Ícone do site Jornal A Gazeta do Acre

‘Não se adaptaram’, diz empresário de MT sobre contratação de haitianos

O dono da cerâmica de onde um grupo de haitianos abandonou o emprego afirma que a história não passou de um mal entendido. Os imigrantes afirmam que a empresa  descumpriu o acordo salarial.
 
 O grupo de seis haitianos abandonou o trabalho em Nossa Senhora do Livramento, a 42 quilômetros de Cuiabá, na última quarta-feira (8), afirmando que o patrão não tinha informado que haveria descontos nos salários para pagar alimentação e moradia.
  
 De acordo com Otto Frank, dono da empresa, o grupo não deixou o emprego por causa do salário, mas porque não demonstraram aptidão para o serviço. “Dois que vieram para trabalhar na empresa se adaptaram, os outros são mais adaptados em serviço de cidade, em mexer com a internet e aqui não encontraram isso”, declarou.
 
 Otto Frank contou ainda que na segunda-feira, dia 30 de janeiro, o grupo foi apresentado à empresa, bem como ao sistema de pagamento de salário. No entanto, ele garantiu que na ocasião ninguém se manifestou contrário as normas. “Como eles não se adaptaram deviam ter comunicado a empresa antes de tomar uma decisão de sair assim. O Ministério Público do Trabalho (MPT) esteve aqui para fiscalizar e não encontraram grandes irregularidades aqui. O maior problema foi a saída dos haitianos”, explicou.
 
 O gerente da empresa, Vile Frank, nega o desconto na folha de pagamento e que o salário inicial era de R$ 746 conforme tinha sido explicado aos trabalhadores, mas disse que o valor atingiria o combinado com o pagamento da insalubridade. “Aqui tem abrigo, habitação, incentivo da cesta básica. O salário deles era de R$ 746, somando com a insalubridade o valor pode chegar a R$ 900”, pontuou.
 
 O dono da empresa, Otto Frank, assumiu os custos com parte das viagens para aqueles que pretendem deixar Mato Grosso. Segundo Vile Frank, os haitianos não quiseram levar a carteira de trabalho embora e aguardam o desfecho na casa do migrante em Cuiabá. A empresa tem o prazo de até o dia 16 de fevereiro para fazer o término da rescisão de contrato de trabalho dos seis haitianos. O Ministério Público do Trabalho (MPT) ouviu os haitianos e o dono da cerâmica, mas só vai fechar o relatório sobre o caso depois de receber todos os documentos da empresa.
 
 
O caso

 Os seis haitianos deixaram o local onde estavam trabalhando na cidade de Nossa Senhora do Livramento, a 42 km de Cuiabá, na tarde desta quarta-feira (8). Eles procuraram um posto da Polícia Rodoviária Federal que fica em Várzea Grande, afirmando que tinham percorrido o caminho até o local à pé. “Eles chegaram caminhando até a nossa unidade dizendo que queriam ir até a Polícia Federal. Eles nos relataram que tinham deixado a empresa onde estavam por causa de mudanças no pagamento deles”, informou o policial rodoviário Vinicius Figueredo.
 
 O grupo chegou em Mato Grosso no dia 18 de janeiro, vindo do Acre, estado por onde os haitianos entraram no país. Em entrevista ao G1, o haitiano Wasnaldo Colon, de 24 anos, afirmou que o patrão havia combinado um valor de salário, mas quando o grupo chegou ao local, os haitianos foram informados de que o pagamento ocorreria de outra forma. “Quando nós fomos contratados, eles informaram que iriam nos pagar R$ 900. Mas quando chegamos aqui [em Mato Grosso], nos falaram que iriam ser descontadas as despesas de alimentação e moradia e que nosso salário iria cair para R$ 742”, contou. (Cenário MT)

Leia mais:

Haitianos chegam em MS em busca de sobrevivência

 Esses 20 haitianos – o 21º está trabalhando para a empresa em Costa Rica, no norte do Estado, fizeram o mesmo caminho fugindo da capital, Porto Príncipe, entrando no Brasil através do Acre, a partir de 2011. Ilegalmente chegaram em território brasileiro, via Cobija (Bolívia), ao lado de Brasiléia e Epitaciolândia.

 Hoje são mais de quatro mil refugiados, segundo estimativas do governo brasileiro. Vieram trazidos pelos chamados coiotes, que cobram em dólar para intermediar o ingresso no País pelo Acre. Já o grupo que se encontra em Ivinhema saiu de Porto Velho, em Rondonia, encaminhados à empreiteira da usina pelo serviço social local.

 Desembarcaram em Campo Grande onde ficaram dois dias, regularizando a papelada de entrada junto a Policia Federal, Receita Federal e depois no Ministério do Trabalho e Emprego onde conseguiram o visto para trabalhar, saindo com suas carteiras profissionais em mãos. Hoje todos ostentam o crachá funcional e outro da Receita com o CPF.

 E mais um grupo de 300 haitianos estaria se preparando para chegar ao município para trabalhar na construção ou outro setor de atividade braçal. Mas, essa versão, não foi confirmada pela empreiteira, embora haja rumores na Prefeitura. “Lá não (tem) emprego, nada, nada” contou Ilrick na sua entrecortada frase. Por isso a debandada do Haiti, que passa por um processo de recuperação após catástrofes naturais, como o terremoto, seguidod a epidemia de cólera que causou mais de sete mil mortes.

 De acordo com o governo brasileiro, cerca de quatro mil haitianos chegaram ao Brasil, através do Acre, depois do terremoto e em janeiro houve a regularização de 2.400 imigrantes, que receberam vistos de trabalho. (Correio do Estado)

Sair da versão mobile