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A arborização da Praça da Revolução em Rio Branco, um projeto modelo

 A Praça da Revolução Coronel Plácido de Castro é a principal praça da cidade de Rio Branco e foi completamente revitalizada em 2006 pela empresa Burle Marx & Cia Ltda., do Rio de Janeiro, numa empreitada conjunta do Governo do Estado e da Prefeitura de Rio Branco.

 Originalmente o local da praça da revolução era uma área coberta por floresta primária que foi derrubada para a implantação, entre 1926 e 1930, de uma praça rústica, sem qualquer tipo de urbanização, batizada inicialmente de ‘Rodrigues Alves’. A urbanização inicial ocorreu apenas no final dos anos 40 e grandes reformas foram realizadas em 1964, em meados da década de 70 e no final dos anos 90. Todas estas reformas mantiveram o layout original da praça, que consistia em uma marcante feição geométrica formada por duas quadras separadas por uma rua na parte central. A grande reforma de 2006, de autoria do arquiteto paisagista Haruyoshi Ono, preservou o tamanho original da praça, de cerca de 11.250 m², mas mudou completamente sua feição original, abolindo as duas quadras separadas pela rua, e incluindo pedras portuguesas no piso, um novo sistema de iluminação, uma pequena área comercial e um monumento metálico em homenagem aos heróis anônimos da Revolução Acreana. A maioria das árvores existentes na praça foi preservada.

 O resultado da mudança arquitetônica e paisagística foi positivo, mas a manutenção da praça é agora mais complexa, especialmente do piso e do sistema de iluminação. Passados mais de cinco anos da reforma, uma avaliação das condições qualitativas e quantitativas do componente arbóreo existente na praça foi realizada para verificar se o trabalho de manutenção da mesma tem sido suficiente para mantê-la em condições adequadas. A avaliação consistiu em um inventário de caráter quali-quantitativo do tipo censo de 100% das árvores existentes na praça quanto à condição geral dos indivíduos, posição e danos causados pelo sistema radicular, ocorrência de danos físicos externos no tronco e copa, necessidades de manejo e poda, e existência de área livre no colo das plantas.

 O resultado mostrou que existem na praça 200 indivíduos arbóreos, distribuídos em 38 espécies pertencentes a 20 famílias botânicas. Isso indica que cada árvore ocupa cerca de 56 m², um índice de densidade arbórea excelente, considerando que o recomendado é de pelo menos 1 árvore/100 m² para proporcionar conforto térmico adequado aos usuários. No que se refere à freqüência dos indivíduos arbóreos, apenas o ipê amarelo (Tabebuia serratifolia), com freqüência de 32%, apresentou índice superior a 15%, a freqüência máxima recomendada para qualquer espécie usada em arborização urbana tendo em vista que o cultivo excessivo de poucas espécies, além de contribuir para a monotonia estética da paisagem, tende a favorecer o aparecimento de problemas fitossanitários.

 Em relação à condição das árvores, a maioria está classificada como boa (74%) e se forem incluídas as classificadas como em condições satisfatórias (10,5%) temos que 84,5% das árvores avaliadas apresentam condições regulares. Dentre as 25 árvores cujo estado foi classificado como ruim, nove eram de ipê amarelo e correspondiam a indivíduos muito velhos, preservados por ocasião da última reforma da praça. 

 A avaliação da condição do sistema radicular das árvores indicou que a maioria era do tipo subterrâneo e não causava danos ao passeio. Isso é um reflexo da predominância, dentre os indivíduos arbóreos levantados, de espécies cujo sistema radicular é do tipo pivotante. Os indivíduos com sistema radicular superficial não causavam qualquer tipo de dano. Vale ressaltar que esta condição excepcionalmente favorável é resultado de uma seleção de plantas que foi feita por ocasião da última reforma da praça. Prova disso foi a ausência de indivíduos de benjamim (Ficus benjamina), uma espécie comumente cultivada em toda a cidade cujo sistema radicular causa danos sérios em calçadas e ruas. A eliminação dos indivíduos com sistema radicular capaz de causar danos ao passeio da praça da revolução foi uma necessidade tendo em vista que agora a maior parte da superfície pavimentada do local é composta por uma combinação de pedras portuguesas meticulosamente arranjadas e extremamente sensível a quelquer tipo de alterção em seu contrapiso.

  A maior parte das árvores avaliados (60%) não apresentava qulquer tipo de dano físico no tronco e na copa. Dentre os danos observados, prevaleceram os derivados de problemas fitossanitários (20,5%) e os causados por podas mal realizadas (11,5%). É digno de nota o baixo percentual de plantas danificadas por vandalismo (5,5%).

 Com relação à necessidade de manejo e poda, foi observado que a maioria das árvores (66%) não demandava tais práticas, um reflexo do excelente trabalho realizado por ocasião da última reforma realizada na praça. Dos 6% dos indivíduos avaliados que demandavam algum tipo de poda, 5% correspondiam a poda leve. Dentre as necessidades de tratos, foi verificado que 16% dos indivíduos avaliados necessitavam de cuidados fitossanitários em razão do ataques por brocas ou problemas de regeneração da casca nas regiões onde podas haviam sido realizadas recentemente. Das espécies que necessitavam ser removidas com reposição, o jambo (Syzygium malaccense) foi o caso mais emblemático pois dos sete indivíduos avaliados, quatro demandavam a remoção e posterior replantio. Esta situação não surpreende pois a espécie é, juntamente com a mangueira (Mangifera indica), uma das que produzem frutos muito buscados pelos frequentadores da praça. O resultado é a ocorrência de danos recorrentes às plantas que terminam por ameaçar a sua sobrevivência. Outro aspecto positivo decorrente da reforma da praça foi que a maioria das árvores (96%) possuem a base do tronco com amplo espaço para o desenvolvimento das mesmas.

 A conclusão da avaliação é de que a arborização da ‘Praça da Revolução’ encontra-se, sob todos os aspectos avaliados, em excelentes condições. Este resultado extremamente positivo pode ser creditado à reforma de cinco anos atrás, que eliminou ou corrigiu problemas recorrentes em arborização urbana, especialmente o cultivo de plantas com espaço insuficiente na base dos troncos e de espécies com sistemas radiculares que danificam as calçadas.

 Para capitalizar os resultados da reforma recente, a manutenção das excelentes condições da arborização da referida praça depende da administração municipal não negligenciar a realização de podas adequadas, tratos fitossanitários, remoção e substituição de árvores mortas ou comprometidas, e uma constante vigilância e conscientização junto aos freqüentadores da mesma visando a sua conservação.  

* Evandro Ferreira é Agrônomo e pesquisador do INPA/Parque Zoobotânico da UFAC.
** Vânia Soares e Ires Melo são Graduandas em Engenharia Florestal da UFAC.

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