento de meios eficientes de coleta, proces-samento e armazenamento dos frutos das espécies mais promissoras. Mas estes estudos devem ser realizados com a maior brevidade possível, pois a exploração madeireira desenfreada que tem ocorrido na região está retirando da floresta algumas das espécies frutíferas com maior potencial de produção. Dentre os exemplos mais preocupantes encontram-se o Cumaru-ferro (Dypterix odorata), Guariúba (Clarisia racemosa), Inharé (Brosimum lactescens) e o Manitê (Brosimum alicastrum).

(1) Evandro Ferreira, José V. da Silva e João B. N. Queiroz são Pesquisadores do INPA-AC/Parque Zoobotânico da Ufac; (2) José Antonio Scarcello é Pesquisador do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística–IBGE; e (3) Peter Weigel é Pesquisador do INPA/AM.

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