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Hildebrando Pascoal se nega a fazer o exame grafotécnico

Idel22Portela diz que Hildebrando expõe 3 crimes em cartasO ex-coronel da Polícia Militar, Hildebrando Pascoal, se negou a colaborar na realização do exame grafotécnico, recurso necessário para que o Ministério Público do Estado do Acre assegure a autoria das cartas endereçadas à desembargadora Eva Evangelista e à procuradora de Justiça, Vanda Denir Milani Nogueira.

Diante da negativa do ex-coronel, a diligência do Ministério Público acionou a Secretaria de Estado de Polícia Civil, que garantiu a presença de um delegado para colher o depoimento do ex-militar, preso e condenado a mais de 110 anos de prisão.

O delegado convocado para fazer o interrogatório foi Kalesso Nespolli. Novamente, Pascoal se negou a colaborar. “Falarei somente em instâncias nacionais”, teria dito Hildebrando ao delegado. “Me reservo o direito de permanecer calado”.

As “instâncias nacionais” a que se refere o preso e que estão explícitas nas cartas são o Conselho Nacional de Justiça e o Conselho Nacional do Ministério Público. De acordo com a assessoria de imprensa do CNJ, não há previsão de vinda de nenhuma equipe do conselho ao Estado.

“Nessas cartas, há três crimes claramente expostos: são duas ameaças e uma extorsão”, detalhou o promotor de Justiça, Leandro Portela, coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado. Ele prometeu rigor. “Investigo tudo, doa a quem doer”.

Escritório do crime – O promotor questiona o tratamento dado pelo Governo do Estado a Hildebrando Pascoal. “Como pode um homem que está em um presídio de segurança máxima e vive como se estivesse em um escritório”, ironiza o promotor. “Há pessoas que fazem postagens de Sedex para ele. Quer dizer que ele tem office boy? Mas, que prisão é essa”, pergunta, em tom de indignação.

“Alguns já estão trabalhando na fazenda dele”
Uma diligência do Ministério Público investiga a possibilidade de que um dos dois presos beneficiados com prisão condicional estarem trabalhando na fazenda do ex-coronel da PM, em Senador Guiomard. “Alguns já estão trabalhando na fazenda dele”, apressa-se o promotor.

Existe a possibilidade de que Rainey Moreira, mais conhecido como Raine (lê-se Rainê) seja a pessoa que trabalha na fazenda do ex-coronel Hildebrando. Raine pertenceu ao Esquadrão da Morte liderado por Hildebrando, e cumpre pena em liberdade condicional.

A possibilidade de que Alberto Paulino da Silva, o Cabo Paulino, seja “funcionário” é remota, uma vez que cumpre pena em regime semi-aberto. O Cabo Paulino dorme todos os dias no quartel do Comando de Operações Especiais.

Carta endereçada para a OAB pode desvendar autoria
De acordo com o promotor de Justiça, Leandro Portela, em janeiro, uma carta escrita e assinada por Hildebrando Pascoal ao presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Florindo Poersch, pode ser peça fundamental para esclarecer a autoria das duas cartas endereçadas à desembargadora e à procuradora de Justiça.

O documento manuscrito por Hildebrando Pascoal ao presidente da OAB solicita um advogado para defesa. Esta carta já está anexada aos autos da investigação. “Visualmente, há semelhança”, compara Portela.

Qual a lógica de Hildebrando Pascoal?
Nas cartas destinadas à desembargadora Eva Evangelista e à procuradora Vanda Denir Milani Nogueira, o ex-coronel Hildebrando Pascoal faz acusações graves a respeito de fraude em concurso público envolvendo as duas autoridades do Judiciário.

A fraude, de acordo com a carta não assinada, beneficiaria a filha da desembargadora Eva Evangelista, na aprovação do concurso que selecionou Gilceli Evangelista como promotora do MP.
À época, Vanda Denir Milani Nogueira respondia pela procuradoria-geral de Justiça do Ministério Público e era cunhada de Hildebrando Pascoal.

Ano passado, Eva Evangelista trabalhou como juíza-relatora do processo que culminou com a cassação da patente de coronel de Hildebrando Pascoal. Desde então, o ex-coronel não recebe nenhum vencimento em sua conta bancária.

Hildebrando Pascoal sabe que virou um símbolo de tudo o que as instituições democráticas querem ver longe do cotidiano da república. Preso, condenado a mais de 110 anos de prisão, doente e com a patente de militar cassada pela Justiça, ele “não tem mais nada a perder”.

Da cadeia, causa desconforto justamente por aquilo que as instituições julgam ser ruim para a sociedade. Há técnicos do Judiciário acreano que asseguram: Hildebrando já atende às exigências para ser beneficiado com a liberdade condicional.

A promotoria, naturalmente, rechaça a tese. “Uma pessoa que tinha tudo a perder quando era deputado federal e fez o que fez, imagine agora quando ele não tem nada a perder”, sugere o coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado, Leandro Portela.

Quando Pascoal afirma que vai apelar para o CNJ e CNMP, na verdade, ele quer expor os problemas internos de instituições que lhe prejudicaram a vida. Até agora, o que depõe contra o ex-militar, além do currículo, é a falta de provas do que denuncia.

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